41: Efeito borboleta

57 14 12
                                    




Filippo: Me liga quando acabar, para dizer se foi tudo bem.

Alexia leu a mensagem por debaixo da mesa, mas não a respondeu de imediato. Estava nervosa demais para pensar em algo que pudesse escrever, então apenas bloqueou o aparelho, o colocou sobre a mesa e bebeu um gole generoso de limonada enquanto olhava para trás, onde Antônio e Jorge a vigiavam do balcão do Ártemis, e depois para a frente, onde a porta do lugar, ainda fechada, a fazia bater o pé de nervoso por debaixo da mesa.

Ainda faltam cinco minutos para as cinco, a garota lembrou a si mesma, tentando se consolar. Podia ficar nervosa de verdade apenas quando ele estivesse atrasado, o que - ainda - não era o caso.

Conforme havia sido pedido pelo próprio Daniel, ela aceitou conversar com ele, mas nos seus termos. Dessa forma, marcou para as cinco da tarde de um sábado, no Ártemis. Com Antônio e Jorge por perto, ela não teria medo.

Ela tomou um pouco mais da limonada.

Quatro minutos de resto.

A porta do Ártemis foi aberta e Alexia sentiu o coração parar por um momento, quando capturou a imagem nada discreta de Daniel Duarte entrando no pub favorito dos jovens de Horizonte do Norte. Ele era muito alto, muito forte, muito loiro. Loiro como Trina. Loiro como ela.

Enquanto o delegado se aproximava após tê-la avistado, Alexia se permitiu estudá-lo minuciosamente. Se permitiu, apenas por aquele instante, vislumbrar semelhanças entre os dois que poderiam apoiar a dúvida da paternidade plantada por ele: tinham tons semelhantes de cabelo (o de Alexia era um louro mais escuro) e os olhos dela eram castanho-esverdeados (sempre pensara que o verde havia vindo do pai biológico, já que a mãe possuía írises castanhas). Tirando isso.... Nada. Ele era só um estranho. No máximo, o pai de uma amiga não muito próxima.

Quando Daniel enfim se aproximou, ele parecia estranhamente nervoso.

"Boa tarde, Alexia", ele disse, o que foi um pouco decepcionante. Por algum motivo, ela achava que ele a chamaria pelo nome dado por sua mãe.

"Boa tarde".

Ela esperou que ele se acomodasse em alguma das cadeiras vazias de sua mesa e bebeu o restante de sua limonada, ciente de que suas mãos tremiam um pouco. Se ele estava nervoso, ela então...

Daniel tentou sorrir. Ele apoiou as duas mãos sobre o tampo da mesa, cruzando-as, como se não soubesse o que fazer com elas. Depois, olhou rapidamente por cima do ombro de Alexia, na direção que ela sabia que Antônio e Jorge estavam. Era como observar alguém que não sabia o que fazer.

Alexia pigarreou.

"O Senhor gostaria de pedir algo?", ela questionou.

"Não, obrigado", Daniel rapidamente negou. "Eu... Só preciso organizar tudo o que quero dizer".

Certamente, prestar explicações à uma possível filha abandonada não devia ser a coisa mais fácil do mundo. Alexia tentou ser paciente. Tentou.

"Pode começar explicando como conheceu a minha mãe", ela sugeriu.

Por um instante, Daniel a encarou. Ainda parecia meio perdido, mas assentiu.

"Você se parece bastante com ela".

"Pareço?", Alexia achava que sim, mas não tinha certeza. Não havia fotos com as quais comparar e as lembranças mais vívidas que possuía de Paola incluíam ela extremamente debilitada pela quimioterapia.

Daniel assentiu.

"Eu a conheci quando fui fazer faculdade em Natal. Ela trabalhava próximo do campus e eu a via sempre que saía das aulas noturnas. Passava pelo ponto onde ela esperava o ônibus todas as noites", ele explicou. "Achava ela muito bonita, mas nunca tive coragem de abordá-la. Até que uma noite tentaram assaltá-la".

(NÃO) FOI POR ACASO [COMPLETO]Where stories live. Discover now