Capítulo 24

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Júlia levantou àquela manhã não muito disposta. E quando Maurício telefonou perguntando se ela iria para a sua caminhada matinal no calçadão da Beira Mar, ela respondeu que não, e ficou imensamente grata por ele não insistir.

Ela precisou caprichar na maquiagem para disfarçar os olhos inchados, resultado da seção de lágrimas do dia anterior. Mas não ficou muito satisfeita, se alguém a olhasse bem nos  olhos notaria um leve inchaço  nas pálpebras. Precisaria usar óculos escuros para disfarçar melhor. Felizmente tinha vários modelos para escolher. Pôs um que achou do seu agrado na bolsa e saiu do quarto.

Antes de ir para o trabalho passou na cozinha para despedir-se de Neusa que já havia chegado. Neusa estava de costas para ela  lavando louça na pia e cantarolando uma canção.

— Neusa, eu já vou pra loja. — Ela avisou da porta.

Neusa olhou para ela por cima do ombro; as mãos ágeis ainda nas louças.

— E você não vai tomar café da manhã, não?

— Estou sem fome.

— Você sabe que saco vazio não para em pé! Come alguma coisa.

Júlia fez uma careta. Felizmente, Neusa já havia voltado sua atenção para a louça novamente. Ela caminhou até a geladeira pegou a jarra de suco e encheu um copo.

Seu estômago pesou um pouco e ela se dera conta que mal havia comido no dia anterior.

— Come uma torrada, Julinha, com aquela geleia que você gosta. – Neusa se virou para ela.

— Eu tô tomando um copo de suco. Se eu tiver fome mais tarde como alguma coisa.

— Você não foi pra sua caminhada hoje, não quer tomar café, a comida que eu deixei na geladeira pra ontem não foi nem tocada. O que tá acontecendo, Júlia?

Então, Neusa a olhou bem nos olhos, estreitando seu olhar observando suas feições.

“ Não nota meus olhos inchados, não nota, não nota", Júlia titubeante guardou a jarra na geladeira novamente numa rápida tentativa de quebrar o olhar e Neusa não se dar conta que ela havia chorado.

— Júlia Albuquerque!

Ah, não! Por que  não havia saído sem se despedir de Neusa?! Agora sabia que ela começaria uma inquisição, e Júlia  não queria ter que responder “puxa, Neusa, eu chorei porque ontem vi o Mauro aos beijos e abraços com sua filha Andreza!”.

Ela sorriu sem jeito.

— Sim?

— Você andou chorando? — Neusa inquiriu com a mão na cintura.

— Claro que não. Eu chorando?! – Júlia deu de ombros. – Eu só dormi demais.
Júlia odiou-se pela desculpa esfarrapada.

Neusa respirou fundo, como se contando até dez.

— Se você não quer se abrir comigo, eu é que não vou insistir!

— O que.. não, Neusa... não é isso.

— Não, deixa pra lá. Você não me conta mais nada, eu não sei de nada! — Queixou-se ela voltando-se para a pia.

Júlia sabia que ela se referia ao “namoro com Maurício”, que até hoje ela ainda não havia engolido a história. Talvez Júlia tivesse errado em esconder a verdade a ela. Jamais havia sido sua intenção magoar Neusa, que lhe era tão querida.

— Neusa, não está acontecendo nada demais. Eu estou bem, não precisa se preocupar.

— Se você está dizendo. Só espero que você não deixe ninguém brincar com seus sentimentos. Continue sendo essa mulher forte, que eu sei que você é, e siga em frente.

Doce JúliaOnde as histórias ganham vida. Descobre agora