Vinte & Um

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Henri está falando. Muito.

E eu não faço a mínima ideia do porquê, já que ele deveria participar dessa reunião como telespectador, e auxiliar se fosse pedido. Mas ele continua falando desde que me reuni com o conselho estudantil. Interrompera Lavínia no meio de uma frase, cortara a ideia de Romeo como se tivesse alguma autoridade aqui. Minha cabeça lateja e me pergunto como fora possível eu ter amado o som de sua voz em algum momento de minha vida.

Entretanto, não faço nada para calá-lo. Minha vontade é deitar bem aqui, nesta mesa, e dormir de vez. Me sinto um lixo. Perdi o almoço, minha cabeça está pesada de sono e o cansaço sugou toda a minha energia.

Depois do meu encontro no armário, eu tinha corrido para o banheiro, jogado água em meu rosto quente e tentado me recompor. Eu era uma mistura louca de lábios inchados, olhos vidrados e cabelo bagunçado.

Passei o restante do dia aérea, sem dar muita importância ao que acontecia ao meu redor, sentindo-me patética por me permitir ser afetada por Antony. Eu não devia ter cedido tão facilmente, mas droga, ele levava toda a minha racionalidade embora. Isso não tinha como ser bom.

E agora o conselho tinha sido liberado da última aula para tentar planejar a feira. Mas, pelo visto, nada produtivo iria acontecer hoje. Austin me lança um olhar suplicante, e eu dou uma olhada ao redor da mesa para constatar que todos fazem o mesmo.

Respiro fundo, fecho minha agenda e recolho minhas canetas.

— Com licença — peço a Henri, interrompendo o que quer que ele esteja dizendo a Lavínia. — Nós terminamos por aqui.

Henri franze a testa.

— Mas já? Não resolvemos nada ainda.

— No ritmo em que estamos, não resolveremos nada mesmo. Mas não se preocupe, minha equipe e eu podemos cuidar de tudo. Você pode... anotar isso, ou fazer o que quer que tenham pedido para você fazer.

— Olha, Emilia, estou aqui porque o senhor Cesare pediu — contesta, e noto que ele fica ofendido.

Não dou a mínima.

— Pediu para você supervisionar o andamento das coisas, não o planejamento em si.

O silêncio pesado toma conta do ambiente. Henri murmura um "que seja" e se retira da mesa. Ninguém diz mais nada, além de se despedir ao ir embora. Austin permanece comigo, me acompanhando pelos corredores.

— Isso foi meio tenso — ele quebra o silêncio.

— Nem me diga.

Paro o passo subitamente quando uma vertigem faz tudo a minha volta girar. Me apoio em Austin, segurando no braço dele com força.

— Ei, o que foi? — meu amigo se assusta.

— Eu... estou um pouco tonta.

— Você quer sentar, ir a enfermaria? Me diga o que fazer.

— Sentar. E silêncio, por favor. Minha cabeça está me matando.

Austin me ajuda a sentar no chão, e eu recolho as pernas para meu peito. A tontura está passando, mas duvido que eu vá conseguir ficar em pé agora.

— Sua cara está branca — Austin aponta. — Tem certeza de que não quer ir para a enfermaria?

— Sério, Austin, só preciso de um tempo. Não posso ir para lá.

— Por que não? Se você está passando mal... — Austin para de falar e arregalado os olhos. Ele se ajoelha na minha frente e segura meu rosto com as duas mãos. — Lia, você está assim por que não comeu, é isso?

Cada Vez MaisWhere stories live. Discover now