12: Suco de limão e café sem açúcar

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Daquele dia em diante, Alexia havia decidido que detestava o silêncio. Principalmente quando ele ocorria após uma conversa onde o assunto principal era ela. Nunca a companhia de Jorge e Antônio a fez sentir tão sufocada.

"Vocês vão mesmo apenas me deixar no escuro?", ela questionou. "Eu sei que fui suspensa pelo resto da semana, o que é horrível para o meu histórico escolar, mas sabem que eu não agi por mal".

"Isso não muda muito as coisas, mocinha", Jorge rebateu.

Ele estava dirigindo, então apenas a olhou rapidamente pelo espelho-retrovisor ao fazê-lo, mas foi suficiente para Alexia encolher os ombros. Nunca havia visto aquele olhar no rosto dele nos quatro anos em que o conhecia, o da mais pura decepção. Era angustiante. Causava-lhe uma dor no peito que tornava fichinha os hematomas nos nós dos dedos, causados pelo soco maldado.

"Eles estavam falando absurdo sobre nós, caso a diretora não tenha dito", Alexia falou, quase em um muxoxo contrariado.

No banco do carona, Antônio se virou para ela por um momento.

"Acredite, a diretora nos falou tudo", disse ele. "E é só por haver um motivo plausível que você não foi expulsa, Alexia. Ela também salientou isso".

"Eu não vou pedir desculpar por ter quebrado o nariz do João", a garota tratou de deixar claro, cruzando os braços. "Não me façam pensar que ele não mereceu depois de tudo".

"Se você for bater em cada pessoa que pensa o mesmo que ele nessa cidade, vai acabar esfolando a própria mão por completo antes de atingir todo mundo", Jorge respondeu.

"Como vocês aguentam isso?", Alexia retrucou. "Como podem sequer não estar com raiva como eu estou?".

"Quando se é diferente desde que nasceu, uma hora a ficha de que não dá para mudar o mundo como queremos e no tempo que queremos cai, Alexia. Infelizmente, a homofobia faz parte do nosso dia-a-dia. Aqui ela só é mais acentuada por estarmos no interior e tudo parecer tão novo. Como se a homossexualidade houvesse sido trazida por nós", Antônio ousou sorrir, o que para a garota pareceu absurdo.

Alexia odiava toda aquela coisa e a forma como todo mundo de repente havia começado a olhá-lo como se fosse um bicho exótico, uma extraterrestre.

Ela acabou ficando em silêncio pelo resto do caminho até a casa, quando entrou com os pais e se jogou no sofá, sentindo-se cansada.

"Espero que a senhorita também fique ciente de que será punida em casa", Jorge falou, cruzando os braços.

Alexia o olhou no mais puro e genuíno choque.

"É brincadeira, né?".

"Mas é claro que não. Você não pode socar o seu colega e achar que tudo bem, apesar dos seus motivos".

Foi como receber um segundo banho de água fria em menos de duas horas. Alexia não conseguia acreditar.

"Era só o que faltava", resmungou.

"Duas semanas de castigo, Alexia", comunicou Jorge. "Você só vai poder sair de casa para ir à escola ou ao Ártemis e usar a internet por duas horas diárias, para estudar".

"Pai!", ela não conseguiu evitar protestar.

Duas semanas? Aquilo era o cúmulo do exagero e ela buscou por ajuda em Antônio, que vinha se mantendo calado debaixo do umbral da passagem para o corredor.

Ele mordeu o lábio inferior.

"Você ouviu o seu pai, Lex", foi tudo o que ele disse.

Ao que parecia, mesmo que houvesse agido por um instinto nobre, ela estava tão ferrada quanto achou que estava depois do ato.

(NÃO) FOI POR ACASO [COMPLETO]Where stories live. Discover now