Capítulo 28

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Por mais de duas semanas o assalto à grana dos calouros e a pobre Nathália, encontrada morta há dois quilômetros dali, ficaram esquecidos pelos acadêmicos da Faculdade de Direito da Universidade de Brasília. E ninguém mais, além daqueles que perderam as identidades, as quais deveriam estar dentro do baú deixado às portas da 17ª Delegacia de Polícia Civil, pouco menos de quatro quilômetros de onde o crime ocorreu, preocupava-se se os responsáveis seriam ou não encontrados.

Então, naquela manhã de segunda-feira, todos foram surpreendidos ao chegarem ao campus. Os investigadores haviam cercado o prédio para, no auditório, onde tudo começara semanas atrás, interrogar os colegas da, como eles a classificavam, vítima de latrocínio, assalto seguido de morte. Um a um os ex-colegas de Nathália, calouros e demais acadêmicos daquela faculdade eram ouvidos e, claro, deixavam as impressões digitais e amostras de DNA para comparações com o que fora achado junto ao corpo.

No entanto, provavelmente, apenas procuravam pelo dono ou dona das digitais encontradas nas roupas chiques de Nathália.

Na semana anterior, entretanto, engana-se quem pensou que Thalita voltaria à faculdade para se sentar tranquilamente em sua cadeira diante dos professores ou que ficaria em casa choramingando. Não, às vésperas de ser apontada como principal suspeita, não poderia apenas esperar até que a polícia descobrisse seu envolvimento, ela precisava provar sua inocência.

A acadêmica de Direito, então, abrira sua própria linha de investigação, centrada, claro, em Bruno e Raul. Para sua frustração, entretanto, os dois veteranos que dividiram com a moça morta a organização daquele evento não retornaram à faculdade desde que sua parceira reaparecera naquela gaveta de isolamento biológico.

Em pouco tempo Thalita já conseguira recriar exatamente o que cada um fizera, desde o término do recrutamento dos "bichos", no primeiro dia de aula, até o momento em que ela encontrou Nathália naquele refrigerador. Havia um hiato, contudo, na manhã em que ela fora envenenada.

Nenhum dos suspeitos esteve na faculdade do período em que supunha ter sido atacada ou mesmo durante sua reclusão no banheiro. Claro, tal fato apenas se mostraria relevante se ambos os crimes estivessem interligados, como sua hipótese principal sugeria.

Outra personagem importante no crime que também estivera ausente nesse meio tempo específico fora a vítima, aliás, ela não aparecia nas aulas já havia algum tempo.

Conforme, Ana Raquel, a moça das assinaturas e que se dizia a melhor amiga de Nathália, a vítima estaria participando de um congresso de Direito Penal no Rio de Janeiro naquela semana, viajara logo após deixar o auditório na manhã do trote. Ela deveria voltar à faculdade na segunda-feira seguinte, entregar seu relatório do evento ao coordenador da faculdade, o que nunca aconteceu, e, uma semana depois, viajar à São Paulo para outro congresso, o qual ainda estava acontecendo quando Thalita conversou com Ana Raquel.

A veterana confidenciou ainda que Nathália e Bruno tiveram uma discussão em frente ao prédio da faculdade, pouco antes de a conferencista entrar no táxi que levaria ambos ao aeroporto. Para Ana Raquel, o motivo foi por causa da reação da moça diante da teimosia de Thalita.

Mesmo não presenciando a briga, Ana Raquel garantia de fonte segura que Nathália havia esbofeteado o rapaz antes de entrar no carro, sozinha.

— Dizem que eles eram amantes, mas eu acho que não — reafirmou a veterana, quase sussurrando. Thalita nunca foi muito fã de fofocas, mas precisava fingir interesse, pois qualquer boato poderia colocá-la no caminho certo. Ainda mais que muito do que fora dito ali não se encontrava no relatório em seu smartphone. — Sabe, o Bruno namora a filha de um deputado, ela esteve aqui umas duas vezes, é bem novinha, deve estar no ensino médio ainda. — Tudo bem, isso estava nos autos, por isso Thalita já sabia que eles haviam se conhecido quando ambos participaram do projeto Jovem Senador, dois anos antes. Ela, natural de Brasília, enquanto Bruno morava em Cianorte, no Paraná, na época, mas nascera em Tamboara, no mesmo estado da Região Sul do país. Provavelmente por causa da namorada ele escolhera o Distrito Federal para cursar o ensino superior. Ele entrara pelo Enem, no entanto, Direito era sua segunda opção no Sisu, a primeira fora Relações Internacionais. Ficou na lista de espera para os dois cursos, matriculando-se no primeiro que o chamara. O apartamento onde mora, no Centro, está alugado no nome do deputado, pai de sua namorada, Alice, agora com dezessete anos. Por isso Thalita duvidava do caso dele com Nathália, mas, se assim fosse, haveria ali um motivo bem maior para o crime: evitar perder a namorada influente e, ao mesmo tempo, ser despejado. Nada podia ser desconsiderado — Bruno a carrega por aí como um troféu — continuou a veterana — e ela gosta, afinal, namora um cara da faculdade. Que garota do Ensino Médio não gostaria?

O troteWhere stories live. Discover now