ADMIRAÇÃO

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MÔNACO
3 DE JUNHO DE 1984

O terno vermelho, feito sob medida e bem acinturado com ombreiras, me faziam me sentir mais livre do que o vestido branco que experimentei ontem a noite para a ocasião de hoje. Não era dia de vestido mostrando metade da pernas ou um decote enorme para fazer um discurso motivacional após a vitória de um piloto. Já bastava o nervosismo de aparecer na mídia após o funeral da minha mãe, eu teria que me conter para voltar a ser a "Princesa Felicia Beatrice Grimaldi" ou simplesmente "Princesa Lici", a fotocópia da Princesa Grace.

Caminhei com o discurso em minhas mãos, treinando meu inglês que naquelas alturas havia voltado a ser o inglês com sotaque francês. Nem mesmo Diana, a minha melhor amiga, sabia ao certo como eu havia conservado o inglês americano da minha mãe por tanto tempo depois da morte dela. E eu respondo: vendo os filmes dela.

Minha mãe sempre foi um exemplo pra mim. Ela era perfeita nas condições que tinha para ser perfeita. E até hoje, mesmo depois de quase dois anos de sua morte, eu a reproduzo do jeito que posso. Do jeito que ela teria orgulho.

Carolina e Sthephanie me chamavam de preferidas antes dela morrer. Depois, acho que para não me machucar, pararam. Albert era o preferido de papai, sem sombra de dúvidas. Todos os pais têm seus preferidos.

- Pronta para fazer seu cabelo, Lici?

O cabeleireiro careca entrou no quarto carregando seu carrinho de apetrechos. Damian era como se fosse o meu tio. Braço direito da minha mãe quando tinha algum evento super importante para ir arrumada. Segundo ele, ela nunca dava trabalho. O cabelo dela era sedoso e a pele de porcelana. Já o meu, vivia como um ninho de rato e minha pele com buracos, parecendo esponja.

- Pensei em fazermos alguns cachos e um delineador nesses seus olhos, o que acha?

- Quero um batom vermelho, Dami.

-...Mas quebraria o protocolo, sabe que tens que ser discreta.

Olhei para o meu terno vermelho que a estilista mandou que eu vestisse no reflexo do espelho. Novamente a breguice de ter que me vestir como uma bandeira ambulante.

- Acha mesmo, Dami, que isto aqui é ser discreta?

- É... Ok! - Ele me empurrou para a cadeira para arrumar meu cabelo. - Faremos um coque agora e de noite o deixaremos solto, o que acha?

- Minha única exigência é o batom, Dami. O resto é você quem manda.

Ele balançou a cabeça, agora focando totalmente a sua atenção no ninho de rato que meu cabelo estava. Em quanto ele tentava fazer mágica nas minhas madeixas, a TV do meu quarto estava ligada no canal de esportes.

Eu não gostava de esportes, devo confessar que o máximo que chegava de ser esportista era o arco e flecha e o ballet. O ballet era uma terapia para mim, claro, terapia com terapia. Eu e Sthepanie fazíamos acompanhamento psicológico desde tudo o que havia acontecido na nossa família. Posso dizer que aos poucos, ela me vence em superação.

Continuei a olhar a reportagem sobre os pilotos. Alain Prost, Nelson Piquet... Nomes conhecidos. Nomes que eu já sabia de cor por terem competido nos anos passados. Tirando Ayrton Senna. Diferente desses, ele era jovem. Não que a Fórmula 1 tinha virado um asilo onde só idosos corriam, mas ele realmente era jovem. Pelo rosto deveria ter o quê? 22 ou 23 anos? Quase a minha idade.

- Quem será o primeiro a discursar? - Dami me acordou dos meus pensamentos. Minha cabeça se reconectou a realidade e ao papel em minha mão esquerda.

monte carlo | ayrton senna ✔️Where stories live. Discover now