𝟷𝟿𝟿𝟶

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Ariel foi a única pessoa que eu contei meu plano. O plano concreto e completo. Ele tinha as cópias dos documentos do meu pai e de Balestre, ele podia ter feito a maior cagada comigo e ter fodido o meu plano todo de expandir Mônaco, mas ele honrou com a sua palavra.

Depois do GP da Austrália, aonde o Balestre finalmente jogou as cartas na mesa, Ariel cumpriu sua palavra e divulgou na mídia francesa os documentos aonde Rainier e Balestre combinavam parcerias de dez anos. Naquele dia, eu tive que sair a público e confirmar que Ariel Bauffremont era advogado da Casa Real de Grimaldi e que eu estava depondo contra o meu pai e contra a FIA.

Balestre fez de tudo em menos de uma semana. Tentou tirar Mônaco do calendário, tentou me difamar, tentou difamar a monarquia, Ayrton, o Brasil, o Mônaco. Tudo e todos. Inclusive, a McLaren.

E mesmo fazendo tudo isso, falando que expulsaria Ayrton por seis meses do esporte, tiraria Brasil e Mônaco do calendário de 1990 e tentaria banir a McLaren da categoria, Ariel deu a cartada final. Que nem mesmo eu esperava.

O julgamento em Paris foi arquitetado inteiramente para a expulsão do próprio Balestre sair da categoria. Além das próprias equipes darem depoimentos de como decisões relacionadas a segurança dependiam inteiramente dele, alguns pilotos amigos de Ayrton, votaram a favor da retirada do presidente da FIA, registrando queixas e denunciando ameaças de mesmo cunho.

Ariel tinha ido além do combinado e eu havia amado aquilo.

– Quer banir um homem que usou uma saída de emergência para uma emergência? – Ariel acusava o outro francês – Por quê então não banir condutas antidesportivas? O futuro é o fairplay, senhoras e senhores... Estamos caminhando para a última década do século XX e vocês acham justo que um piloto faça uma artimanha deste nível com o Presidente da FIA para favorecimento pessoal e com cunho nacional?

Ariel olhou para Prost que o encarava com tédio

– Por agora é isso, meretísemo.

Ariel se sentou ao meu lado e de Ayrton. Em seguida, me chamaram para esclarecer a parte governamental e a minha real intenção em seguir publicamente com aquilo.

– Ayrton é meu amigo. Eu fui a primeira pessoa que ele procurou em Mônaco para tentar se sentir melhor contando o que ele passou em Suzuka. Eu o acompanhei pela TV e vi o momento em que Alain Prost empurrou Senna para fora da pista. O brasileiro tinha três opções: largar a corrida, dando o campeonato inteiro de mão beijada para seu maior rival, continuar e dar a ré para tentar ir pela pista, o que provocaria acidentes com toda a certeza ou simplesmente pegar a saída de emergência da pista. O que eu estou dizendo é que Ayrton fez sim a coisa mais sensata em um momento de desespero. Não colocou a vida de ninguém em risco e muito menos desrespeitou o regulamento. – Olhei para Balestre e mostrei o livro de regulamento da FIA – Regulamento este, em minhas mãos, que é constantemente volátil aos interesses do presidente atual. Jean-Marie Balestre, que favorece claramente a França.

– Se seu paíszinho fosse tradicional talvez teria um piloto na categoria! – Rebateu de forma amarga. Seu advogado mandou ele calar a boca

– O meu país têm a pista mais emblemática do mundo. A mais desafiadora. Tão desafiadora, que há dez anos antes de eu ser a Princesa reinante, o senhor fez acordos com o antigo Príncipe, o meu pai, de ter sempre fiscais franceses e contratados pelo senhor, suponho, homens de sua extrema confiança, para a mudança de tempos em pole!

Dos populares, só se ouvia um "Wow", "Como assim?".

– Bauffremont tem todas as provas em suas mãos. Eu atesto com toda a consciência que meu pai, em quanto Príncipe de Mônaco, foi negligente e corrupto quanto a FIA. E eu estou tão espantada quanto vocês. – Saí do palanque e me sentei ao lado de Ayrton, que segurava minha mão firmemente. Nunca havia visto ele tão nervoso na vida. E eu sabia, que depois daquele depoimento, minha vida com os franceses iria ser de mal a pior.

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