TRAGÉDIA

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Cardiopata. O Príncipe Rainier era um cardiopata e a mídia monegasca dividia sua atenção a isso e a merda que havia sido o baile da Fórmula 1 de 1985.

Não que de todo foi ruim, mas pelo fato de ter uma briga entre dois brasileiros (um sendo o meu namorado e outro sendo um bicampeão) se estapeando na saída do Palácio. Era vergonhoso.

– Como foi o baile minha filha?

Depois do susto, meu pai estava carinhoso. Era como se a experiência de quase morte tivesse lhe dado um estalo que ele não levaria o trono para a próxima vida, tampouco eu.

– Bom... – Menti, segurando sua mão. Meus olhos viajavam entre as paredes do quarto claro de hospital. – Stephanie se divertiu mais que eu.

Ele sorriu fraco. Sua boca estava rachada e parcialmente pálida.

– Felicia não minta pra mim – Ele sussurrou – Pedi para a assistente de enfermagem trazer o jornal. Era o Le Monde, mas foi o melhor que consegui e pelo o que eu li, houve uma briga.

– Para fora do Palácio. – Disparei – Fora do castelo a responsabilidade não é minha.

– Lici, chéri... – Ele se ajeitou na cama, tomando todo o cuidado para não sentir dor no seu tórax – Um deles é seu namorado. O Senna têm que ter em mente que ele não está namorando uma anônima, uma qualquer... Ele está envolvido com uma futura soberana.

Sua voz era calma demais, parecia dopado de remédios para dor ainda.

– Não me resta muito tempo para lhe ensinar o que deve saber para eu deixar Mônaco em suas mãos

– Que isso, papa, não...

– Lici, não podemos enrolar – Ele colocou suas mãos na borda de metal da cama – Sabe disso...

O Príncipe deu um suspiro e eu me sentei ao lado de seus pés encarando seus olhos. Estranhamente, aquele momento nunca me senti tão filha dele. Era o mesmo olhar cansado que via no espelho, que por vezes, substituía por um melancólico quase doente.

–...Eu quero ver a minha filha ser soberana ainda. Seja o tempo que durar, quero lhe ver sentada no trono pra valer. Não em brincadeira.

Esbocei um sorriso sem graça, mas ainda sim grato.

Algumas semanas depois meu pai saiu do hospital para se recuperar em casa. Eu não saía do seu lado nunca. Líamos protocolos, papeladas e fazíamos simulações do que fazer e do que não fazer quanto a política nacional. Ele finalmente estava virando o que a minha mãe amava quando ainda era uma jovem atriz nos Estados Unidos: parceiro.

E então Julho chegou e no verão Monegasco, meu irmão se casou com Sophie. Desta vez, diferente do casamento do meu pai que eram poucas filmagens, o casamento do ex futuro herdeiro de Mônaco havia sido visto pela Europa inteira através da televisão.

Depois da cerimônia, os dois foram morar em Berlim Ocidental, cidade onde Sophie nasceu. Bem longe de qualquer tipo de monarquia.

Meu namoro com Ayrton finalmente havia voltado para os trilhos. Dessa vez, eu o acompanhava em absolutamente todas as corridas e treinos livres da Europa. Quando ele ia para as Américas, eu ficava em Mônaco estudando com o meu pai sobre táticas comerciais, direitos e deveres, enfim, todas as coisas que Albert estudou durante a vida inteira.

Eu sentia que mais cedo ou mais tarde, eu assumiria. E mesmo com 21 anos, eu estava ciente que eu estava entrando na história como a primeira herdeira de fato que assumiria o poder.

monte carlo | ayrton senna ✔️Where stories live. Discover now