Júlia sorriu debochadamente.

— Mauro, você só pode tá brincando! Você não vê que o nervosismo dela não tem nada a ver com o fato de ter sido supostamente roubada, mas sim que eu a peguei no flagra dando dinheiro do meu pai pra algum amante qualquer? É isso, não é, Abigail? Acertei?

Como se pudesse ser possível, Abigail estava mais pálida ainda.

— Júlia, meu bem, deixemos essa conversa pra depois, sua madrasta tá grávida, acabou de passar por emoções fortes. Depois vocês conversam civilizadamente, em casa.

— Só saio daqui depois que essa vagabunda me disser quem era aquele cara. E aí? O bandido não levou sua bolsa caríssima, seu celular, seus cartões de   crédito. Nada. Só dinheiro. Muito conveniente, né? Só faltou você assinar um cheque pra ele. Não se faça de sonsa, Abigail – Júlia dizia cheia de cólera. — Eu vi você fazendo sinal pra ele. Ele me viu, e só aí fugiu. Levando dinheiro do meu pai com ele.

– Júlia, se acalme...

— Eu tô calma, Mauro. Que droga! Hoje meu dia foi ótimo. Não tenho culpa se essa daí estragou tudo. Mas veja bem, Mauro. Concorde comigo. Talvez você não tenha visto, mas acredite em mim. Aquele homem era amante dela.

— Júlia, o braço de sua madrasta está vermelho. O que ela diz faz todo o sentido. Não se deixe ser parcial por conta de seu relacionamento nada amistoso com ela. Vá para casa. Sossegue um pouco. Em seguida, eu vou pra lá.

Júlia estreitou os olhos para ele. As mãos na cintura fina, o queixo erguido como uma altivez que era típico dela quando achava estar coberta de razão.

— Mauro, não a defenda. Você não tem motivos pra ficar do lado dela. Lembre-se que ela só o convidou pra ser padrinho do filho dela por minha causa. Mas ouça, bem, Abigail.  — Ela disse olhando para ela. — Não só não serei mais madrinha dessa criança, como também quero que você jamais me dirija a palavra novamente. Você é uma vagabunda, eu sempre soube. Primeiro ficou com o meu pai sendo casado, agora o trai.

Abigail já estava em prantos, desesperada e trêmula.

— Pare com isso, Júlia. — Vociferou Mauro. — Veja o estado dela. É seu irmão que ela carrega no ventre. Tenha mais empatia.

Júlia franziu o cenho chocada com o que acabara de ouvir.

— Eu, empatia? Mauro, você vai ficar do lado dela?  Ela pode estar traindo meu pai.

— Agora, você disse tudo. Não é uma certeza.  Venha, Abigail. — Ele então estendeu- lhe a mão e pôs o braço por suas costas, enquanto ela colocava o braço por seu pescoço, para que ele a ajudasse a chegar até o carro.

Júlia não podia acreditar no que estava acontecendo. Mauro a estava julgando, como se ela fosse a culpada alí e Abigail a vítima. Se ele não acreditava nela, tampouco seu pai acreditaria.

Então, um pânico tomou conta de si ao pensar nessa possibilidade.

Viu Mauro acomodar Abigail no banco do passageiro e quando ele deu a volta no carro, a olhou de relance e não se segurando foi até ele.

— Mauro, não faça isso.

— Júlia, meu amor. Vá pra casa, tome um banho relaxante. Eu vou apenas deixar Abigail em casa, e vamos então ter aquela conversa, ok? — Ele acariciou- lhe o rosto, querendo acalmá-la. Mas Júlia tirou sua mão abruptamente.

— Se você ficar do lado dela, não tenho mais nada pra falar com você. Se ficar do lado dela, quero que me esqueça. — Disse Júlia com os olhos marejados, mas com o tom firme.

Mauro engoliu em seco. Júlia nunca tinha falado com ele assim, tão incisiva.

— Júlia, não estou do lado de ninguém. Mas não posso ver você cometer uma injustiça.

— Certo. É tudo o que eu precisava ouvir. Até nunca mais, Mauro.

— Espera, Júlia. Sei que nossa amizade é mais forte do que isso.

— Como, se agora passa pela minha cabeça que Abigail já pode até ter esquentado sua cama?

Mauro franziu a sobrancelha, perplexo.

— Você está completamente fora de si.

— Sim, estou. Principalmente quando permiti que um galinha como você pusesse suas mãos em mim hoje. Quando eu tenho alguém apaixonado a minha espera.

Se sua intenção era feri-lo, ela conseguiu. Mauro engoliu em seco, recuou um passo, então voltou para o carro. Mas saiu tão lentamente que viu o carro de Júlia ultrapassa-lo na primeira esquina.

— Mauro, eu sinto muito. Não quero ser responsável por um desentendimento entre Júlia e você . — Disse Abigail

Mauro dirigiu-lhe um sorriso fraco.

— Júlia é sensata, mais cedo ou mais tarde ela perceberá que cometeu um engano. — Assim ele desejava, com toda a força de seu ser.
 

Doce JúliaWhere stories live. Discover now