Chapter 10

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- E-eu.. -senti a minha voz gaguejar, por muito que eu não quisesse estava a acontecer. Eu não conseguia tirar alguma desculpa da minha cabeça por muito que pensasse. Estava embasbacada. Fui apanhada mesmo de surpresa. Ele logo falou quando eu ia para falar.

- Ok, amanhã quando saíres daí logo vês o que recebes.. Sabes bem que odeio mentiras. -disse Desmond firme e sério. Eu nem sabia o que dizer apenas abanei a cabeça na negativa de forma desesperada. Não era possível! Já me sentia completamente esgotada de tanta coisa e eles têm vindo a ficar cada vez mais cruéis e cada vez mais constantemente conforme eu tenho crescido.

- Não.. Por favor.. -implorava. Eu nunca pensei que fosse implorar pelo perdão de alguém mas tinha de o fazer. Ele comecou a andar para longe e Kaleb lançou-me um olhar de pena andando atrás de Desmond logo em seguida. -Desculpa Desmond! -disse alto sentindo as lágrimas começarem a cair de forma desesperada. -Por favor, perdoa-me! -a minha voz falhava devido a diversos soluços que saiam. Eu tinha de sair dali e apenas tinha 24 horas para conseguir. Mas como?

Até a noite chegar eu fiquei a pensar em possibilidades de fuga. Eu podia tentar chegar ao tronco e escalá-lo até me sentar por completo no ramo onde a corda estava enrolada e eu logo saltava e desatava a corda com as mãos. Mas não. Podia-me magoar a sério na queda.

Podia balançar até me agarrar no tronco da árvore mas e depois? Podia tentar desatar a corda com os meus pés afinal eu chegava lá. Kaleb fora burro o suficiente para enrolar a corda ainda consideravelmente alta. Nada me impedia de tentar. O único problema depois era se eu não conseguisse e eles me vissem.

Esperei para que escuressesse e assim que vi que ele se fora embora para casa mais o Kaleb comecei a abanar o meu corpo. Era a minha última hipótese de conseguir isto e, apesar de estar fraca por dois dias sem comer, eu não podia deixar-me vencer. Parecia que nunca mais lá chegava. Acho que estive a balançar-me durante uma hora ou mais! Balancei-me até ao tronco e assim que lá cheguei usei os meus pés descalços para que os meus dedos se entranhassem na corda.

Tentei desatá-la mas logo que não consegui desisti dessa ideia por isso lá vamos ao plano B. Comecei a tentar escalar o tronco com as minhas pernas mas não conseguia, estava sem forças e não me dava jeito nenhum fazê-lo. Olhei para cima tentando descobrir uma maneira de desatar a corda e vi que esta estava quase a partir-se. Havia balançado tanto a corda pelo tronco que ela tinha-se começado a desfiar. ÓTIMO!

E assim descobri que tudo o que eu tinha de fazer era abanar-me e a corda eventualmente se partiria. Não faltava muito até isso acontecer! Então lá fui eu. Soltei-me do tronco e senti o meu corpo balançar de um lado pro outro mas sempre de olho na corda para eu ter a certeza do lado em que iria cair. Horas se passaram e nada. Ia começar a desistir quando ouço um barulho e logo o meu corpo começa a cair em queda livre para o chão!

Consegui! Estou livre!! Ok.. E agora? Fui até ao armazém e olhei para as marcas dos pneus que ainda estavam no chão. É claro! Se os carros foram para a cidade, as marcas de pneus levam-me lá! Ainda tinha os pulsos atados com a corda e o meu corpo continuava estafado mas se eu ficasse ali ainda era capaz de eles voltarem e me encontrarem e assim decidi. Vou seguir as marcas de pneus.

Comecei a andar pela floresta vendo o caminho que os carros tinham destruído e seguindo-os até que vi duas luzes brilhantes a apontarem na minha direção e cada vez aumentavam mais! Era um carro! Nem consegui pensar duas vezes em fugir porque o carro vinha tão depressa que eu simplesmente fui atropelada! Não foi muito grave porque o condutor viu a minha figura ali no meio e começou a travar só que não travou a tempo.

Eu estava deitada no chão ainda com os faróis a apontarem para a minha cara quando ouvi as portas do carro fecharem. Foram duas logo, era capaz ser o Desmond e o Kaleb certo? Certo. Mas eu não lhes vi bem a cara. Estava praticamente morta mas só reparei em duas sombras masculinas que se dirigiram a mim e ajoelharam à minha frente.

Eles falavam. Entre si e comigo. Mas eu não conseguia processar as suas palavras, só conseguia mesmo perceber que falavam entendem? Conseguia ouvir o som mas o que este pronunciava era-me completamente impossível decifrar! Acabei por perder os sentidos. Não conseguia mexer-me nem falar por mim nem nada. Estava tão estafada e cansada que tenho a certeza quase absoluta de que morri por uns instantes. E esta é a última coisa de que me lembro.

Acabei por acordar com um par de luzes na minha cara e o meu corpo todo doía como se eu tivesse acabado de fazer queda livre do monte Everest sentia-me tão fraca que nem sequer tive coragem para manter os olhos abertos por mais de uns míseros segundos.

- Melody..? -disse uma voz masculina, consegui perceber que estava preocupada. Consegui reconhecer a voz. Será que..? Não, seria demasiada coincidência.. Mas ele sabe o meu nome e acho que apenas cinco pessoas no mundo sabem da minha existência por isso tecnicamente. Ou era ele ou era uma miragem.. Outra miragem certo?

Respirei fundo ganhando coragem e logo abri novamente os olhos, virei a cabeça ligeiramente para o lado podendo encarar assim o autor daquela voz angelical. Nem pude acreditar naquilo que os meus olhos cansados viram. Naquela figura explendida! Ali, sentado na cadeira ao lado da minha cama estava o Jefferson. Ele parecia que.. Sei lá, tinha passado a noite a pé ou.. Não tinha comido nada mas, ele parecia abatido. Cansado até. Doeu-me vê-lo assim.

- Melody como te sentes? -ouvi outra voz masculina, preocupada também, sabia tão bem ouvir as vozes assim. Eu realmente me senti como alguém. Eu realmente senti que alguém se importava com aquilo que eu sentia ou pensava. Foi um sensação nova tão.. Indescritivel que eu simplesmente quis apreciar.

Novamente virei a face para o lado de origem da tal voz e vi o Wilson. Também tinha um ar cansado, preocupado, abatido. Será que foram eles que me encontraram? Que me atropelaram? Será que eram eles que me iam buscar e em vez de eles me encontrarem, fui eu que os encontrei? Era uma boa possibilidade.. Era uma ótima possibilidade.

«Tortura»Where stories live. Discover now