Treze

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Não havia sido uma semana das melhores. Longe disso. Eu sobrevivera até a sexta-feira na base do estresse e indignação. Ainda estava digerindo o fato de que teria que trabalhar com Henri. Mas, como meus amigos ressaltaram - muitas vezes -, faltava bastante para isso, o que não eliminava o problema, mas, pelo menos, o adiava.

Quanto a Antony, eu o via pela escola, mas o evitava a todo custo. Nas aulas, quando eu o pegava olhando para mim, virava o rosto na hora. Se bem que ele não tentara nenhuma outra conversa depois do nosso confronto fora da sala. O que não me surpreendia. Só provava que tudo não passou de uma pegadinha para me irritar. Eu teria deixado de lado, e ignorado, como todas as suas outras tentativas anteriores de me tirar do sério, mas não dessa vez. Antony havia brincado com uma coisa séria demais para mim. Flora não perdeu a chance de me dizer que eu estava exagerando, apenas Austin ficara do meu lado. Ele nunca gostara dos atletas da escola mesmo.

Eu estava em casa, havia recusado o convite deles para ir ao Mama Sarita! Meus pais tinham acabado de receber uma ligação de uma das primas do meu pai. O marido estava doente, precisaria passar a noite no hospital. Nada muito grave, disseram, mas não tinham com quem deixar os filhos. Mamãe queria ir sozinha, mas papai não a deixaria dirigir sozinha a noite, já que a casa da prima Joane ficava um pouco longe. Então os dois se preparavam para ir juntos.

Seria apenas Kaila e eu.

- Prometa que não vai sair - mamãe pede, parando no vão da porta do nosso quarto, segurando uma mala pequena. O suficiente para ela e papai passarem a noite.

Kaila está andando pelo quarto em busca de suas coisas para ir tomar banho.

- Eu não vou sair - ela diz, revirando os olhos. - Você não é meio grandinha para ter medo de dormir sozinha, Lia?

A alfinetada machuca. Sim, eu sou meio grandinha, mas ficar sozinha me apavora, ainda mais a noite. Não que eu precise dormir com alguém, isso nem seria possível mesmo, porque Kaila dorme fora o tempo todo. Mas só de imaginar passar a noite toda sozinha em casa meu coração acelera. Isso surgiu assim como minha insônia, lá por volta dos meus treze, catorze anos. Entretanto, a insônia passou, o medo, não.

Minha mãe não diz isso porque sabe que eu tenho pavor. Ela sabe apenas que eu não gosto. Não estava aqui quando eu surtei no meio da madrugada achando que estava sozinha - meus pais tinham ido viajar na época -, quando na verdade Kaila só estava na sala assistindo a algum programa na TV. Ela nunca contou isso à eles.

Mamãe pede para que ela me faça companhia apenas porque ando irritada esses dias, e, claro, porque acha que sou nova demais para ficar sozinha, mesmo eu tendo mais juízo que Kaila.

Minha irmã entra no banheiro e eu acompanho meus pais até lá fora. Papai beija minha cabeça antes de entrar no carro. Eu aceno para eles antes de irem.

Kaila resmunga durante todo o jantar sobre ser sexta a noite e ter que ficar em casa. Bom, ela pode ir se quiser. Não quero ser responsável por fazer da sua noite uma ruína completa e infeliz. Tanto faz. Quase digo isso a ela, mas não tenho coragem o suficiente. Então permaneço quieta e vou me deitar. Ela demora para vir também, fazendo barulho desnecessário quando aparece, o que significa que está irritada comigo agora. Somos duas, então. Quero lembrá-la de que ela é a adulta aqui e devia se comportar como tal, porém, isso geraria uma briga. Estou cansada demais.

Só dou as costas a ela e tento dormir.

Só dou as costas a ela e tento dormir

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