26: Fofoqueiros se reúnem

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Duas semanas após o assalto malfadado à agência bancária, o assunto ainda se mantinha novo nas rodas de conversa dos habitantes de Horizonte do Norte. Como toda cidade pequena e acostumada à restrição de acontecimentos trágicos, quando algo do tipo acontecia, perdurava por tempo o suficiente para se tornar uma história cada vez mais cabeluda.

"Ficaram sabendo que agora o Gabriel morreu porque se jogou na frente da bala para proteger um comparsa que era seu amante? É o que anda dizendo a fofoqueira da dona Esmeralda para todo mundo do meu prédio", Carlos Eduardo falou, ocupando um lugar à mesa onde Alexia, Judy e Melanie estavam no Ártemis.

O grupo de amigos, assim como quase toda a população da cidade, não conseguia evitar aquele assunto sempre que se reunia. Parecia que, a cada momento, uma informação nova surgia para ser acrescentada.

"Acho que prefiro mais essa versão do que a que a polícia divulgou, que ele tentou fazer uma refém e foi atingido por isso", Judith respondeu, mexendo em seu milk-shake de morango com o canudo.

"Sinceramente, agora eu só queria saber mesmo é sobre a Giovanna. Apesar das mil e uma versões da história, todas elas têm o mesmo final em que o Gabriel morreu, mas o que aconteceu com ela? Podem não estar comentado sobre isso, mas sabemos que os dois tinham algo", disse Melanie, mordiscando uma batata-frita enquanto maquinava sua própria teoria.

Na manhã em que tudo aconteceu, Giovanna desmaiou quando soube do ocorrido e foi parar na enfermaria. Mas então, depois disso, ela simplesmente desapareceu. Parou de frequentar as aulas e até mesmo deixou de comparecer ao funeral do rapaz, como se simplesmente nunca houvesse existido.

"Devia ter perguntado para o Filippo quando teve a oportunidade", sem conseguir chegar à uma boa conclusão, Melanie se voltou para Alexia.

"E o que eu perguntaria? Como está a sua irmã cujo namorado morreu em um assalto?", rebateu Alexia, irônica.

Naquelas duas semanas, Filippo também havia faltado alguns dias e eles só se falaram uma vez no ponto de ônibus, sobre livros. Afinal, aquele era o assunto mais neutro que ela conseguiu pensar, quando ainda não sabia o que fazer com os seus pensamentos sobre o rapaz e ele estava completamente aéreo por causa da irmã.

"Aposto que ele te responderia", Melanie deu de ombros, sem se deixar abalar.

Alexia revirou os olhos.

"Ela certamente está em estado de choque", foi o palpite de Judy. "Não deve ser fácil perder alguém de forma tão repentina e dramática".

"Ela vai precisar de um tempo", concordou Cadu.

E Alexia também apoiava aquela teoria quando ela própria ficara afetada pelo assalto por pensar que o funcionário ferido havia sido Jorge, o que, felizmente, não foi o caso. Mas se uma simples suspeita já a deixara fora de si, como devia estar Giovanna, cuja única vítima da tragédia era um ente querido seu?

"Melhor a gente mudar de assunto", decretou a garota, tomando um gole de seu refrigerante de limão.

"Eu vou trocar a música primeiro. Detesto Country quando não é Taylor Swift", Melanie ficou de pé e seguiu rumo ao balcão, para atormentar o coitado do Antônio com isso.

"Por que a gente anda com ela mesmo? Assim, só para saber".

"Não seja implicante, Judith".

Judy!".

Alexia se permitiu sorrir por um momento, por causa da picuinha dos amigos, e sorriu ainda mais largo quando reconheceu a cliente que entrou no Ártemis naquele instante.

(NÃO) FOI POR ACASO [COMPLETO]Where stories live. Discover now