Chapter 7

6.8K 411 32
                                    

«- Melody! -ouvi chamarem-me da entrada da tal sala onde eu me encontrava o que me fez levantar o olhar rapidamente.

- Jefferson?! Como entraste aqui? -sentia-me espantada, surpresa, alegre, era um misto de emoções a explodirem dentro de mim! Por um certo lado tinha medo por ele estar ali afinal, havia-se passado uma semana desde que eu o vi pela primeira vez e desde então Desmond havia como que 'contratado' um outro rapaz para tomar conta de mim. Surpreendia-me o facto de ele conseguir ter passado por ambos.

- Eu.. -a sua frase foi interompida por um barulho alto e rápido que me fez guinchar de susto e medo. Sem perceber o porque, vi a face de Jeff ficar pálida e a sua expressão rígida e logo, o seu corpo caiu para a frente de joelhos e em seguida deitou-se por completo no chão revelando por detrás dele uma figura, era o tal rapaz contratado, Kaleb, com uma arma apontada a ele.»

Rapidamente acordei e olhei em volta, a suar, a tremer, ofegante e tinha o Kaleb na porta a fixar-me atento. Fora um sonho. Fora tudo um sonho. Bem, pelo menos ainda tenho sonhos mas nem mesmo neles a liberdade é me concedida.

- Outro pesadelo? -Kaleb perguntou-me com uma voz seca e fria. Desde que havia chegado que me observava a dormir, eu sempre tivera pesadelos, diversos até entretanto tornaram-se mais frequentes desde que o Jefferson e os amigos prestaram a sua pequena visita. Ele aproximou-se de mim e agaichou-se ao meu lado, um pequeno e pontiagudo objeto entrou na minha pele do braço e senti um líquido a queimar-me por dentro. Não era frequente isto acontecer, mas eles por vezes davam-me destas coisas. Eles chamavam-lhes 'vacinas'.

Calmamente assenti à pergunta de Kaleb encolhendo-me mais no meu canto, tinha o corpo todo dorido. A noite passada havia sido turbulenta e dolorosa. Desmond e Kaleb decidiram fazer uma à trois que não correu bem pra mim.. Só me lembro de chorar e gritar de dores e tal.. Um pesadelo. Ainda tinha os meus olhos a arder de tanto ter chorado. Pelo lado positivo já não faço xixi há mais de dois meses o que realmente me deixa chocada mas dá jus ao ditado 'Quem mais chora menos mija.' então já fez mais algum sentido pra mim. Ele levantou-se e acabou por voltar para o lugar onde estava lentamente.

- O que tanto te apavora? -disse ele num tom sarcástico. Como se aquele filha da puta não soubesse que ele é o que me apavora, ele é aquele demônio que passa pela minha cabeça todos os dias rodeado pela pergunta Porque? entre outras. Eu nunca lhe dava respostas estruturadas. Limitava-me a abanar a cabeça e quando eu não conseguia responder que sim ou não eu limitava-me a ficar calada olhando o chão. Calei-me e olhei o chão.

- O que se passa aqui Kaleb? -disse Desmond enquanto se chegava ao lado dele com um ar de superioridade e logo olhou para mim atentamente- Estás a observar a nossa convidada? -ele soltou uma pequena gargalhada e virou-se para mim observando-me atentamente.

- Ela teve outro pesadelo, o que sera que a apavora tanto? -disse ele num tom de gozo. Filhos da puta. Estavam a gozar com a minha cara à descarada e o pior? Era que eu estava a ouvir tudo! Só me apteceu mesmo levantar-me e ir até eles e dar uma chapada a cada um deles. Ou mais. Um tiro!

- Acho que ela tem algum problema mental.. -riu-se novamente o Desmond, eles pareciam que gostavam de me ver a sofrer. De me ver a chorar. Mas não ia chorar, já estava cansada de chorar. Já estava farta de estar ali mas que podia eu fazer? Nada.

- Calem-se por favor.. -acabei por dizer, baixinho, mas disse. Tinha de fazer algo, eles praticamente matam-me de tortura e eu tenho que aguentar com aquele tipo infantil de comentários? Não! Não ia aturar aquilo! Já estive tempo suficiente calada.

- O que? Acho que a nossa convidada disse alguma coisa.. -disse Desmond já com uma expressão mais séria, ele não tinha gostado nada do que eu disse.- O que disseste querida? -ele começou a se aproximar do meu corpo lentamente. Decidi não responder. - Melody tens alguma coisa a dizer? -ele acabou por perguntar novamente agaichando-se à minha frente.

Eu acabei por abanar a cabeça na negativa sem o encarar por um segundo que fosse. Eu estava completamente aterrorizada, sei que parece estúpido mas ele já me fez tão mal por tão pouco.

- Acho bem.. -assim que Desmond acabou esta frase ouvi o Kaleb a rir-se lá detrás. Mas completamente desliguei-me deles, só pensava se o Jefferson e os amigos iriam voltar ou se eles simplesmente seguiram com as suas vidas e me deixaram pra trás pra morrer. Afinal, já faz uma semana que eles prometeram voltar.

- Desmond.. Posso lhe fazer uma pergunta..? -acabei por ganhar coragem e elevei o olhar com lágrimas para ele. Os meus olhos não tinham outra maneira de estar para além de vermelhos e inchados ou cheios de lágrimas- Por favor..?

- Claro querida.. Ora diga.. -consegui perceber que até Kaleb ficou surpreendido ao ouvir a resposta tão calma e doce que saiu da boca de Desmond.

- Eu.. -respirei fundo, já sabia que não vinha dali coisa boa com aquela pergunta- Eu algum dia vou sair daqui? -perguntei cheia de medo do que poderia sair da boca dele.

- Não gostas de estar aqui é isso? -ele olhou-me algo que.. desconfiado?! Não sei. Mas conseguia ver que ele estava a planear alguma pra mim. Já lhe conhecia os olhares suficientemente bem e assim que a minha mente decifrou aquele uma lágrima rapidamente caiu. Ele apercebeu-se do que passava pela minha cabeça.

- N-ão é isso.. Eu só.. Gostava de conhecer outro lugar para além destas paredes de madeira sabes? Ter alguma.. Liberdade.. -murmurei com a voz trêmula. Tive de morder o interior da bochecha para não desatar a chorar ali mesmo.

- Estás com desejos de liberdade menina? -ele começou a questionar- Queres conhecer o exterior é isso? -eu, lenta e calmamente assenti com a cabeça olhando-o nos olhos- Então vamos. -aquela resposta surpreendeu-me por completo. Deixou-me completamente boquiaberta e depois de uns segundos embasbacada ele acabou por me abrir as algemas e o pano dos tornozelos, ajudou-me a levantar e encaminhou-me até ao Kaleb. Sussurrou-lhe algo no ouvido e ele, amavelmente levou-me para a rua...

«Tortura»Where stories live. Discover now