PRINCESA SOLITÁRIA

1.3K 116 29
                                    

Maluco. Foi a primeira coisa que pensei quando assinei aquela porcaria de contrato. Ariel havia aceitado todas as minhas condições, sendo algumas (de muitas) delas, preservar a fachada do prédio no mesmo estilo monegasco e a preservação da média de empregos aonde as lojas estão, juntamente com um imposto secreto em cima daquela construção.

– Pensei que iria ser mais fácil negociar com você.

– Pensou errado, monsieur... – Guardei os papéis na pasta para futuramente, Eric e seu assistente copiá-los e entregar para cada um dos homens que estavam lá fora nos esperando para o jantar. –...Estava com algum tipo de preconceito contra a minha pessoa?

Eu imaginava que por ser francês, os preconceitos contra mim eram enormes por conta da mídia, mas depois de quase quinze minutos com ele numa sala, seu jogo de A+B não funcionava mais na minha cabeça. Ariel era muito mais complexo do que qualquer outro homem de negócios e aquilo me provocava estranheza.

No momento, nada estava à favor dele, mas ainda assim, segurava sua caneta a equilibrando como um cigarro. Um cigarro da Vitória.

Aquilo me fez desfocar completamente do assunto, pensando nos cigarros que não colocava entre os lábios desde a semana passada.

– Não diria que preconceito é a palavra... – Colocou sua caneta –...Mas sim, curiosidade. É o instinto de qualquer animal e humanos são animais.

– Eu se fosse você, não me vangloriaria dizendo que instinto é algo para se orgulhar em meio a negociações.

– Tem razão, isso é coisa para tradicionalistas retrógrados... – Se levantou da mesa e então fiz o mesmo –...E aposto que você quer evitar isso ao máximo, não é?

Ele me deu uma piscadela e caminhou em direção a sala de jantar

– Será que o camarão está pronto? Estou com uma fome!

– Cuzão... – Resmunguei em português, tendo a breve felicidade de ver o francês confuso, sem entender o que eu havia falado. Peguei a pasta da mesa e caminhei com ela pressionada contra o meu peito. O assistente de Eric, Giovanno, saiu para seu escritório assim que eu entreguei a pasta na saída da sala de reuniões. Ariel caminhava ao meu lado, reparando cada detalhe do Palácio. – A decoração parece muito retrógrada para você?

– Não, se fosse retrógrada, teria peças de origem animal por aqui e pelo que percebi, deve ter bichos mortos no máximo no jantar.

– Um filho de empresário preocupado com meio ambiente?

– Um advogado ambientalista preocupado com o futuro. – Corrigiu, o que me fez ficar brevemente surpresa

– Desde quando a França se preocupa com o meio ambiente?

– Desde que fumaças radioativas das Usinas Nucleares da União Soviética chegaram na região? Faz três anos isso, ou seja, sim, me preocupo. – Continuou caminhando, agora um pouco mais sério – Deve me achar um mimado, não é?

– Eu não acho, tenho certeza – Falei em tom de brincadeira, mesmo que fosse total verdade. O que fez ele rir fraco. – Não estou acostumada à pessoas me desafiarem, isso me fez ter total antipatia por você.

– Pelo menos, virei inesquecível ao seu olhar, Chéri.

Chegamos na porta e ele abriu para eu passar. Garçons serviam desesperados os outros homens que em menos de 20 minutos haviam tomado quatro litros de vinhos entre si. O cheiro de álcool se impregnou em minhas narinas e, mesmo querendo dizer para Ariel não me chamar de querida, o cheiro de vinho caro me entorpecia. Me sentei na ponta da mesa, sendo alvo de olhares dos homens com alguns cumprimentos. Ariel sentou na minha diagonal, percebendo minha quietude repentina.

monte carlo | ayrton senna ✔️Onde histórias criam vida. Descubra agora