Capítulo 15 - Sem ar

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Oi, meus amores!


Estavam com saudades? 


Então, vamos lá! 


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- O que você quer que eu te diga? – me olhou, dissimulado, sentando no sofá.

- A verdade, obviamente! – me sentei em uma poltrona a sua frente.

- Você viu tudo... Eu não sei o que te dizer... – ele estava numa mistura de desânimo e decepção que eu não conseguia processar direito. Meu tico e teco não estavam batendo muito bem. Eu fiquei muito desconcertado e não estava querendo aceitar o que era claro como água.

- Desde quando, Nando? – fui direto. – Desde quando você dá cantada em uma amiga minha?

Ele mordeu levemente o lábio inferior e desviou o olhar para as suas mãos, que estavam largadas com os cotovelos apoiados em seus joelhos.

- Eu nunca quis fazer isso, mas é algo que não está mais sob o meu controle... Eu não consigo mais esconder isso...

Tinha tanta dor na voz do Nando, que eu até me senti culpado por estar o acusando desse jeito.

Minhas amigas sempre confiaram nele, o viam como um irmão mais velho, alguém que sempre estava disposto a ajudar nas tarefas e até cozinhava às vezes quando elas vinham dormir em nossa casa e agora, isso?!

- Quando eu conheci a Bia e Vick, elas eram duas meninas que não tinham nem 10 anos e eu juro que nunca olhei pra elas desse jeito quando elas eram crianças... – ele volveu seu olhar a mim, se justificando.

- Não, Nando! Eu não pensei isso! – me adiantei. Jamais pensaria que meu irmão olhou com maus olhos para as minhas amigas quando elas começaram a freqüentar minha casa.

- Eu fiquei muito feliz quando elas se tornaram suas amigas e reconheço que elas te ajudaram muito a superar a morte dos nossos pais, isso me deixava mais tranqüilo e eu pude continuar minha faculdade, mas os anos foram passando e elas foram crescendo...

Era estranho ver meu irmão falando sobre essas coisas. Eram assuntos que geralmente não estavam em nossas conversas, mas que eu pude sentir dessa vez que ele estava talvez até emotivo.

- Quando elas chegaram à adolescência, não teve como não notar! Elas se tornaram garotas muito bonitas, mas a Bia começou a me chamar a atenção não apenas por isso. Às vezes, quando ela ia dormir lá em casa, eu acordava cedo para ir correr e quando voltava, ela já estava acordada e nós fazíamos o café da manhã juntos, ficávamos conversando e era tão bom. – Vi um sorriso bobo surgir nos lábios do meu irmão, como se estivesse lembrando-se de algo fantástico - Eu me sentia tão confortável conversando com ela, de um jeito que eu não sentia com nenhuma outra mulher. Eu acho que por ela não ter segundas intenções comigo, ela conversava livremente, sem nenhum flerte. Isso me encantava e quanto mais eu tentava evitar desenvolver um sentimento por ela, mais eu percebia que estava me apaixonando por uma garota dez anos mais nova que eu...

- Então foi por isso que você não falou nada antes? – o questionei.

- Exatamente! Os pais da Bia e os da Vick confiavam em nossa família para deixar que elas freqüentassem livremente nossa casa, então se eu tentasse algo com ela, eu quebraria essa relação de confiança. – de repente, sua face ficou angustiada novamente - Eu juro que quis esquecê-la! Tive tantos casos, tantas namoradas, mas nenhuma me fazia superar a Bia! Ninguém tinha seu sorriso, sua voz, sua simpatia. Então, quando ela resolveu se mudar para São Paulo, eu achei que ali seria o fim, sem nem ao menos ter começado. – ele deu uma pausa, engoliu a seco, como se esse assunto fosse mais doloroso ainda. – Eu achei que nunca mais a veria, pensei que a distância me fizesse superar de vez esse sentimento, mas só fez ter mais certeza do que eu já suspeitava! E quando você me contou que ela estava voltando, senti como se meu coração fosse enfartar! – abriu novamente um sorriso - Nunca fiquei tão feliz ao receber uma notícia, nem quando passei no vestibular! Essa era a minha chance! Ela já é maior de idade e eu não tenho mais medo de ser mal compreendido, mas eu decidi ir de vagar para não assustá-la, só que hoje eu agi por impulso e coloquei meus pés pelas mãos... – seu rosto voltou a ser melancólico e eu estava mais angustiado por tudo que ele me contou.

Mel e CanelaOù les histoires vivent. Découvrez maintenant