«Tortura»

Chapter 25

- De certeza que isto vai dar um bolo? -Perguntei enquanto, como Will me indicara, mexia os ingredientes que, também com a ajuda do Will, coloquei na taça com o objetivo de fazermos um bolo para Jefferson. Queria agradecer-lhe por ter feito tanto por mim e Will disse que podia me ajudar a fazer uma das suas sobremesas favoritas.

- Absoluta! -Ele retorquiu firmemente rindo às minhas inúmeras e idênticas perguntas. Ele olhava para o tal 'brigadeiro' que estava a mexer para que mais tarde pudessemos colocá-lo em cima do bolo. Will informou-me de que ia ficar uma delicia mas como hei-de saber?

- Alguma vez fizeste isto? -Questionei observando aquela pasta de forma atenta e curiosa. Mas nunca que aquilo iria dar um bolo no final! Comecei a pensar que Will estava louco por acreditar nessa realidade.

- Já, imensas vezes! O Jeff e o Carl adoram os meus bolos! -Ouvi-o gargalhar e não pude evitar em soltar um doce sorriso por o ouvir daquela maneira. Adorava ouvir a sua gargalhada. Era tão fofa e delicada.

- Agora sinto-me pressionada. -Ri ouvindo novamente ele a gargalhar. Ele realmente despertava em mim uma felicidade imensa. Mas não tão imensa como quando estou com Jefferson.

- Então Mel.. O que achas do Jeff? -Assim que o rapaz me veio à memória um sorriso rasgou-se nos meus lábios. Jeff fazia-me sorrir. O que acho do Jeff? O que é suposto eu achar do Jeff? O Jeff é.. O Jeff..! Que mais há para achar?

- Ele é simpático.. -Permanecia com um doce sorriso estampado nos meus lábios. Não fazia ideia do que era pretendido pelo Will com aquela pergunta.

- Oh, isso eu sei.. -Novamente uma gargalhada proveniente dos seus lábios ecoou pela cozinha suavemente. -Ele é assim naturalmente.. -Então realmente, ele era mesmo simpático. Mas também era carinhoso, querido, doce e especialmente importava-se comigo como nunca ninguém se importara. E isso conta muito.

- Então qual o teu objetivo com tal pergunta? -Questionei de forma confusa e passei o dedo lentamente na tal pasta cor-de-laranja lambendo o dedo lentamente, apenas para provar. Sim, estava uma delicia, mas ainda não acreditava que aquilo podia se tornar num bolo. -Sê direto no que queres saber..

- Bem.. -Ele começou a dizer mas, a minha figura com uma colher na mão que continha uma pequena porção do 'bolo' colocou-se à sua frente quase que obrigando-o a provar para que ele me dissesse se estava bom ou não. Assim que ele comeu lentamente assentiu como sinal para que eu passasse para o passo seguinte, ou seja, colocasse a massa na forma já untada para que esta fosse ao forno. Eu estava mesmo a aprender imenso. -Gostas dele? -Acabei por ouvir. Claro que eu gosto dele!

- Gosto, ele é o meu único amigo, para além de ti e do Carl.. -Comentei sorrindo pela minha frase. Eu finalmente tinha amigos. Só não percebia bem o que Will queria dizer com esta pergunta.

- Não como amigo, como namorado! -Namorado? O que é suposto ser um namorado? Desmond disse que um namorado é um homem que me faz coisas que outros rapazes não fazem. Desmond disse que era meu namorado... Mas se todos os namorados fossem assim, porque raio o namoro sequer existiria?

- Namorado? -Virei rapidamente o olhar para Will, ligeiramente surpresa pelo que ele me pedia. -Porque haveria de querer que ele fosse meu namorado? -Perguntei parando de deitar a massa para a forma.

- Porque.. Para vocês ficarem juntos para sempre? Não sei.. -Os seus ombros encolheram levemente. Tenho a certeza de que ele não tinha uma resposta para o porque de as pessoas namorarem. Notava-se pela sua maneira de estar pensativo.

- Eu gosto muito do Jeff mas não vejo razão nenhuma para namorarmos. -Disse calmamente encolhendo os ombros de maneira a imitar o gesto dele.

- Ele também gosta de ti! -Não pude evitar em sorrir ao ouvir a sua afirmação. Só de saber que Jeff gosta de mim, a minha barriga começa a andar às voltas, talvez de nervosismo. Mas um nervosismo bom, nada comparado com aqueles que tinha aos sábados com Desmond.

- Will, eu não entendo os namorados quer dizer, Desmond disse que um namorado era um rapaz que me fazia coisas que outros não faziam, ele disse que eu e ele éramos namorados e.. -Antes que eu pudesse concluir a frase fui cortada por Will que me falava com uma expressão surpresa e talvez indignada.

- Mel nem me digas uma barbaridade dessas! Desmond era o teu raptor, o teu dominador entendes? Um namorado é alguém que te trata bem, que te dá carinho, amor, que te faz sorrir e está sempre lá para quando chorares. Um namorado é alguém que te ama, é alguém que tu sabes que podes contar e que também pode contar contigo, não penses que todos os homens são maus apenas baseada em um.. -Pousei a bacia dentro do lavatório e soltei um prolongado suspiro ao ouvir as suas sábias palavras. Eu tinha tanto para aprender, tinha tantas ideias na minha cabeça que não eram verdade e que tinha de me aperceber em quais acreditar e quais deixar para trás. Só fico feliz em ter pessoas como o Will, o Jeff e o Carl para me ajudarem.

- Então malta, como vai isso? -Carl disse da porta da cozinha fazendo-me virar o corpo para ele de forma exaltada. Eu assusto-me facilmente e, apesar de ter boas razões para isso, gostava que não fosse assim.

- Mais quarenta minutos e o bolo está quentinho.. -Will completou ao desligar o fogo da panela que tanto ele mexia para a cobertura da nossa obra de arte.

- Tanto tempo.. -O seu corpo sentou-se na cadeira da mesa esperando impaciente.- Então Mel, estás a gostar de aqui ficar? -Perguntou-me novamente sorrindo de forma descontraída e divertida.

- É perfeito. -Sorri-lhe de forma doce agora menos exaltada do que estava na sua chegada.- Nunca pensei estar num lugar assim.. -Andei calmamente até ele e sentei-me ao seu lado ainda com um sorriso estampado nos lábios enquanto Will tratava de colocar a forma prateada no forno para que "a magia acontecesse".

- Ainda bem que gostas Mel.. Quero que conheças uma pessoa. -Novamente ele sorriu de forma estúpida (como sempre) e a sua mão foi de encontro à minha acariciando-ma calmamente. Apesar de Carl e Will me fazerem sentir bem, nada se compara ao que Jeff me faz sentir. Será que é isso que Will quereria dizer com 'gostar dele'?

- Quem é? -Olhei-o com um sorriso divertido nos lábios, sempre que ele sorria eu tinha vontade de rir. Ele tinha um sorriso e um jeito de ser e falar cómicos. Ele era uma pessoa cómica.

- A minha namorada. -Ele novamente sorriu e logo uma rapariga alta, esbelta, loira e absolutamente linda entrou pela cozinha adentro na sua roupa larga mas estilosa. De uma certa maneira ela me intimidava, mas parecia não se importar em ver-me a mim e a Carl de mãos dadas em cima da mesa.

- Olá, sou a Elizabete.. -Ela disse-me sorrindo de forma superior e eu apenas me levantei de forma timida estendendo-lhe a mão como forma de cumprimento ao que ela retribuiu ainda com o mesmo sorriso idiótico estampado nos lábios.

- Melody.. -Murmurei ainda envergonhada mas ainda assim soltei-lhe um doce sorriso. Não queria nem precisava de alguém que me odiasse e, honestamente, não sabia como agir perto de raparigas.

Ela parecia do tipo de se achar superior a todos e isso, de uma certa forma, amedrontava-me. Sentia que ela queria saber todos os meus segredos apenas pela maneira que me olhava mas, ao menos que Carl lhe conte, não vejo maneira de ela sequer imaginar algo como o que me acontecera.

Will calmamente fechou o forno e, sem dar nenhum sinal ou explicação, saiu da cozinha. Ele não parecia contente em tê-la aqui, talvez ela tenha feito mal ao Will de alguma forma. Ela pode ter lhe traído a confiança. Será? Poucos segundos depois da apresentação o telemóvel da rapariga tocou, ela recebera uma mensagem.

- Amor, desculpa mas eu tenho mesmo de ir sim? -Ela lamentou-se a Carl e depositou um suave beijo nos seus lábios.

- Depois vem jantar cá a casa sim? -Elizabete anuiu e, sem mais dizer uma palavra saiu da casa sem sequer me acenar um adeus ou coisa parecida. Esta rapariga tinha alguma coisa que não me agradava..