Doze

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— Não acredito que você expulsou o pobre garoto — Kaila diz enquanto ri. Exageradamente.

— Eu não o expulsei! — me defendo. — Tecnicamente.

— O cara te dá carona, compra remédio, e não leva nem um minuto para você colocar ele para fora?

Colocando dessa forma, parece mesmo que agi como uma babaca. Mas, veja bem, o que mais eu poderia fazer? Oferecer água, café? Eu nem queria que ele viesse, para começar. Não seria eu a prolongar sua presença.

Nos despedimos assim que ele voltou do banheiro, sem pausa para conversas. Fim.

Não ia contar para minha irmã que Antony esteve aqui. Mas ela viu a caixinha dos comprimidos, então optei, dessa vez, por contar a verdade.

— Ele me deixa... desconfortável — admito, enquanto guardo as roupas dobradas na cômoda.

— Desconfortável de que jeito? — Kaila pergunta, sem dar muita importância, começando a digitar eufórica no celular.

— Oras, desconfortável é desconfortável.

— Não é, não. Pode ser do tipo "te odeio tanto que quero que você suma" ou "estou trêmula, quero um beijo seu, por favor".

Olho incrédula para Kaila. Trêmula? Beijo? Céus, não é nada disso! Nem sei porque ainda me surpreendo. Não adianta tentar conversar com ela, Kai pensa muito diferente de mim. E as ideias dela são sempre absurdas.

Deixo-a sozinha no quarto, indo ajudar mamãe na cozinha. Ela está visivelmente exausta do dia, então, depois de guardar as sobras do jantar, fico com a tarefa de lavar a louça.

Não me importo de fazer tarefas. É prático, simples. E me distrai. O problema é que é uma distração passageira demais. Lavar a louça não é o suficiente para me cansar, ao contrário, deixa minha mente livre para pensar em coisa que não quero.

A pergunta de Antony ecoa em minha cabeça: "Do que você tem medo, Emilia?"

Riu comigo mesma. Não há nenhuma possibilidade de Antony Ramone me conhecer de verdade. Não, não é possível.

Só que... Eu também não achava que era possível passarmos algum tempo juntos ou que algum dia ele sequer fosse entrar em minha casa.

Coloco o prato de lado, que estava sendo esfregado mais do que o necessário, fecho a torneira, e toco a bochecha direita com os dedos molhados.

Lembro de Antony me perguntando se eu estava melhor quando voltou para a sala. Apenas assenti. Então ele se aproximou, me deu um beijo na bochecha, abriu a porta e foi embora.

Bom, talvez eu não tivesse contado toda a verdade assim para minha irmã. Mas era só um detalhe idiota e sem importância alguma.

Balanço a cabeça na tentativa de afastar a lembrança. Abro a torneira e jogo água no rosto, esfregando a bochecha para apagar a sensação dos lábios de Antony no local. Estou sendo boba. Isso não é nada. Não é.

 Não é

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Cada Vez MaisWhere stories live. Discover now