Chapter 28

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- Ainda não a consegui acalmar.. Desde que ela leu aquela mensagem ela tem estado assustadiça.. -Dizia ao Will calmamente. Sentia-me preocupado com ela. Desmond parecia estar cada vez mais próximo e eu não sei se serei capaz de o impedir de a levar.

- É natural Jeff, ele é o maior pesadelo dela, é normal que se assuste.. -Suspirei olhando para o meu café e mexendo suavemente a caneca de forma ao liquido rodar no seu interior. Agora ela estava calma porque estava a dormir mas temia que ela tivesse um pesadelo. Mais um.

- Estava tudo a correr tão bem e depois este idiota tem de voltar a assombrá-la! - Estava revoltado. Porque que tudo tem de desmoronar? Ela estava a ir tão bem, estava a soltar-se e a deixar-se ir pela vida. Estava a deixar-se levar por mim. Estava a deixar-me amá-la e cuidar dela.

- Jeff, calma.. - Carl tentava me acalmar. Eu precisava era de uma cerveja e não de um café. Mas a última vez que ela sentiu o cheiro de cerveja não reagiu muito bem. Dise que Desmond, maior parte das vezes que abusava dela, cheirava a alcool. Caralho bêbado.

- Calma? Eu teria calma se ele não existisse mais. O Kaleb disse que ia tomar conta dele, que ia matá-lo e dá-lo de comer aos peixes e nada! Onde é que aquele idiota se meteu? Ele disse que se importava! - Mandei um murro ao topo da mesa tentando aliviar toda a raiva que eu continha em mim. Kaleb havia mentido. Ele disse que mataria o Desmond mas parece que apenas fugiu. Filho da puta.

- Jeff, entende que essas coisas levam tempo. O Kaleb pode estar à procura dele do outro lado do país e ele pode estar aqui! Ele não tem culpa! Desmond escapou durante dezasseis anos de ser pego por rapto e abuso de menores, achas que ele não tem experiencia no que toca a fugas? - Era verdade. Will tinha razão. Will tinha sempre razão, ele era muito esperto. Teve razão quando disse que eu e Melody nos iamos dar bem. Agradeço-o por me ter incentivado a avançar.

- Eu entendo.. Só não sei se aguento vê-la tão assustada.. -Refleti por uns segundos em silêncio enquanto encarava atentamente o café na minha chávena- Eu amo-a.. -Acabei por murmurar num suave suspiro. Eu amo-a. A sério que amo.

- Se ele aparecer nós estaremos cá para a protejer ok? Não te aflijas.. -Carl tentou me confortar mas eu apenas lhe respondi com um humilde sorriso. Não tinha muito mais que dizer. Estava capaz de matar Desmond se ele me aparecesse à frente por um segundo que fosse.

- Está bem então, vou ver se ela está bem.. -Soltei novamente um pequeno e doce sorriso aos meus amigos tomando o último gole presente na chávena e encaminhando o meu corpo para o quarto onde Mel estava a dormir pacificamente, esperava eu.

Nunca pensei que chegasse a este ponto. A temer pela vida da minha namorada. A temer perdê-la, mas não para outro homem, mas sim para a morte afinal, eu tinha a certeza que se Desmond a encontrasse matá-la-ia sem pensar duas vezes. Ela sabe demais sobre ele. Ele, sendo esperto como é, não iria arriscar ir para a prisão. Os pedófilos acabam sempre mortos na prisão.

- Mel? -Sussurrei abrindo lentamente a porta e espreitando para dentro do quarto. Levei o meu olhar à cama esperando encontrar a minha piquena a dormir serenamente entre os lençóis mas não. A cama estava vazia e desfeita. Olhei em volta para o quarto esperando encontrá-la talvez olhando-se ao espelho ou a pentear o seu cabelo como ela tanto gostava de fazer para se acalmar. Mas nada.

Ela não estava no quarto e a janela estava aberta. Um arrepio percorreu a minha espinha com a possibilidade de rapto ou suicidio talvez. Caminhei até a janela num passo rápido e olhei para baixo. Não. Ela não se matou. Rapto? Será que ele apareceu e levou-a num momento da minha distração? Não, como ele a levaria à força através desta janela? É demasiado alto para subir sem deixar rasto ou sem fazer barulho.

Cesa estás aqui? -Chamei-a alto e desloquei-me até a sua mesinha de cabeceira para tentar encontrar a minha arma, caso ele realmente estivesse ali, mas a arma havia desaparecido. O meu revólver 38 magnum desapareceu. Agora eu sabia que realmente se passava alguma coisa. - Melody, por favor responde se me ouvires..

- Aqui.. -A sua voz tremida fez-se ouvir da casa-de-banho e eu, burro por não ter pensado antes nessa localização, corri ao seu encontro. Abri a porta e deparei-me com uma imagem que ninguém nunca haveria de querer ver. Especialmente envolvendo a pessoa que ama.

Melody estava ali, de pé na banheira, com a arma apontada à sua cabeça. Ela queria suicidar-se. Ela estava prestes a suicidar-se à minha frente. Com o dedo no gatilho e o cano da arma na cabeça, ela deitava diversas lágrimas.

- Desculpa.. -Ela tremelicou olhando-me diretamente nos olhos fungando diversas vezes. -Eu não aguento mais, ele.. Ele está perto, eu sinto-o a observar-me Jeff.. -Pude reparar no quanto as suas mãos tremiam pela irregularidade que o cano da arma tomava na sua testa.

- Piqui, por favor.. Não faças nada precipitado, imploro-te.. -Estiquei as mãos na sua direção e comecei a dar lentos passos aproximando-me dela tentando estar a uma distância aceitável para impedi-la de fazer o que quer que fosse.

- Que diferença é que faz? Eu deixo de ser um encosto para ti, tu podes seguir a tua vida sossegado, com uma rapariga normal.. -Ouvia o desespero na sua voz e doía-me. Era terrível ver qualquer rapariga assim, mas ver aquela que eu amo assim é dez mil vezes pior. Eu nunca pensei que ela se sentisse assim.

- Tu não és um encosto para mim Mel, ouve bem o que eu te digo, tu és tudo pra mim princesa.. -Tentei convencê-la a deixar esta ideia estúpida de lado mas ela não parecia ouvir-me. Ela parecia estar cada vez mais convencida de que ela não prestava para mim.

- Eu sou. Por favor, deixa-me acabar com isto em paz, sozinha! -A sua voz elevou-se e eu acenei na negativa. Estava quase à sua frente neste momento e os nossos olhos não desviavam de direção focados apenas e unicamente um no outro.

- Mel, eu amo-te, não me deixes princesa.. Peço-te.. -O nervosismo estava a apoderar-se de mim e o meu coração batia depressa. Aliás, era a única coisa que eu ouvia na altura, o meu coração. Batia de forma forte e potente, a adrenalina quase que era em demasia para o meu organismo aguentar.

- Amas? -Ao ouvir esta palavra ela pareceu acalmar-se. Ela não sabia que eu a amava.

- Amo muito. Por favor, dá-me a arma.. -Estendi-lhe a mão calmamente. Ela ponderava. Olhava para a minha mão, olhava para os meus olhos. Pude reparar no desespero a desaparecer gradualmente dos seus olhos conforme os segundos passavam e a esperança crescia em mim.

O revolver foi lentamente pousado na minha mão e, assim que o senti sobre a minha palma, lancei-o para o outro lado da casa-de-banho e puxei-a para os meus braços apertando-a contra o meu peito. Só o pensamento de a perder deteriorava-me por dentro.

- Eu amo-te muito Mel.. -sussurrei beijando o topo da sua cabeça. O seu corpo soluçava por entre os meus braços. Merda. Ela sentia-se sozinha por causa da minha cobardia de dizer isto mais cedo. Ela era tudo pra mim e eu nem tive tomates para lho dizer. E ela quase pôs uma bala na sua cabeça por causa da minha cobardia.

- Eu amo-te tanto que até dói Jeff.. -Um trêmulo murmuro saiu pelos seus lábios e eu fechei os meus olhos tentando que ela se sentisse o mais segura possível.

- Podes ter a certeza de que eu não vou deixar o Desmond te levar outra vez está bem? -Ela assentiu calmamente contra o meu peito. Estava decidido. O Desmond tinha de morrer. E era eu quem o ia matar.

Se queres algo bem feito, fá-lo tu próprio.

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