Chapter 26

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Jefferson tem andado estranho, ele tem-me evitado, tem recebido mensagens no telemóvel que o incomodam e que parecem ter tamanha importância que ele simplesmente levanta-se e retira-se da mesa sem explicação nem desculpa. Tenho medo que lhe esteja a acontecer algo de mau e que ele não me esteja a contar. Ele deveria confiar em mim, será que confia?

Uma rapariga com uma amazing crush no Will vem cá todos os dias para o chatear, ele disse que ela já tinha parado mas que recentemente recomeçou enquanto que a namorada de Carl também tem vindo com muito mais frequência.

Neste último par de semanas já levei com diversas promessas de que iria sair, conhecer a cidade e jogar bowling mas essa realidade parece nunca mais chegar.

Neste momento, estou sentada à mesa de jantar na outra ponta da tal rapariga, julgo chamada Carla, que tem a crush no Will. Estávamos nos extremos da mesa. Do meu lado direito tinha Carl e Elizabete sentados juntos, felizes enquanto que do meu lado esquerdo tinha Will, mais próximos de mim e ao lado de Will estava Jefferson, mais distante de mim. Todos pareciam felizes, todos menos Jefferson, ele parecia preocupado.

Todos falavam, todos se intrometiam nas conversas de todos e todos pareciam felizes. Mas mais uma vez, todos menos Jefferson. Eu queria tanto saber o que se passava na cabeça dele, mas tinha medo de que ele pudesse pensar que me estou a intrometer nos seus assuntos.

- Então Melody.. -Ouvi a voz de Elizabete a dirigir-se a mim e assim que o meu olhar a alcançou esbocei um leve sorriso- És de onde? -Fiz uma breve pausa para pensar na minha resposta.

- Honestamente, não sei. -Ela fez uma expressão ligeiramente confusa mas ainda assim não pareceu dar muita importância a isso.

- Tens irmãos? -Novamente ela perguntou.

- Não sei.. -Encolhi suavemente os ombros trincando o interior do meu lábio ainda um pouco nervosa pelas perguntas que viriam a seguir.

- Pais? -Um silêncio acomodava a mesa, parecia que todos tinham uma extrema curiosidade na conversa entre mim e a rapariga.

- Quem me dera saber.. -Suspirei enquanto completava esta frase e logo dei outra garfada na massa que havia sido preparada para o jantar.

- Não sabes nada sobre ti? Sobre as tuas origens, a tua família..? Nada? -Engoli em seco tentando conter as lágrimas que ameaçavam cair dos meus olhos e calmamente neguei com a cabeça sem erguer o olhar para a rapariga.- Não tens curiosidade? -Ela parecia surpresa com as suposições que estava a tentar tomar sobre mim.

- Tu não sabes nada.. -Murmurei calmamente elevando o olhar para a tal rapariga que agora revelava ser uma completa idiota.

- Beta, deixa-a em paz. -Carl repreendeu as ações da rapariga mas ela nem sequer lhe deu ouvidos.

- Bem, sei que pareces não estar a fazer nada para descobrir quem és. -A sua indignação incomodava-me a sério os pensamentos, ela estava completamente revoltada.- E isso incomoda-me.

- Incomoda-te porque? Tens pena de mim é isso? Bem, obrigada mas eu não quero a tua pena. -Disse da forma mais seca possível e, com estas palavras ela pareceu calar-se. Por fim, paz. A mesa toda estava em paz. Ou seria aquele silêncio mais cortante para os outros do que realmente estava a ser para mim?

- Eu posso te ajudar. -Carla interrompeu aquele silêncio incômodo que pairava na mesa. -Só preciso do teu nome completo e posso aceder aos registos do hospital e ver como se chama a tua mãe, a partir daí é sempre a descobrir.

Eu olhava-a atenta enquanto ela dizia estas palavras. Ela realmente estava a oferecer-me ajuda? Ela realmente estava a ofecerer-se para 'arrombar' os ficheiros do hospital para ver quem me pariu há dezasseis anos atrás? Que querida.

- Farias isso por mim? -Sorri de lado pela sua ação e ela assentiu retribuindo o sorriso que eu lhe tinha lançado.- Então sim, eu aceito a tua ajuda.. Obrigada, muito obrigada sim?

- Não agradeças ainda.. -Antes que a rapariga pudesse acabar de dizer o que ia para dizer, Jefferson cortou a sua fala com a queda dos seus talheres sobre o prato o que causou um barulho estridente por toda a sala de jantar.

- Melody posso falar contigo um segundo? -Todos pararam de comer e viraram os olhares para ele e para mim. Eu não conseguia falar, talvez eram os nervos a subirem à tona mas eu apenas assenti, nem um som foi pronunciado.

Levantamo-nos e retiramo-nos da presença dos nossos amigos para a sala.

- Sobre o que queres falar comigo? -Olhei-o atentamente batucando os meus dedos uns nos outros, o nervosísmo atacava-me o interior e rasgava-me a possibilidade de controle sobre mim mesma.

- Tu.. Eu.. -Ele estava tão nervoso quanto eu mas ainda assim ele era capaz de fazer mais do que eu. A sua mão estendeu-se suavemente e pegou na minha puxando o meu corpo mais para junto de si.

- Sim..? -Murmurei tentando dar continuidade à sua fala. Ele não parecia estar com muita coragem para dizer o que quer que quisesse dizer naquela altura. Enquanto os nossos olhos se encaravam ele ergueu a sua mão para a minha face e suavemente me acariciou a bochecha. A minha barriga enrolou-se num nó.

- Nós devíamos estar juntos.. -Um sussurro finalmente soou dos seus lábios e tais palavras me levaram a paralizar.

- J-juntos? Como assim? -Gaguejei ligeiramente ao aperceber-me do assunto a que ele se referia. Merda. Será que ele me ia beijar? Oh deus, quero mesmo que ele me beije. Porra.

- Juntos.. Em vez de sermos apenas eu ou apenas tu.. Deveríamos ser um 'nós.. -Ele estava a ser realmente querido naquelas palavras, via-se que ele havia pensado nestas coisas afinal, parecia ter sacado a sequência de palavras mesmo da sua manga.

- Eu não sei fazer parte de um 'nós'.. -Sussurrei triste. Era verdade. Eu queria saber. Neste momento apenas desejei já nascer aprendida ou ter lido um manual de instruções do tipo 'Como fazer parte de um "nós".' Mas parece que é tarde demais para aprender.

- Isso quer dizer que não queres? -A sua expressão pareceu cair completamente e eu acenei rapidamente na negativa.

- Quero! Quero mais que tudo fazer parte de um 'nós' contigo mas.. E se eu falhar? E se eu não for capaz de cumprir a minha parte neste 'nós'? Eu quero que haja um 'nós' mas.. Não quero que deixe de existir.. -Murmurei sentindo as minhas mãos tremerem ligeiramente. Eu estava a declarar-me para o rapaz que me salvara. Não foi nem perto do que eu pensei que seria. Sentia-me muito mais nervosa.

- Se tu falhares eu perdoo-te Melody e acredita quando eu te digo que não é a minha intenção que deixe de existir um 'nós'. Por favor. Diz que sim. -Trinquei o lábio suavemente podendo observar a esperança reaparecer na face do rapaz que eu.. Que eu amo. SIm. Eu amo-o.

- Eu.. Sim. -Um sorriso rapidamente se rasgou nos seus lábios e logo em seguida o mesmo aconteceu com os meus. Eu amava-o e, mesmo que ele não gostasse tanto de mim, gostava o suficiente para ser meu. Todo meu. Apenas meu.

Sem que eu tivesse oportunidade de dizer mais nada os seus lábios se colaram aos meus e calmamente se moveram. Se tive medo de não saber o que fazer? Tive. Mas logo que me deixei levar, foi como andar. Nem sequer tens de pensar para o fazeres. A minha vida estava completamente perfeita nesta altura. Nada a poderia estragar. Nada.

«Tortura»Onde as histórias ganham vida. Descobre agora