PRINCESA DE MÔNACO

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Quando disse a Albert que todos os amavam, pouco me importei se era verdade. Em quanto meu irmão discursava lindamente sobre o "privilégio" de sediar um GP, eu pensava no que Damian havia me dito em quanto ajeitava meu cabelo. Será que foi realmente, com a mesma intenção que eu tive com Albert? Acalmá-lo com palavras doces para no fim apenas amenizar o gosto amargo que seria quando a realidade batesse na porta dele. Albert era o herdeiro. Da mesma forma que Charles era o herdeiro do trono britânico. Isso não quer dizer que ele era o mais amado pelos súditos.

- Ei, Lici... - Sophie tocou meu ombro, sua voz suave me trouxe de volta para a realidade. Minhas mãos trêmulas seguravam a folha de papel com tanta força que ela poderia se partir. -...Não precisa se preocupar, você pegou a menor parte do texto.

Estávamos sentados em meio a platéia, meu irmão tinha todos nas suas mãos. Ele era o mestre em comunicação e eu o invejava por isso. Continuei a olhar para meu irmão que dizia que "nunca havia visto uma corrida daquele tipo". Ele nem acompanhava fórmula um direito.

Como se você acompanhasse, Felicia.

Olhei para os pilotos do pódio que estavam na primeira fila com os olhos fixos no meu irmão. Alguns flashes de fotógrafos incomodavam. Doíam os olhos. Meus olhos se fixaram nos pilotos do outro lado da sala: Alain Prost sorria contente com a dedicação que meu irmão colocava em cima da vitória francesa. René parecia tão alegre quanto, franceses eram muito patriotas. Do lado de René estava o estreante. O "carne fresca" do grid. Sua expressão fechada e séria denunciavam a mesma coisa que eu havia sentido no momento do fim da corrida: raiva.

Injustiça sempre me dava raiva e, não poder fazer absolutamente nada para impedir o encerramento precoce da corrida me deixava com mais raiva ainda. O presidente da FIA era francês. E só Deus sabia a raiva que eu estava ficando de tudo o que envolvia a França desde o ano passado.

Claro, eu não podia deixar com que esse ódio e raiva vazasse para a imprensa. Eu era uma Princesa de Mônaco e, Mônaco querendo ou não continuava com uma forte influência da França. A maior parte dos habitantes fixos eram franceses, a cultura era em sua maioria francesa e nosso idioma era o Francês, mas nada conseguia apagar a raiva que eu sentia de tablóides franceses.

Esses mesmos tablóides que um dia me chamavam de "Orgulho Monegasco" quando me formei em Ciências Políticas com 20 anos esse ano, um dia também me chamaram de "Assassina da Graça" na mesma semana que minha mãe morreu quando faziam suposições que eu e minha mãe brigamos no caminho de volta pra casa. E eu, como a boa rancorosa que sou, nunca me esqueceria disso.

Meu olhar de soslaio continuava em Ayrton. Não como se eu estivesse desconfiada dele, mas sim, de Prost e René Arnoux. Da FIA, do meu pai. Enfim todo mundo podia ser corrupto quando entrava orgulho e dinheiro na frente das coisas.

Ayrton massageava as suas juntas, parecia impaciente com algo, querendo dizer algo. Quando se sentiu observado, olhou em minha direção. Sem eu esperar. Não desviei o olhar, continuei o analisando. Do efeito contrário que eu esperava de um conhecido me analisando, ele sorriu. Fraco, mas sorriu. Eu parecia tão nervosa assim?

- ...E com isso, encerro e passo a palavra a minha irmã, Princesa Felicia Beatrice.

Coloque sua máscara, hora do show.

Me levantei da cadeira chique do auditório real e caminhei em passos aparentemente tranquilos. Orando para que o sotaque do meu inglês voltasse a ser o mesmo que eu tinha com a minha mãe, que nada lembrasse o maldito francês.

- Boa tarde a todos. - Olhei para Sophie, que me dava uma olhar de "estou lhe apoiando, vai nessa" - Espero que tenham sentindo minha falta...

Alguns risos dos jornalistas preencheram a sala. TV Francesa, TV Monegasca, TV alemã, inglesa... A Europa inteira estava de olho em mim.

monte carlo | ayrton senna ✔️Où les histoires vivent. Découvrez maintenant