Capítulo 15

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Mauro olhava perdido em pensamentos para a imensidão do mar esverdeado, a brisa tocou o seu rosto e ele fechou os olhos por um breve momento sentindo a carícia bem vinda. Embora o calor típico do litoral àquela hora da manhã não fosse nem de longe adequado para um homem vestido socialmente,  ele estava confortável, na sombra de uma barraca de palha, bebendo uma saborosa cerveja gelada.

Mauro deixou o relógio e o celular no carro, não queria saber de horas. Sua única companhia era uma cadeira vazia, na qual ele colocara seu paletó. Era inevitável que chegaria atrasado em seu escritório, mas ele precisava daquele tempo sozinho com seus pensamentos. Sabia que precisava e não abriria mão disso.

Quando saíra do apartamento de Júlia toda a sua energia para ir trabalhar estava estranhamente esgotada. Pensou em ir para casa, alegar indisposição. Mas nunca havia faltado um dia de trabalho, sua mãe logo o encheria de perguntas, faria suas conjecturas e seria uma situação um tanto embaraçosa e extremamente desagradável.

Então, entrara em seu carro, e quando deu por si, estava de frente aquele providencial complexo de barracas de praia, local esse que ele já havia estado com Júlia. Júlia, sempre Júlia. Ele não devia ter se tornado tão dependente de sua amizade.

Sentia-se perdido.

Ele sabia que não devia se sentir assim. Mais cedo ou mais tarde Júlia conheceria um rapaz por quem se apaixonaria. Não era isso o que ele queria? A razão tentou bater-lhe  à porta.

Mas Maurício... Eles mal se conheciam. Estaria mesmo ele tão apaixonado por Júlia a ponto de namora-la? Mauro repreendeu-se por seu ciúme sem sentido. Maurício desde que chegara deixara claro sua curiosidade, e na festa parecera realmente encantado com a beleza de Júlia.

Também pudera, que homem não se renderia ao brilho daquele olhar e aquele sorriso sapeca? Júlia não era só linda, era deslumbrante.

O mais engraçado disso tudo era que pela primeira vez em anos Mauro fez o que sempre evitou para não machucá-la. Ele a beijou. Mauro deu uma gargalhada histérica.  Aquele beijo havia mexido tanto com ele, mas simplesmente havia tido um efeito contrário em Júlia. Como se ela tivesse percebido que não o amava como o havia revelado com todo carinho dias antes.

Uma dor latente tomou conta de seu peito e ele se segurou para não marejar os olhos. Sentiu-se um bobo. Sentiu que, de repente, não havia aprendido nada com a vida.

Um garçom veio deixar mais uma cerveja e ele forçou um sorriso de canto de lábios.  A dor no peito não passava. Mauro lembrava-se do tempo em que achava que a  dor no peito era uma simples metáfora dos corações apaixonados. Até o dia em que descobriu que não era bem assim.

Ele só havia sentido essa dor, essa mesma dor no peito há anos atrás... Quando sua amada noiva revelara aos prantos, uma hora antes de seu casamento, que estava apaixonada por outro homem.

Dayse estava linda vestida de noiva, mas Mauro não entendeu por que ela foi até a sua casa antes da cerimonia. Não havia uma crença que dizia que o noivo não podia ver a noiva vestida de noiva antes do casamento?

Mas a dúvida logo foi suplantada por preocupação. Os olhos de Dayse estavam cheios de lágrimas, não de emoção, seus lindos olhos estavam cheios de dor.
Dayse estava alí à sua frente aos prantos.

 — Dayse, meu amor, o que houve, fala comigo? — Mauro a abraçou.
Dayse não conseguia dizer uma palavra sequer, só chorava.

Eles se casariam em menos de uma hora na Catedral da cidade. Dayse deveria estar na casa dela se preparando para o casamento, mas ela estava alí em sua casa, inconsolável.

Doce JúliaOnde as histórias ganham vida. Descobre agora