ULTIMATO

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18+ no capítulo. Não gosta? Não leia hoje.

23 de Outubro de 1984
Lisboa, Portugal

Quando um pão era bem assado e um circo bem montado o Estado agradecia. Pão e Circo desde os tempos mais primórdios da humanidade foi a razão de Monarquias durarem séculos e agora acontecia a mesma coisa com repúblicas. Não me orgulho em dizer que no momento, eu era um pão e circo para a sociedade europeia, mas era muito melhor voltar a ser queridinha desse jeito idiota (dependendo de homem) do que ser chamada de assassina.

Depois que fotos de mim conversando com os pais do Ayrton foram para os jornais esportivos e políticos, eu não tive mais paz. E só havia passado um dia desde o pódio de terceiro lugar de Ayrton em Estoril, Portugal. Desde então, Beco não havia se desgrudado de mim e da sua família. Nós quatro almoçávamos e jantávamos juntos. Neyde e Miltão estavam gostando mesmo de mim e eu de alguma forma me sentia parte da família. Mesmo sendo apenas amiga de Ayrton.

Agora estávamos em um restaurante, poucos minutos do hotel aonde estávamos hospedados. Era o último dia dos pais dele e meu último dia antes de voltar para a loucura de Cambridge. Ficamos a noite inteira comendo e Ayrton brincando com o meu sotaque que estava cada vez mais cantado no português, diferente do que era antes de o conhecer.

- A noite está maravilhosa mas eu e a véia aqui precisamos arrumar a mala pois amanhã vamos voltar pra casa... - Miltão disse -... E mocinha, cuida bem ele.

- Acho que tem que ser ao contrário...

- Que nada, Beco! Em dois dias ela já provou ter mais juízo que essa cabecinha de jaguatirica sua.

- Jagua...O que?

Perguntei ainda segurando meu copo de Coca-Cola

- É uma onça pequenininha... - Neyde sussurrou

- Ah...

Miltão e Neyde se levantaram. Neyde abriu os braços e me abraçou dando um beijinho na minha bochecha. Miltão me abraçou e falou baixo um "se cuide também, mocinha". Após os pais de Ayrton se despedirem e repetirem cinquenta mil vezes pro Beco se cuidar e me cuidar, foram embora de mãos dadas.

Ayrton voltou a se sentar ao meu lado na mesa. Eu não entendia muito bem essa mania dos brasileiros se sentarem sempre ao lado do par do encontro, mas adotaria isso só pra não reparar nas pessoas comendo e bebendo.

- Acho que meus pais querem lhe adotar.

- Foram uns fofos comigo.

- Não têm como não ser, Feli... - Ele pegou a minha mão que estava por baixo da mesa e entrelaçou nossos dedos. Meu coração batia forte, tão forte quanto solos de bateria do Roger Taylor do Queen.

-...Ontem quando você disse "Mon"...

- Eu realmente quis dizer que é minha.

- Em que sentido, Sr.Ayrton? - Uma pontada de confiança me fez recobrar minha consciência. Eu era eu. Eu era A Felicia, por que deveria temer algo?

- Em todos... - Ele sussurrou, olhando nos meus olhos. -...Quando eu fiquei sabendo que outro homem teria uma proximidade que eu não ia ter com você ou que outra pessoa veria mais você do que eu, eu fiquei louco.

- Realmente, para se esfregar do jeito que se esfregou na Boate na Alemanha deve ter ficado louco mesmo...

- Mas funcionou, você voltou a olhar para mim daquele mesmo jeito do primeiro dia.

- Eu nunca deixei de te olhar daquele jeito, Ayrton... - Suspirei, olhando para os lados. -...Podemos voltar para o Hotel? Não acho que aqui é o lugar certo para conversarmos sobre isso.

monte carlo | ayrton senna ✔️Where stories live. Discover now