Trinta & Oito

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As coisas estavam extremamente esquisitas.

Primeiro, Flora estava lidando com o fim do relacionamento de anos de modo... pacífico demais. Eu estava esperando lágrimas e lamentações, mas tudo que ela me disse quando nos encontramos era que já esperava por isso e estava bem. Não acreditei nenhum pouco, mas ia deixar ela ter seu momento. Por outro lado, Austin me chamava o tempo todo para saber como ela estava indo.

Os dois estavam me deixando louca.

Meus pais voltaram da viagem bem, e mamãe chegou a me perguntar se eu não traria Antony para jantar. Ela até disse o nome dele direito. Era absurdo o fato dela estar disposta a conhecê-lo justo agora. Antony só tinha me mandado uma mensagem no domingo a noite para saber se eu estava sozinha em casa — o que não era o caso.

E no momento, eu encarava o teto do meu quarto com zero vontade de ir a escola. Coisa que eu deveria fazer, uma vez que era o último dia e o resto da semana seria concentrado apenas no baile.

Resmungo, afastando as cobertas e saindo da cama. Depois de um banho rápido e vestida em meus jeans e camiseta habituais, apanho minhas coisas. Paro um instante, avaliando minha velha agenda, e sei o que minhas mãos procuram antes de eu mesma perceber.

Você pode fazer o que quiser.

Toco a caligrafia refinada do meu avô. Ele tinha essa letra perfeita para escrever cartas. Havia um monte delas em sua casa antiga, todas para vovó, nesses anos em que viveram juntos. Quando eu era mais nova, sonhava com as cartas que eu poderia receber. Não românticas, ou coisa do tipo, mas para mim, cartas sempre me pareceram um ato claro de alta estima.

Há muito o que dizer de alguém que passa o tempo escrevendo algo particularmente para você.

Deixo minha nostalgia de lado e saio de casa antes de perder o ônibus. Vou o caminho todo carregando a página inicial do meu e-mail, ansiosa para alguma notícia de Mantovan. Ainda não há nada. Tento não ser negativa sobre isso. Mesmo boa parte da turma já tendo suas respostas.

Me encontro com Austin logo na entrada e ocupamos grande parte do dia com organização da festa. A maioria dos estudantes do nosso ano desfila pelos corredores felizes por não serem obrigados a estar na escola amanhã. Tecnicamente, a vida no ensino médio acabou para nós.

Austin se separa de mim quando chegamos no refeitório, indo direto para a mesa da nossa turma do conselho estudantil. Eu olho em volta, procurando por Flora, e a vejo com seus colegas do jornal.

Eu poderia me sentar a mesa com Austin, mas tenho receio de Flora achar que estou tomando algum tipo de partido. E não quero sentar com eles e ouvir mais um monte de coisas sobre o baile.

Suspirando, pego minha bandeja e me sento no meu lugar de sempre. Provo um pouco do suco e volto a checar meu e-mail. Nada.

— Por que será que Analu e Henri estão sentados longe um do outro?

Ergo a cabeça e me deparo com Theodoro. Ele se ajusta confortavelmente na cadeira. Trouxe sua bandeja também.

Dou de ombros, fingindo me concentrar em meu sanduíche. Theo é tão intrometido. É como a versão masculina da Iza Gonzáles. Exceto que ele não espalha fofocas por aí. Só gosta de saber delas.

— Eles terminaram — é tudo que digo.

— E como você sabe disso? — pergunta desconfiado.

— Ouvi dizer.

Theo ergue as sobrancelhas, e da uma mordida generosa em um dos pedaços de pizza no prato. Depois fixa os olhos em mim.

— Suponho que também há de saber o porquê do Ramone estar encarando você do outro lado do refeitório, ao invés de estar aqui ou te levar para a mesa dele?

Cada Vez MaisWhere stories live. Discover now