13: Primeiro amor

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Demorou quase uma semana para que Alexia voltasse a ter a oportunidade de conversar com Filippo e retomar o papo deles de onde haviam parado. Foram necessários longos cinco dias de uma trágica volta à escola em que todos, exceto os seus amigos e primos, pareciam vê-la e trata-la com uma mistura de medo e hostilidade; além da permanência longe da internet para coisas frívolas e a falta de permissão para sair, porque o castigo dado pelos pais continuava valendo.

Felizmente, acabaria em três dias. Felizmente, na sexta-feira Antônio e Jorge estavam tão convencidos de seu arrependimento pelo ato vergonhoso de socar um colega (apesar da justa causa envolvida) que lhe devolveram o celular e permitiram que ela voltasse para casa de ônibus, já que ambos vinham se revezando para busca-la naquela semana.

Alexia nunca pensou que chegaria um dia em que ela ficaria feliz de entrar naquele maldito ônibus, mas era como ela se sentia apenas por poder respirar novos ares depois de quase catorze dias de um confinamento casa-escola-Ártemis.

Para completar o combo de felicidade repentina, pela primeira vez o ônibus parecia vazio o suficiente para que ela não precisasse ir em pé e tivesse um lugar na janela pelos quinze minutos de viagem, que resolveu aproveitar para ler Tudo e Todas as Coisas, da Nicola Yoon. Uma leitura inusitadamente recomendada por Judy, que havia oficialmente ingressado no seu pequeno círculo de amigos após o quase acidente.

Foi quando estava completamente imersa na leitura, lendo a primeira conversa entre a Maddie e o Olly, que Alexia notou que alguém havia sentado no lugar ao seu lado e lia o livro também, inclinando-se de maneira nada sutil para espiar as páginas com ela. Ao olhar para a pessoa, ela reconheceu o sorriso simpático de Filippo.

"Oi", disse ele, encolhendo os ombros como uma criança que foi pega na flagra fazendo uma traquinagem.

Alexia teve vontade de rir, mesmo que não fizesse a mínima ideia do porquê.

"Oi", ela respondeu.

A barba dele estava por fazer outra vez e Filippo havia prendido os cabelos em um rabo de cavalo rente ao pescoço, onde também repousava Headphones roxos que em nada combinavam com o uniforme vermelho e cinza, completamente careta, do Educandário Fernão Moreira.

"Qual é o nome do seu livro?", ele questionou, entortando-se para tentar ver a capa. Foi quase instantâneo para Alexia lembrar de si mesma no primeiro dia, exceto pelo final trágico. Filippo manteve a compostura e não caiu, ao contrário dela. "Tudo e Todas as Coisas", ele sussurrou ao finalmente enxergar os dizeres na capa branca. "Parece interessante".

"Está sendo", Alexia respondeu. "Foi uma recomendação de uma amiga que cumpre pena na biblioteca municipal".

"Pena?", Filippo arqueou um sobrancelha, curioso.

Alexia deu de ombros.

Apesar de considerar Judith uma amiga, a garota tinha dessas manias de soltar coisas da sua vida e depois não explicar. Como o fato de que ela tinha que trabalhar de graça para a prefeitura, cumprindo pena por algum ato de delinquência juvenil.

"Como anda a sua escrita?", a fim de mudar de assunto, Alexia recorreu à primeira questão que veio a sua cabeça.

Apesar de Filippo garantir que não era um escritor de verdade por nunca ter finalizado nada, ela ainda o achava tremendamente interessante apenas por tentar e aparentemente não desistir. Outros já teriam feito diferente em seu lugar.

Foi a vez dele de dar de ombros, e a garota acabou catalogando aquele gesto como algo característico entre os dois. Quase como se pudessem se entender assim.

(NÃO) FOI POR ACASO [COMPLETO]Where stories live. Discover now