Vinte

4.3K 646 197
                                    

Flora gesticula animada enquanto fala sobre sua reunião e digita eufórica no teclado do computador. Me sinto uma péssima amiga agora. Assinto e exclamo os "ahs, ohs e uhuns" nas horas certas, mas não estou lhe dando a devida atenção. O fim de semana tinha sido péssimo e agora cobrava seu preço. Passei a maior parte do tempo trancada no quarto com agenda em mãos e tentando planejar a feira de arrecadação.

Tentando.

Minha cabeça dava voltas e voltas com a imagem de Antony beijando aquela garota desconhecida. Ainda tive que responder as perguntas frequentes dos meus pais e garantir que sim, eu estava bem. Não acho que eu tenha enganado nenhum deles, na verdade. Não quando não fiquei para ver o filme depois do jantar no sábado, ou no dia seguinte que fiquei mais quieta que o habitual.
Até Kaila sentiu a tensão e me deixou em paz.

Eu também ainda estava triste pelo lance do dia em família cancelado, mas não comentei com ninguém. Não queria que achassem que eu estava exagerando.

— Enfim, foi tudo perfeito. Estou superanimada — ela conclui e eu sorrio porque não sei o mais que dizer.

— Você se incomoda se eu for pegar algo para comer? — pergunto. — Saí sem café da manhã hoje.

— Sem problemas, vai lá. Eu tenho que terminar isso aqui antes da próxima aula.

Os corredores estão anormalmente tranquilos e presumo que a maioria dos estudantes esteja no refeitório dando os parabéns ao time de natação. O que significa que preciso evitar ir para lá se não quero me encontrar com Antony. No primeiro tempo foi fácil, já que não temos aulas juntos e cheguei bem adiantada.

Paro no meu armário e checo se tenho algo perdido para comer, mas não há nada além dos meus livros. Droga, estou morrendo de fome. Talvez eu possa ir a biblioteca e ver se Lucile tem alguns salgadinhos... Salgadinho é o vício dela, ouvi dizer.

Subo o primeiro lance de escadas rumo a biblioteca, mas antes que eu sequer consiga chegar perto das portas, sou puxada para o lado e me vejo dentro do armarinho de limpeza. A porta bate. Por alguns segundos sou cercada de escuridão e uma mão envolve meu pulso.

— Mas que...

Então a luz é acesa e vejo Antony de pé, de frente para mim. Sorrindo para mim. O pequeno espaço é preenchido por ele. Ele é todo altura e largura e colônia masculina e seu cheiro próprio.

Sinto uma súbita vontade de chegar mais perto, de inspirar o cheiro da curva de seu pescoço, de sentir a macieis dos lábios dele com as pontas dos meus dedos, meus lábios, minha língua...

Pare, pare já!, me obrigo.

Balanço a cabeça para afastar os pensamentos indevidos e dou um passo para trás.

— Qual é o seu problema? — pergunto irritada, mas vou em direção a porta antes que ele me responda, porque a verdade é que não quero ouvir a voz dele. Não posso ouvir.

Mas Antony se põe entre mim e a passagem, cruzando os braços, ainda com o sorriso irritante na cara.

— Por que a pressa? A gente não pode conversa um pouco?

— Num armário, Antony? — Aponto para o espaço ao redor, meio incrédula. — Pera aí..., você estava de guarda aqui me esperando passar?

— Claro que não — ele nega, revirando os olhos verdes. — Eu tinha acabado de sair do banheiro, chamei por você, mas você não me ouviu.

— Não posso conversar agora, eu-

— Opa, opa, opa — ele me interrompe, erguendo uma mão. — Eu ouvi bem, você acabou de me chamar de Antony?

Cada Vez MaisWhere stories live. Discover now