Chapter 30

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- Ele não te vai fazer mal! -Will insistia.

- Ele está aqui! -Apertei ainda mais os meus joelhos contra o meu peito fechando os olhos com alguma força.

- Nós estamos aqui também, não vamos deixar que ele te faça mal! -Carl continuava.

- Ele voltou! Eu sabia que ele ia voltar! -O desespero parecia tomar conta do meu corpo todo, parecia não haver mais nada nos meus pensamentos pra além de Desmond nem mais nada no meu estômago do que um nó. Medo. Era medo que eu sentia.

- E vai-se embora num instante, vais ver.. -Voltei a ouvir palavras de conforto provenientes de Wilson. Ele acariciava as minhas costas de uma forma calma e doce. Estava a tentar reconfortar-me. Não estava a resultar.

- Eu sei que não vai! -Berrei erguendo-me do sofá num movimento brusco e repentino. Carl levantou-se num sobressalto tal e qual o meu, só que foi de susto. -Ele vai-me perseguir até me apanhar outra vez e vai fazer a minha vida negra, ele vai matar-me quando me levar novamente.. -Respirei fundo. Não conseguia manter as minhas inspirações regulares. Começava a não conseguir inspirar. Sentia-o observar-me. A porta abriu. É ele. O meu reflexo foi gritar e esconder-me atrás do corpo de Carl.

- Hey, calma.. É só o Jeff.. -Will acalmou-me e eu espreitei pelo ombro de Carl, era mesmo Jeff.

- Jeff.. -Choraminguei e fui a correr ter com ele, abraçá-lo. Mas ele não me abraçou. Vinha com uma maleta preta na mão e nem sequer me reconfortou quando necessitei. O que se está a passar com ele?

- Amor, tenho aqui a solução dos teus problemas! -Ele parecia entusiasmado. Nem um pouquinho incomodado por aquelas fotos todas estarem ainda na nossa bancada da cozinha. Will apercebeu-se da grande recusa que Jeff havia acabado de me dar e, mais uma vez, veio reconfortar-me. Acariciou os meus braços apertando-me contra o seu peito.

- O que é? -Carl perguntou aproximando-se da misteriosa maleta. Deitei a cabeça no peito de Will com a face virada para a maleta. Estava curiosa, mas estava com medo do que quer que poderia sair dali de dentro. Seria outro computador super moderno? É que eu tenho quase a certeza que não preciso de um desses neste momento.

- A minha nova bebé. -Com o seu sorriso pretensioso e orgulhoso ele abriu a maleta e sacou de dentro do veludo negro uma caçadeira. Senti o meu corpo estremecer. Will sentiu também e apertou-me contra ele. Quem era o meu namorado? -Esta pequena semi automática, remington modelo 1100 vai mandar os teus problemas pelos ares pequena. -Ele sorria. Como ele conseguia sorrir?

- O que planeias fazer com isso? -Will perguntou. Pude sentir a sua respiração sob a minha face. Fechei os olhos. O que Jeff estava prestes a fazer? Ele queria matar Desmond, já haviamos conversado sobre isso, já o havia tentado impedir mas ele não me ouvia. Queria tanto proteger-me que nem se importava com aquilo que eu dizia.

- O que achas? Vou matar aquele desgraçado! -Ele disse alto observando e analisando a caçadeira na sua mão enquanto arranjava maneira de a carregar. Abri os olhos e larguei-me de Will. Tinha de convencer Jeff a desistir da ideia.

- Não Jeff, por favor, vai por isso onde achaste.. -Pedi baixando o cano da arma calmamente e encarando os seus olhos tentando, de alguma forma, que ele visse a dor que me estava a causar quando falava e agia daquela maneira. Sim. Sou uma pessoa terrível mas, há males que vêm por bem.

- Não foi achado, foi comprado. Mel, não estás feliz? Eu vou mandá-lo para longe.. Para sempre! -Ele pareceu nem querer saber o que estava nos meus olhos. Ele pareceu nem querer saber o que estava em mim. Ele parecia obcecado. Estava a começar a assustar-me a sério.

- Não quero isso, podes ser julgado de homicídio! Vais para a prisão Jeff! O que que é suposto eu fazer aqui fora sem ti? -Segurei na sua face com ambas as minhas mãos e obriguei-o a olhar para os meus olhos. Obriguei-o a ver o que ele não queria ver. O medo. O medo que eu sentia e a dor que me estava a ser causada. Ele magoava-me ao agir de forma tão violenta. Acho que já tive violência suficiente para uma eternidade, obrigada.

Ele ficou calado por um tempo. Encarou os meus olhos.

- Pelo menos o Desmond já não te chateará.. -Agora a sua voz parecia mais condescendente. Parecia mais calma. Mais baixa e menos revoltada. Ele só queria o meu bem.

- Não estás a pensar direito, por favor, pára.. Eu amo-te.. -Implorei. Era a primeira vez que eu realmente dizia isto e, talvez a primeira vez que realmente me apercebi de que o sentia. Jeff é uma grande parte da minha vida, ele salvou-me, literalmente. Ele devia ser capaz de me ouvir e perceber.

- Eu também te amo, é por isto que faço isto! -Abanei a cabeça na negativa, calmamente.

- Se me amasses tanto quanto dizes ouvias-me, respeitavas a minha decisão. Não quero mortes, Jeff.. -Murmurei tentando fazer um ar cada vez mais magoado.

- Não. Pára. Não faças isso. -Ele disse rouco e brusco afastando o seu corpo do meu começando a preparar a arma. Nem sequer para me encarar ele tinha tomates suficientes.

- Isso o que? -Questionei. Eu sabia o que era. Aquela minha expressão magoada sempre o irritou até aos miolos.

- "Se me amasses..".. E essa cara.. Pára Melody, tu bem sabes que eu te amo! Tu sabes que eu preciso de ti sã e salva, és a minha vida porra! -Baixei o olhar para os meus dedos começando a brincar com os mesmos. Não sabia bem o que dizer. Ele diz a verdade. Eu vejo que ele me ama. Eu sinto que ele me ama. -E eu vou matá-lo. Vou para lá imediatamente, nem penses que ele vai sair impune com isto! 

- Por favor, não te quero perder.. -Aproximei-me novamente dele e pousei a minha mão sobre a sua. Ele parou de mexer na arma e virou novamente para mim.

Permanecemos nesta posição durante algum tempo. Ele sorriu-me docemente, guardou a arma na mala e pegou nas minhas mãos depositando um calmo e apaixonado beijo em cada uma delas. Elevou a mão à minha face e puxou-me para si unindo os nossos lábios num beijo, calmo. Logo que nos separamos senti o seu polegar acariciar a minha bochecha.

- Não é a mim que vais perder.. -Ele sussurrou sorrindo e virou-se, pegou a mala e caminhou para fora de casa sem mais nada dizer. Ele ia atrás do Desmond. E não fazia a minima ideia do que eu pudesse fazer para o impedir.

«Tortura»Where stories live. Discover now