Daquele dia em diante, Alexia havia decidido que detestava o silêncio. Principalmente quando ele ocorria após uma conversa onde o assunto principal era ela. Nunca a companhia de Jorge e Antônio a fez sentir tão sufocada."Vocês vão mesmo apenas me deixar no escuro?", ela questionou. "Eu sei que fui suspensa pelo resto da semana, o que é horrível para o meu histórico escolar, mas sabem que eu não agi por mal".
"Isso não muda muito as coisas, mocinha", Jorge rebateu.
Ele estava dirigindo, então apenas a olhou rapidamente pelo espelho-retrovisor ao fazê-lo, mas foi suficiente para Alexia encolher os ombros. Nunca havia visto aquele olhar no rosto dele nos quatro anos em que o conhecia, o da mais pura decepção. Era angustiante. Causava-lhe uma dor no peito que tornava fichinha os hematomas nos nós dos dedos, causados pelo soco maldado.
"Eles estavam falando absurdo sobre nós, caso a diretora não tenha dito", Alexia falou, quase em um muxoxo contrariado.
No banco do carona, Antônio se virou para ela por um momento.
"Acredite, a diretora nos falou tudo", disse ele. "E é só por haver um motivo plausível que você não foi expulsa, Alexia. Ela também salientou isso".
"Eu não vou pedir desculpar por ter quebrado o nariz do João", a garota tratou de deixar claro, cruzando os braços. "Não me façam pensar que ele não mereceu depois de tudo".
"Se você for bater em cada pessoa que pensa o mesmo que ele nessa cidade, vai acabar esfolando a própria mão por completo antes de atingir todo mundo", Jorge respondeu.
"Como vocês aguentam isso?", Alexia retrucou. "Como podem sequer não estar com raiva como eu estou?".
"Quando se é diferente desde que nasceu, uma hora a ficha de que não dá para mudar o mundo como queremos e no tempo que queremos cai, Alexia. Infelizmente, a homofobia faz parte do nosso dia-a-dia. Aqui ela só é mais acentuada por estarmos no interior e tudo parecer tão novo. Como se a homossexualidade houvesse sido trazida por nós", Antônio ousou sorrir, o que para a garota pareceu absurdo.
Alexia odiava toda aquela coisa e a forma como todo mundo de repente havia começado a olhá-lo como se fosse um bicho exótico, uma extraterrestre.
Ela acabou ficando em silêncio pelo resto do caminho até a casa, quando entrou com os pais e se jogou no sofá, sentindo-se cansada.
"Espero que a senhorita também fique ciente de que será punida em casa", Jorge falou, cruzando os braços.
Alexia o olhou no mais puro e genuíno choque.
"É brincadeira, né?".
"Mas é claro que não. Você não pode socar o seu colega e achar que tudo bem, apesar dos seus motivos".
Foi como receber um segundo banho de água fria em menos de duas horas. Alexia não conseguia acreditar.
"Era só o que faltava", resmungou.
"Duas semanas de castigo, Alexia", comunicou Jorge. "Você só vai poder sair de casa para ir à escola ou ao Ártemis e usar a internet por duas horas diárias, para estudar".
"Pai!", ela não conseguiu evitar protestar.
Duas semanas? Aquilo era o cúmulo do exagero e ela buscou por ajuda em Antônio, que vinha se mantendo calado debaixo do umbral da passagem para o corredor.
Ele mordeu o lábio inferior.
"Você ouviu o seu pai, Lex", foi tudo o que ele disse.
Ao que parecia, mesmo que houvesse agido por um instinto nobre, ela estava tão ferrada quanto achou que estava depois do ato.
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(NÃO) FOI POR ACASO [COMPLETO]
Teen FictionAlexia não tinha grandes expectativas quanto ao colégio novo, além de concluir o ano letivo. No entanto, as coisas saíram completamente do seu controle a partir do momento em que os irmãos Basile cruzaram o seu caminho. Se por um lado Filippo era um...