Quinze

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Um barulho irritante penetra a névoa do meu sono. Pisco algumas vezes e quando minha visão foca dou de cara com o tecido branco da camiseta de Antony. Há calor em cada parte onde o corpo dele pressiona o meu.

Quase solto um palavrão ao perceber o quanto estamos... abraçados. Mas mantenho a boca fechada. Eu preciso sair da cama, dos braços dele, só não sei como posso fazer isso sem acordá-lo. Tento mover seu braço para longe da minha cintura, mas o movimento o faz se remexer, e, ao invés de se afastar, Antony me puxa para mais perto.

Ofego, sentindo um ardor subir por minhas bochechas.

Eu não deveria ter deixado chegar a esse ponto. Não devia ter ligado para Antony, muitos menos deixar que ele dormisse aqui! Antony Ramone está na minha cama. Me abraçando enquanto dorme. O mundo enlouqueceu. Ou talvez seja apenas eu.

E se ficarem sabendo?, penso de repente, ficando mais nervosa. Se isso se espalha pela escola estou perdida.

Não é segredo para ninguém que Antony desliza com facilidade por vários lençóis por aí. Bem como Theodoro, só que mais discreto. E tudo bem. Ele é solteiro, totalmente livre, não estou aqui para julgar, só não quero que pensem que sou mais uma rendida ao charme dele.

Decido me desvencilhar de seu abraço, quer isso o faça acordar ou não. Além do mais, ele precisa ir embora. Faço menção de afastar o braço dele, mas o barulhinho soa outra vez me freando. Ergo a cabeça olhando em volta e vejo o celular de Antony jogado ao lado. Toca mais uma vez antes da tela apagar. Um toque genérico, das configurações do próprio celular.

Original, zombo internamente.

Estico o braço e apanho o celular. Não faço a mínima ideia de onde deixei o meu, e preciso ver que horas são.
Já passa das oito, constato assustada. Meus pais podem aparecer a qualquer momento.

Meu corpo se arrepia. Deus me livre se eles me pagam enroscada com um garoto no quarto.

O celular volta a tocar, a tela acende e leio Mãe. Se ela está ligando com tanta insistência provavelmente não sabe onde o filho se encontra. Pudera! Ele saiu de madrugada.

Volto meu olhar para Antony, ele continua adormecido, o sono pesado. Afasto o braço dele de vez e me sento, tirando os fios soltos da frente do rosto.

— Antony — chamo, sacudindo de leve o ombro dele. — Antony, acorde.

Ele resmunga um pouco antes de abrir os olhos. Se a situação não fosse tão tensa, eu teria rido diante da visão dele acordando. Era um tanto fofo.

Ele olha para mim com a testa levemente franzida e leva uns segundos para se situar, então seus lábios se abrem em um sorriso que parece iluminar todo o rosto.
Engulo em seco.

— Ei — ele diz, a voz rouca. — Bom dia.

— Bom dia — devolvo, virando o rosto para não ter que encará-lo.

— Dormiu bem? — Antony pegunta. Sinto seus dedos quentes tocarem os meus com delicadeza. Meu coração erra um batida. Lembro do celular ainda em minha outra mão e pigarreio, estendendo para ele.

— A sua mãe ligou algumas vezes. É melhor você retornar.

— Ah, sim. — É tudo que ele diz ao pegar o celular.

Me afasto e deixo o quarto sem olhar para trás. Praticamente corro até o banheiro e me tranco, apoiando a testa na porta. Sinto a súbita necessidade de me esbofetear. E talvez de gritar um pouco com Antony, mas não posso fazer isso já que ele está aqui por culpa minha, afinal. Não seria muito educado.

Cada Vez MaisOnde as histórias ganham vida. Descobre agora