Cinco

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Flora passou o dia comigo e ficou até mais tarde para que eu a ajudasse a se arrumar. Ela e Kai se uniram para me convencer a mudar de ideia e ir para a festa do Colin, mas fui firme até elas se cansarem.

Meus pais, Kaila e eu, estamos comendo pizza e assistindo um filme meloso na TV, onde o casal provavelmente não terminará junto, porque um deles terá câncer e morrerá.

Fazemos isso todos os sábados, o lance da pizza, ou outra comida não muito saudável, e filme. Claro, às vezes Kaila não está presente, já que ela prefere sair com os amigos, mas hoje — milagrosamente — ela não tem nenhuma festa para ir. Sendo honesta, eu mesma preferiria estar terminando de ler o livro para o debate de segunda feira, mas tento focar no filme. Meus pais estão espremidos na poltrona velha que era do vovô, comendo sorvete diretamente do pote, felizes por terem um momento de rebeldia. Me pergunto quanto tempo vai levar para mamãe dormir.

O filme dura duas horas — sim, a mocinha morre —. Já são quase meia noite e a casa está silenciosa. Eu permaneço na cozinha, lendo meu livro, sem sono. Flora me enviou algumas mensagens e fotos da festa, e todos parecem se divertir. Ela me deixou informada sobre os pares que se formaram depois da palhaçada dos sorteios que os garotos dos times fizeram com quem quis participar. Também me contou que Henri e Analu discutiram na frente de todo mundo, mas não me deu muitos detalhes.

Volto a me concentrar na história de vida da família Dean, quando meu celular apita. Imagino que seja Flora, mas não é. Me sinto desconfortável. Não parece natural para mim ter contato com Antony. Mas parece que ele superou esse problema.

Abro a notificação.

Número desconhecido:
Você deve estar dormindo, já que dorme às seis da tarde, mas queria avisar que o dinheiro que conseguimos é mais que o suficiente pro aluguel dos ônibus.

O que eu faço? Será que eu devo responder? Ignorar? Talvez eu devesse ignorar, ele acha que eu estou dormindo mesmo. Mas como no dia da primeira ligação, meus dedos automaticamente digitam uma resposta.


Eu:
Okay.
Obrigada.

Ele retorna logo em seguida.

Número desconhecido:
Olha só!!!! Ela está acordada.

Antony não espera que eu responda: ele me liga. Olho sem reação para o telefone tocando. Por que ele está fazendo isso?

Desligo a chamada. Segundos depois, outra mensagem aparece.

Número desconhecido:
Não desligue na minha cara. ATENDA. Não sou fã de mensagens.

Eu:
E eu não sou fã de ligações. Muito menos de madrugada.

Ele liga de novo. E de novo. Coloco no silencioso para que meus pais e Kaila não acordem.


Número desconhecido:
Eu não vou parar, Lia.

Respiro fundo e deixo o telefone tocar por um tempo, então atendo.

— O que você quer? — respondo ríspida.

— Já disse, não sou fã de mensagens. — A voz dele sai abafada do outro lado da linha.

Cada Vez MaisOnde as histórias ganham vida. Descobre agora