Dezesseis

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No domingo a noite, Flora me convida para ver um filme na casa dela. Austin vem me pegar e vamos juntos. O convite veio em boa hora. Não suportava mais ter que ouvir as lamentações de Kaila. Ela levara uma bronca da mamãe por ter me deixado sozinha e chegado em casa de ressaca - o que era bem pior, na opinião da minha mãe. Não comentei nada sobre meu incidente, mas ela se sentiu de fato culpada quando soube que acordei no meio da noite.

Kai passara o resto do fim de semana choramingando por ter brigado com seja lá quem fosse o namorado da vez. Mal saiu da cama, me fazendo buscar coisas para ela o tempo todo.

Eu estava feliz por poder dar um tempo longe de casa. Ainda mais depois na noite de sábado. Percebi o cheiro assim que deitei a cabeça no travesseiro. Não importava para que lado eu me virasse, o perfume de Antony estava por toda parte. A colônia masculina tomou conta de tudo a cada respiração minha.

Quase pude sentir o peso dele ao lado, a pressão de seu corpo quente junto ao meu, seu braço ao redor da minha cintura... Afastei as lembranças quando me dei conta para onde meu cérebro estava me levando. Era só um cheiro idiota. Eu não ia deixar que isso me afetasse. Não ia ficar pensando nele. Sendo assim, tratei de trocar os lençóis e a fronha, e ainda borrifei o meu perfume por toda a cama só por precaução.

Antony nem se dispusera a entrar em contato depois que tinha ido embora. Nem devia me surpreender já que ele fazia isso sempre. E, tudo bem, confesso que expulsá-lo não foi lá muito gentil depois da grande ajuda que ele me dera, mas achei que ele fosse entender a situação, não me ignorar.

Claro, havia a opção de tomar a iniciativa e mandar uma mensagem, quem sabe, só que eu não me sentia confortável para fazer tal coisa. Cheguei a pegar o celular, pronta para mandar um mísero oi, porém desisti em seguida. A verdade era que eu me sentia patética fazendo isso, então deixei para lá. Ainda podia agradecer a ele na escola.

Apenas Austin e eu prestamos atenção ao filme. Flora, ansiosa demais para o encontro com o reitor em Albertine, só queria saber de separar artigos. O que deixou Austin um pouco chateado, mas ela nem pareceu notar.

Por um lado eu a entendia, se fosse possível visitar Mantovan, eu também ficaria eufórica. Mas a IUM pela estrada levava praticamente um dia inteiro de viagem saindo de Valêncio. Eu tinha que me contentar com fotos do prédio antes da visita oficial, quando enfim eu fosse morar lá.

- Eu sei que é o sonho dela, e dou o maior apoio. Mas devia ser uma noite para a gente relaxar - Austin desabafa no final da noite, enquanto me acompanha para casa. - Ela já tem tudo pronto, Lia, e isso ainda vai levar uma semana.

- Olha, eu sei que é meio chato a falta de atenção, mas dê esse tempo a ela. Acho que é a forma dela de se sentir próxima da mãe.

A mãe de Flora falecera quando ela era garotinha. Sabemos que ela sente falta, não é o tipo de perda que você se acostuma com o tempo. Nunca vai passar. Ela estava buscando o que quer que fosse para se sentir próxima da mãe.

- Eu apenas... sinto que estou perdendo ela antes mesmo dela ir embora - Austin confessa. Meu peito aperta por vê-lo triste.

- Vai funcionar, Austin - eu lhe asseguro, bagunçando o cabelo dele. - Você vai ver.

Ele me lança um sorriso ensaiado que não chega aos olhos e assente. Depois vai para casa. Imagino que se eu estivesse com Henri agora, provavelmente iriamos passar pela mesma coisa. Pelo menos Austin tem a certeza de que Flora o ama e ao menos vão tentar.

Comigo e Henri não seria assim. Não mesmo. Sim, eu me apaixonei por ele; antes de agir como um cretino, Henri fora um cara bem legal. Mas apesar disso, eu teria terminado tudo antes de ir embora.

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