Era de um tom vibrante de vermelho, batia nos meus joelhos e tinha alças finas. Secretamente, eu gostara, apesar de ter hesitado em aceitar. Era diferente dos tons escuros e sociais que eu costumava usar no escritório. Me fazia lembrar de uma versão minha mais jovem, voltando a usar saias e vestidos. Eu tivera infintos deles, de todos os tipos e modelos... Mas me desfiz de grande parte quando Clarice — minha terapeuta —, apontou-me que eu estava começando a adquirir uma compulsão por eles. Mas isso já foi há muito tempo.

Me aproximo da mesa e procuro por mais alguma bebida não alcoólica. Encontro algo que parece ser de morango, então levo o copo à boca para provar.

Sem que eu espere, uma mão toca de leve minha cintura e acabo derramando um pouco da bebida na toalha de mesa. Me viro para encontrar um par de olhos castanhos me encarando.

— Hey, não vi você chegar.

Henri está todo elegante, usando terno preto e segurando um copo na mão. Ele me direciona para o final da mesa, para não atrapalhar quem quiser se servir.

— Diz para mim que você conseguiu a reunião — ele suplica, sorvendo o resto da bebida. — Minha promoção depende praticamente disso.

— É comigo que você está falando, meu bem — brinco. — Segunda-feira, antes do almoço. Não se atrase.

Henri respira aliviado e deposita um beijo em minha bochecha.

Não somos exatamente amigos, ele e eu, raramente nos encontramos, e no geral é por acaso. Mas calhou de eu ter contato com um investidor importante do qual ele queria muito uma entrevista. E, uma vez que não me custaria nada, não vi porquê não ajudá-lo.

Ele começa a falar empolgado sobre o encontro, mas minha atenção se volta para o homem que acaba de entrar na quadra. Seus passos são confiantes, como se ele fosse dono do lugar. Usa jeans escuros, camisa azul com as mangas dobradas até os cotovelos, a barba bem aparada lhe dando o ar de sério.

Ele cumprimenta o pessoal, mas noto seus olhos rodeando o lugar. Procurando. Por fim, ele olha diretamente para mim.

A presença de Antony Ramone me abala como se eu estivesse vendo-o pela primeira vez. Ele abre um grande sorriso enquanto caminha em minha direção. Não olha para os lados uma vez sequer.

Apoio o quadril na mesa, sentindo-me tonta, a eletricidade correndo descontrola pelo meu corpo.

Oras, se controle!, eu ordeno-me. Você não é mais uma adolescente.

Acho que Henri diz alguma coisa, um agradecimento ou uma despedida, só Deus sabe. A presença dele já esquecida em minha mente.

Antony finalmente chega próximo a mim e me puxa pela cintura. Vou de bom grado, me deixando ser abraçada. Dez anos, e os braços dele ainda são um lar para mim. O cheiro de seu perfume me envolve e inspiro fundo, passando o nariz pelo seu pescoço, levemente inebriada.

Tony ri no meu ombro ao perceber o que estou fazendo, depois se afasta um pouquinho para poder olhar para mim.

— Você está linda — ele me diz.

— Obrigada. Você também não está nada mal — comento com um sorriso.

— Vem cá, eu não te prometi um grande beijo para hoje à noite?

Ergo a mão direito para que ele veja o anel em meu dedo.

— Desculpa, eu sou comprometida. Meu namorado não vai gostar se eu sair por aí beijando qualquer um.

Antony demonstra surpresa. Ele também ergue a mão direita em frente a meu rosto.

— A minha namorada também não.

Olho para a aliança no dedo dele me sentido meio emocionada. Será que essas bebidas eram realmente sem álcool?

— Bom, o que fazemos agora? Eu sugiro irmos nos agarrar no vestiário.

Bato no peito dele, contendo uma gargalhada.

— Você não tem jeito mesmo, sério.

— E você adora, que eu sei muito bem — ele pisca para mim.

— Como está seu avô? — pergunto ansiosa, tocando os botões da camisa dele. — Temi que você não fosse conseguir vir. Fiquei preocupada.

— Está tudo bem, amor. Ele está melhor.

Eu sorrio para ele e dou-lhe um beijo rápido nos lábios. Com os saltos, sou praticamente da altura dele.

Alguém coloca Friends para tocar, e Antony me arrasta para o meio da quadra. Não há mais ninguém dançando, mas vou com ele mesmo assim, sem me importar. Ele segura minha cintura, enquanto apoio minhas mãos no pescoço dele.

Não, não precisamos dar esse grande beijo hoje a noite. Porque a verdade é que já tínhamos dado nosso beijo de reencontro há vários anos.

Antony e eu nos esbarramos um ano depois dele ter ido embora, enquanto eu saia da Danya — a famosa sorveteria predileta dele. Ele estava na cidade para visitar o avô. Nosso encontro foi puramente por acaso, pois tínhamos perdido todo o contato.

Mas vê-lo ali, na minha frente, trouxe de volta tudo o que eu sentia por ele. Eu sentira falta de Antony todos os dias.

— Você está namorando? — Nós dois perguntamos ao mesmo tempo, o que nos fez rir. No segundo seguinte a que dissemos não, estávamos nos braços um do outro, e ele tomou minha boca com fome devoradora. Só paramos quando o ar nos faltou. Mas ele não me soltou depois. E eu tampouco queria que ele o fizesse.

Passamos a tarde inteira juntos. Ele me contando como estava sendo bom ver sua mãe bem e feliz. Contei sobre minhas sessões de terapia — aquela indicada por ele, do cartãozinho que ele me deixara —, e de como em apenas um ano, eu já estava me sentindo muito melhor. Eu usava uma saia na ocasião e ele ficara tão eufórico diante desse progresso que o sorriso que ele me deu naquele momento estará gravado em minha mente para sempre.

E contei também sobre Mantovan. Que sim, eu tinha saído da lista de espera, afinal, e ganhado um bolsa integral. Mas precisei adiar minha ida em um ano para focar apenas em mim. Nisso, Antony me informou com muito gosto de que sua universidade, sendo obra do destino ou mera coincidência, ficava na mesma cidade, exatamente vinte minutos de Mantovan.

Depois disso eu voltei a beijá-lo com emoção esmagadora, mesmo meus lábios estando inchados e implorando descanso. Ah, eu não o largaria nunca mais.

E aqui estávamos nós. Juntos, felizez, e cada vez mais apaixonados um pelo outro. Ainda me causava uma estranha sensação no peito quando eu pensava em tudo que passei e me via ao lado do homem que eu amava, o qual por um tempo doloroso achei que nunca mais veria. Meus amigos e minha família estavam bem, igualmente felizes, o que mais eu poderia querer? Era uma boa vida. Uma vida excelente.

Antony me faz girar. Eu sorrio para ele, lembrando-me de uma coisa.

— Você lembra quando te encontrei na quadra de natação e logo depois exigi que apagasse meu número?

— Lembro, claro. Você estava toda irritadinha — ele implica.

— Bem, acho que nunca disse isso, mas que bom que você não o apagou.

Antony ri, satisfeito, então me beija.



FIM

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