Capítulo 26

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A TV não parava mais de um minuto no mesmo canal. Júlia estava ansiosa e nada na TV prendia sua atenção, assim sobrava para o controle remoto, que foi jogado sobre a mesinha de centro quando enfim Júlia, suspirando exasperada, desligou a TV.

Andava de um lado para o outro, impaciente.

Mauro não a amava. Não podia mais se enganar. Ele não se importara ao vê-la “namorando” outro caro. Não movera uma única palha sequer para reverter a situação.

O beijo dele tão apaixonado era fruto da sua imaginação. Pois ele se mostrara igualmente apaixonado por aquela bela mulher naquela manhã de domingo.

Agora precisava cumprir sua promessa de esquecê-lo de vez, de tirá-la de sua vida, de esquecer aquela obsessão.

Mauro era seu grande amigo, disso nunca tivera dúvidas. Mas se manteria o mais afastada dele o possível. Não podia mais alimentar com um sorriso, um olhar e uma amizade tão terna, um amor não correspondido.

Também não podia culpar a ele.

Mauro nunca a enganou, nunca a ludibriou, nunca disse que a amava. Ela criou suas ilusões e agora nem pra jogar na cara dele e diminuir um pouco a sua raiva ela podia.

Odiava amar Mauro Gonçalves. Mas ainda assim o amava.

Uma lágrima rolou por sua face e ela a enxugou rapidamente com as costas das mãos. Não podia ser verdade. Não era possível. Como assim se enganara tanto? Como pôde achar que Mauro a amava esse tempo todo? Nunca fora presunçosa... como então pudera ser tão cega?

E o pior, havia metido outras pessoas nas suas loucuras. Havia deixado tanto na cara que era apaixonada por ele, que fizera  Dulce e Maurício, que mal a conhecia, quererem ajudá-la a se entender com ele.

Dulce era uma boa senhora, louca para ver o filho solteirão casar e lhe dar lindos netinhos. Maurício queria ver o irmão feliz ao lado da amiga que era apaixonada por ele.

E ela?

Uma mulher carente, que havia confundido um bom amigo com um homem apaixonado, que desconhecia os próprios sentimentos.

Júlia suspirou resignada. Não ia ganhar nada repreendendo-se por sentimentos mais sinceros e ternos o possível. Ela se enganara. Foi um ato falho. Agora precisava olhar para frente. Assumir as rédeas de seu coração. Liberar Maurício daquele plano que, se ao menos não trouxe o amor de Mauro, pelo menos lhe trouxe um bom novo amigo.

Maurício. Ele devia chegar a qualquer momento. Seria bom conversar um pouco com ele, e aproveitar para pôr um fim, naquele “namoro" que não fazia mais nenhum sentido.

Aquilo pesou em seu coração. Que vergonha! Que vergonha, seria admitir para Mauro que fingira namorar o irmão dele para lhe fazer ciúmes e força-lo a tomar uma atitude.

O que ele pensaria dela? Júlia tinha vergonha até de imaginar.

Pouco tempo depois ela já estava abrindo a porta para Maurício, e lhe dando um forte abraço ao vê-lo. Como era bom ter alguém com quem contar. Júlia pegou em sua mão gentilmente e o levou até o sofá para que se sentassem lado a lado.

— Você quer falar comigo?

— Sim, obrigada por ter vindo.

— Sou todo ouvidos.

Júlia titubeou.

— Tá tudo bem? — Ele indagou.

— Tá sim, quero dizer, na medida do possível.

Maurício deu um sorriso fraco.

— Desculpa por ter te metido nessa enrascada. — Ele disse timidamente.

Doce JúliaOnde as histórias ganham vida. Descobre agora