Se eu pudesse descrever as últimas duas horas em uma palavra, ela seria: gloriosas. Ganhei em todos os jogos, pelo menos, três vezes em cada um, e isso emputeceu os três.
─ Eu vou descobrir como você fez aquilo! ─ Jack resmunga, colocando o prato na pia.
Como dito, Nathan bancou o almoço pra todo mundo.
─ É bem fácil, na verdade. ─ eles me olham, curiosos. ─ Se chama talento!
Samuel gargalha. Pelo pouco que os conheço, pude perceber que Sammy é o mais engraçado – e o que mais tem senso de humor –, enquanto Jack é mais reservado, mas também é divertido. Sem contar com Nathan, o paizão entre os três. Talvez eu tenha acertado o ninho, mas errado o passarinho.
─ Hayes disse uma vez que você era.. diferente, mas eu nunca levei a sério. ─ Samuel diz, dando a sua última garfada na comida antes de levar o prato até a pia. Eu não sabia quem iria lavar a louça, mas não seria eu.
─ Espera aí! ─ apoio as mãos na mesa, me ajeitando na banqueta. É, nós almoçamos na ilha da cozinha, e não na mesa de jantar. ─ O Hayes fala de mim?
Os três se entreolham por alguns segundos e começam a rir logo depois. Eu não achei graça.
─ Tá brincando? Ele é obcecado por você! ─ Jack responde, com um pouco de sarcasmo. Faço uma careta. ─ Ele te elogia e te xinga na mesma medida.
Ergo a sobrancelha, mudando a direção do meu olhar para cada um dos três.
─ Vocês vão me dizer por vontade própria ou eu vou ter que começar uma sessão de tortura usando a minha preciosa muleta? ─ cruzo os braços, esperando alguém se pronunciar.
Samuel coça a nuca, fingindo não fazer parte da conversa. Jack batuca os dedos no mármore, me enrolando, e eu sei que Nathan não falaria nada.
─ Acho que vou começar com você, Sammy. ─ ameaço me levantar, ouvindo a sua risada, até ele balançar os braços em redenção. ─ Foi o que eu pensei.
Novamente, os três se entreolham. Mas que merda é essa de ficar se olhando toda hora? Eu hein, que coisa irritante.
─ Ele diz que você é a garota mais legal do colégio de vocês, mas... ─ ele limpa a garganta, fazendo uma pausa dramática. ─ Mas é muito egocêntrica. Pra cada elogio vem uma crítica, saca? É isso.
Encaro o mármore da ilha, pensando brevemente no que ele havia dito. Eu não sou egocêntrica por negar pegar um garoto, sou? É claro que não, isso é coisa de macho inconformado.
─ Não sou egocêntrica, só não me interesso pelo tipo de cara que ele é. ─ respondo, mexendo os ombros. Pelo visto, a minha resposta direta chocou um pouco os dois. ─ Talvez a minha filosofia de vida seja um pouco.. embaraçosa, mas eu não vou ficar com alguém só porque ele é obcecado por mim.
─ E nem deveria. ─ Nathan responde imediatamente, ganhando a nossa atenção, incluindo o meu olhar confuso. ─ O que? Todo mundo sabe que o Hayes explana todo mundo que ele pega.
─ É verdade. ─ Sammy concorda, abaixando os ombros. ─ Isso é coisa de menininho na puberdade.
─ E você tem quantos anos, Sr Não Sou Mais Um Garoto? ─ faço graça, vendo o seu sorriso divertido.
Nathan pega o seu prato e o coloca na pia, batendo as mãos no tecido jeans da calça antes de sair da cozinha. Ele parecia desconfortável, mas quem liga? Eu não.
─ Vinte, Sra Não Ignoro A Minha Filosofia de Vida. ─ ele retruca, afiado como eu.
Vamos ser bons amigos.
─ Sabe, eu até estava um pouco receosa quando a minha mãe disse que o Nathan chamaria alguns amigos... ─ começo, me levantando da banqueta. ─ Mas vocês até que são legais.
─ Até que somos legais? Você também não é a rainha da diversão, sabia? ─ Jack protesta, me alcançando a muleta.
─ Com certeza não com isso aqui. ─ balanço as mesmas, tirando mais uma risada dos dois. ─ Mas vocês verão, assim que eu me livrar dessa coisa no meu pé, eu vou voltar a ser a rainha da diversão de Los Angeles que eu era antes desse trágico acidente.
Me sento no sofá, suspirando. O videogame estava desligado há bons minutos, e a televisão exibia o habitual desenho animado, que dessa vez era Scooby Doo.
─ Isso é um convite pra sair? ─ Samuel se senta na ponta do sofá em que estou, levando os meus pés até o seu colo. Digamos que eu sou muito boa em fazer amizade e criar intimidade bem rápido. ─ Porque se for, eu aceito. ─ é a minha vez de ir.
─ Não era, mas pode ser. ─ respondo rápido, só depois me lembrando de que eu estaria bastante ocupada nas próximas duas semanas. ─ Mas só depois do fim da temporada.
─ Que será...? ─ Jack pergunta, se jogando na poltrona.
─ Em duas semanas. ─ suspiro, imaginando como seria ter de pegar toda a nova coreografia que estávamos aprendendo quando aquela desgraçada me derrubou, além de atrasar todas as matérias. ─ Eu estou perdendo a última semana de aulas, o que significa que eu provavelmente vou ficar bem abaixo da média em todas as matérias nas provas da próxima semana.
Deixo a cabeça cair no couro do sofá, me batendo mentalmente por perder o foco nos estudos logo no final do último semestre. Literalmente, o último semestre.
─ Pede ajuda ao Nate. ─ levanto a cabeça para olhar para Jack e logo olho em volta, dando falta de Nathan.
─ Nathan? O seu amigo Nathan? ─ ironizo, voltando a deitar a cabeça. Agora Samuel fazia uma massagem incrível no meu pé não-torcido.
─ Pode parecer piada, mas esse filho da puta é um gênio! ─ Jack continua, e então percebo Nathan aparecer na sala e se sentar no sofá do outro lado da sala. Nunca entendi o motivo de ter tantos sofás em uma casa onde vivem duas pessoas.
Nathan percebe que estamos falando dele e logo entra no assunto.
─ Não exagera. ─ ele murmura.
─ Não tô exagerando! ─ Jack garante, se arrumando na poltrona. ─ Ele te contou que trancou a faculdade de engenharia só porque queria um ano de férias?
Engasgo com a minha saliva.
Eu adoraria me gabar pra escola inteira que eu peguei um universitário.
─ Você faz engenharia? ─ pergunto, ainda desacreditada. ─ Onde?
─ Aqui em Los Angeles mesmo. ─ ele responde, dando os ombros. ─ Consegui metade de uma bolsa por olheiros do time, e ganhei a outra metade em uma prova da própria faculdade. ─ ele falava como se fosse pouca coisa. ─ Posso te ajudar a estudar se você quiser.
Pondero um pouco sobre a sua oferta, mesmo sabendo que no final aceitaria. Não é nada demais, ele só está me fazendo um favor, sem pedir nada em troca e sem nenhum tipo de segundas intenções. Certo?
─ Beleza.
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