MACARONS

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Ayrton deu um sorriso de lado, me deixando passar pela porta branca. O quarto de hotel estava uma bagunça. Ele provavemente estava fazendo a mala, já que havia muitas roupas jogadas pelo quarto.

- Trouxe o seu terno, aonde posso deixar?

- Pode deixar que cuido disso.

Ele pegou da minha mão de forma delicada, colocando no cabideiro dentro do closet.

- Quer ajuda?

- É pouca coisa, eu só estava organizando umas coisas. - Ele falou, voltando a olhar para mim. Ele então sorriu um pouco sem graça.

- Desculpe vir aqui sem avisar... - Coloquei minhas mãos dentro do bolso a jaqueta e desviei o olhar. -...Mas achei melhor vir do que mandar alguém vir aqui.

-...Também achei. Queria vê-la pela última vez.

Contive um sorriso, desviando meu olhar para a sacada. Caminhei até às cortinas brancas e finas, encostando a minha cabeça no lastro de madeira da janela.

- Pensei que a vista daqui do sexto andar ia ser melhor. - A brisa do mar soprou meus cabelos.

- Eu amei essa vista... De verdade. - Ele chegou perto de mim. Seu perfume agora era o mesmo da noite passada: amadeirado. Forte e intoxicantemente bom. -...Eu amo o mar.

Mais uma vez, estávamos de frente a uma janela, sem falar nada. A brisa novamente soprou meus cabelos e como uma lâmpada se acendendo, tive uma ideia.

- O que você conhece de Monte Carlo?

- Nada além das ruas que eu corri e a sua casa.

- Minha humilde residência fica em Monaco-Ville - Expliquei com uma risadinha fraca. - Conhece metade do país então. Quer conhecer o resto comigo?

Ele olhou para as malas ainda pela metade e então me antecipei.

- Pode não parecer, monsieur, mas a princesinha sabe fazer malas bem rápido e de forma mais organizada que isso. - Me encaminhei até aonde estava a mala dele. - Com sua licença?

- Por favor...

Virei a mala dele e comecei a fazer rolinhos em suas camisas e dobrar suas calças.

- As cuecas freiadas você cuida delas, piloto.

Eu aprendi a fazer malas com a minha mãe. Antes de casar com o meu pai ela era atriz. Vivia de país em país para filmar seus filmes, ir em premiações e muitas vezes, viajava a prazer também. Ela valorizava muito a aprendizagem, seja de qualquer tipo. Sempre falava que "conhecimento ninguém tirará de vocês" e de fato, isso nunca aconteceria. Num dia eu poderia acordar como Maria Romanov, a "queridinha da Rússia", no outro, acordar como a filha do Czar "traidor". O medo de todo monarca era ser uma Maria Antonieta ou um Czar Nicolau, todavia, o sonho de todos era ser como Victoria ou Dom Pedro II.

Eu via aquele principado como uma oportunidade de ser rica. Eu não era herdeira de nada. Tudo ficaria para Albert e os filhos dele, então porque ficar presa a uma coroa que não era minha? Por um lado, tudo parecia simples demais. Por outro, complicado. Fiz Ciências Políticas para ser o braço direito de Albert. Ele confia em mim e eu confio nele. Se minha visão era aquela sendo uma princesa, a visão de outros países era a pior possível. Nos viam como uma família de socialites, mesmo com o principado sendo um dos mais ricos do mundo. Mesmo com os Grimaldi no poder por quase sete séculos, mesmo com a boa administração da minha família. Mesmo com tudo isso, nada era o suficiente para calar a opinião pública.

O que o Reino Unido tinha de diferente de nós? O que a Suécia, Noruega e Dinamarca tinham de diferente de nós? Eu ainda tentava entender.

Mas voltando as malas, minha mãe havia ensinado tudo o que era "mundano" para nós. Ao ver do meu pai, eram besteiras que nunca usaríamos por viver com empregados por todo o palácio. Agora eu estava usando a técnica de rolinhos com um plebeu. Ou pior, ensinando um trabalho manual a um plebeu. Ou pior ainda, pegando em cuecas asa-delta.

monte carlo | ayrton senna ✔️Where stories live. Discover now