Capítulo 2

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Mauro desligou a videoconferência com um potencial cliente empresarial. A reunião fora marcada naquela manhã, e como sua agenda estava livre, ele autorizou.

Saiu de sua sala e deu de cara com a nova secretária lhe olhando com um sorriso bobo. Ele já havia a liberado há algum tempo, mas a garota ainda estava lá.

— Obrigada, Miriam. Mas bem, seu horário já encerrou. — Ele disse — Você só fará hora extra se eu autorizar. Estamos entendidos?

— Desculpe, Dr. Mauro, é que eu vi o senhor tão atarefado que eu quis ajudá-lo.

— Fique tranquila, está tudo bem. A propósito, tive a impressão de ter ouvido o telefone tocar.

— Sim, faz uns vinte minutos.

— Algum recado?

— Não, foi só um trote — disse a moça dando risinho.

Mauro franziu a testa, fazia já algum tempo que não recebiam trotes.

— Era alguma criança? — questionou ele.

— Não. Era uma mulher. E ela perguntou se o senhor estava.

— Ela mencionou meu nome?! — ele estreitou os olhos.

— Sim.

— Então, poderia não ser um trote. Você não concorda?

A garota pareceu refletir e quase se encolheu na cadeira.

— Ela não se identificou. Desligou o telefone... — Miriam tentou se explicar.

Mauro se aproximou e a garota quase caiu da cadeira. Ele aproximou-se do telefone sobre a mesa e pesquisou pela última ligação.

— Júlia. — Sussurrou ao reconhecer o número no identificador de chamadas.

Mauro tirou seu celular do bolso do paletó... Ele o havia desligado para não ser incomodado durante a reunião.  Quando ligou o aparelho viu que tinha várias ligações perdidas de Júlia e também várias mensagens.

“ Cadê vc?”

Mauro tentou revisar sua agenda mentalmente para essa noite. Pelo que lhe constava não havia marcado nada com Júlia. Sentiu seu couro cabeludo formigar.

— Miriam?

— Sim.

— Você poderia consultar minha agenda? Acho que perdi algo.

A garota pesquisou no computador por um momento.

— Aqui. Sexta-feira, 14 de setembro. Jantar no Restaurante Palácio Gourmet às 20:00. Aniversário de Júlia Albuquerque.

Mauro respirou fundo. Olhou para o relógio.

20h05

Meu Deus! Ele havia esquecido do jantar com Júlia.

— Merda! —praguejou.

— Como?!

Mauro se esforçou para manter a calma.

— Você me disse pela manhã que eu estava livre à noite, se eu bem me lembro. — Falou entredentes.

— Eu sinto muito, Dr. Mauro, eu devo ter me confundido.

Mauro soltou um longo suspiro.

— Quando a senhora foi contratada, acho que ficou bem claro que você cuidaria de minha agenda pessoal também, não foi isso? — Mauro tentou conter sua cólera.

— Sim, me desculpe. Eu prome...

— Se tiver alguma dúvida, fale com a Lígia da recepção, ela pode ajudá-la enquanto você se adapta. Esse compromisso era muito importante, tenha mais atenção da próxima vez — notificou. — Agora, pode ir.

  — Obrigada, com licença. — A garota sorriu aliviada. Então pegou sua bolsa e saiu.

“Mas que droga!” Como pôde  esquecer-se do jantar com Júlia? Ela estava tão animada, só falava nesse bendito jantar. Culpa de Rute, sua secretária. Por que ela teve que sair justo naquela semana de licença?

Ele respirou fundo.

Rute, você está muito inchada, quando vai tirar licença?- ele perguntara ao vê-la caminhando vagarosamente.

Daqui a uns 15 dias. Quero passar o máximo de tempo com o meu bebê. — Explicou ela, passando a mão carinhosamente na barriga.

Mauro sorriu.

Veja até amanhã uma substituta e descanse até o bebê nascer. Aí você tira a licença.

Dr. Mauro eu ainda estou bem. Eu nem entrei nos 10 dias antes.

Não discuta comigo. — Ele deu -lhe uma piscadela.

Rute  sorriu e agradeceu.

Mauro  ligou para Júlia. Ela não atendeu.

Ligou para a casa dela.

— Dr. Mauro, ela estava esperando pelo senhor. Eu estava aqui na cozinha. Ouvi a porta bater com força e quando vim pra sala ela já tinha saído. Ela nunca sai assim desembestada. Tô muito preocupada. — Respondeu Neusa.

— Faz tempo que ela saiu? Você faz ideia de onde ela foi?

— Não faz nem meia hora. E não, não sei onde ela pode ter ido.

Ela saíra depois de ter ligado para o escritório, Mauro constatou. Júlia ainda esperara quase uma hora. E só saiu quando teve certeza que ele não chegaria.

Mauro esmurrou a mesa frustrado. Não era qualquer jantar. Merda! Era o aniversário dela.

— Eu vou levá-la para casa. Não se preocupe, Neusa.

— Obrigada, eu vou esperar aqui.

Mauro desligou o telefone. Júlia provavelmente estava chateada e a culpa era somente dele. Iria atrás  dela. Pensou em onde ela poderia estar enquanto ia buscar seu carro no estacionamento. Não fazia a mínima ideia.

Doce JúliaOnde as histórias ganham vida. Descobre agora