07: Noite da pizza

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Filippo estava em seu quarto, deitado na cama e com os fones no volume máximo enquanto Os Paralamas do Sucesso o acalentava com suas melodias quando Giovanna entrou sem bater.

Durante todo o dia anterior, ela o ignorara por causa de Gabriel e permanecera distante. Vê-la naquele momento, mesmo que por invadir o seu quarto, fez Filippo ter um pouco de esperança de que a relação deles não havia sido lá muito estragada.

Não era como se ele estivesse agindo por mal, de qualquer forma. Giovanna teria que reconhecer isso um dia.

Filippo retirou os fones de ouvido para escutá-la.

"Vim perguntar se quer pedir pizza. A mamãe ligou e ela vai ficar fora a noite toda enquanto o papai só chega às dez", disse a garota.

Ter dois pais médicos podia lhes proporcionar uma vida de luxo para lá de boa acerca do que o dinheiro pode comprar, mas também era uma abertura para uma autonomia quase forçada. Sem os dois por perto, os gêmeos haviam sido cuidados por estranhos até serem grandes o suficiente para saberem contar apenas um com o outro.

Era por isso que Filippo odiava quando brigava com Giovanna.

"Pode ser", o rapaz respondeu. "Só vê se não pede doce. Sabe que odeio misturar doce com salgado".

"Quanta frescura", a garota revirou os olhos, mas sorriu em seguida, o que devia significar algo bom.

"Você ainda está com raiva de mim?", Filippo resolveu ir direto ao ponto, questionando-a.

"Eu deveria?".

"Não seja má, Giovanna. Eu só...".

"Se preocupa, eu sei", ela o cortou. "É só que você e o papai pegam muito pesado com o Gabriel, Fê. Se o conhecessem de verdade...".

"Gigi...".

"Deixa pra lá", ela o olhou com certa amargura, sabendo que nada do que dissesse faria o irmão mudar de opinião. "Vou pedir a pizza sabor quatro queijos".

Antes que Filippo pudesse protestar, fosse pelo modo como ela desistiu de falar sobre Gabriel ou sobre o sabor da pizza, Giovanna saiu do quarto fechando a porta atrás de si e o deixando novamente só. Filippo bufou, contrariado. Por que a irmã não podia ser como as outras garotas do condomínio e namorar babaquinhas ricos e inofensivos ao invés de babaquinhas metidos a bandidos?

Optando por deixar suas músicas de lado um instante, Filippo saiu do quarto e passou a andar pela casa consideravelmente grande para uma família de quatro pessoas, que, com duas delas sempre ausentes, tornava-se quase um castelo para as restantes.

No andar inferior, onde ficavam as salas, a cozinha, a área de serviço e os escritórios do pai e da mãe, Filippo se jogou em um dos sofás e passou a assistir um filme qualquer na tevê até o som da campainha o fazer levantar para atender.

Quando abriu a porta, a sua surpresa pareceu ser refletida no rosto de Alexia por vê-la ali.

"Vim entregar a pizza", ela quase pareceu nervosa ao erguer a caixa na altura dos olhos do rapaz, dando-lhe um sorriso sem graça.

"Não sabia que estava trabalhando com o seu pai no Ártemis", Filippo não conseguiu deixar de comentar enquanto pegava a carteira no bolso da calça para efetuar o pagamento.

"Eu não estou", Alexia respondeu. "Só fiz o favor de entregar esta pizza em específico, porque os meus primos moram aqui perto e eu queria visitá-los".

"Entendo".

Entregando-lhe uma nota de vinte e recebendo a caixa em troca, Filippo se permitiu olhar para Alexia mais um pouco, percebendo os cabelos ruivos presos em dois coques no topo da cabeça. Ele não sabia se era a cor natural das mechas, mas elas combinavam bem com o tom quase indefinido dos olhos dela. Eram castanhos em lugares parcialmente escuros, mas verdes quando havia mais luz.

(NÃO) FOI POR ACASO [COMPLETO]Where stories live. Discover now