— Talvez ele não ache que vá entrar — digo, tentando acalmá-la. — Deve ser por isso que ele não comentou.

— Ele vai entrar, Lia — ela me interrompe. — Você sabe que sim. É como você e Mantovan. Vocês são super qualificados e tudo o mais. Eu tentava não pensar muito sobre isso, sabe? Vocês indo para outros estados, começando uma nova vida, e eu aqui, na cidade vizinha. Parece que estou ficando para trás.

— Flora, não faça isso — peço, lhe forçando a olhar para mim. — Não desmereça o seu sonho. É tão valioso quando qualquer um. Converse com ele, não fique se sentindo mal.

Ela tira os óculos e limpa os olhos, suspirando triste.

— E digo o quê? Para ele deixar o futuro brilhante dele por minha causa? Nem estaríamos indo para a mesma faculdade, de qualquer maneira.

— Só para pôr para fora. Você vai se sentir melhor — incentivo.

Flora se deita de repente na grama e mira o céu.

— Droga - ela diz. — Odeio ser um poço de sentimentos, queria ser como você.

— E como eu sou? — Faço careta e deito ao lado dela.

— Racional. Nunca uma linha fora de sua agenda sequer. Você não faz nada sem pensar e estudar a coisa. Em todos esses anos seu ato mais aleatório foi namorar Antony. Até com Henri foi previsível, e você só se apaixonou por ele por causa dos documentários legendados.

— Claro que não! — Sento-me de súbito.

Flora ri, o que me deixa aliviada, porém não afasta minha leve indignação.

— É verdade, não negue. Você nos obrigava a ver todo esses documentários esquisitos e ele não reclamava nenhuma vez! Analu dormia na metade do tempo, e eu não entendia nada. Então surge Henri, todos prestativo, debatendo os assuntos no final. Você ficou perdidinha.

— Eu pareço patética, isso sim.

Flora começa a negar, erguendo-se do chão, mas a conversa acaba quando Antony aparece. Ele me estende a mão e me ajuda a ficar de pé, afastando a sujeira da grama do meu cabelo.

— Eu vou me trocar — Flora avisa depois de cumprimentar Antony. — Nos vemos depois.

— Ei — eu a chamo quando ela já está alguns passos distante. — Converse com ele — insisto. Ela assente e vai embora.

Volto minha atenção para Antony. Minha barriga ainda gela sempre que ele sorri para mim. Os braços dele me cercam e me puxam para mais perto, e eu ignoro minha aparência suada, ficando na ponta dos pés para beijá-lo.

Ele reclama quando me afasto, mas faço isso antes que Derk nos chame atenção.

— Colin está preparando a festa de fim do ano para hoje à noite. Quer ir comigo?

— Achei que o baile da escola fosse justamente para isso.

— Bailes de escola têm supervisores — Antony aponta divertido.

Reviro os olhos.

— Bem, eu não vou. E já que tocamos no assunto, preciso avisar de antemão que também não irei para o baile da escola.

Antony me olha confuso por um tempo. Espero que ele não se chateie por eu não acompanhá-lo. Mas bailes de fato não são meu negócio.

— Por que não? Você está organizando, merece desfrutar como todo mundo.

— Ah, eu só não gosto. É chato e ainda preciso usar vestido... — Tremo só com o pensamento. — É um problema para você? Quer dizer, com certeza você é capaz de achar companhia de última hora-

Antony me cala com um beijo e sorri para mim.

— Não ligo pro baile, mas agora fiquei curioso. Você tá sempre de jeans, quando verei a senhorita Calton de vestido por aí?

Engulo em seco. Meu estômago embrulhado. Não seja esquisita, me repreendo.

— Eu... Não uso vestidos.

— Sério? — Ele franze as sobrancelhas. — Por quê?

— Não são para mim. Nada demais.

Theo grita por Antony do outro lado do campo e me despeço dele, aproveitando o momento para escapar desse assunto.

Junto minhas coisas e troco minhas roupas, desejando chegar o mais rápido possível em casa para poder me limpar. Nunca tomo banho na escola. O ônibus não ajuda em nada, mas eu já tinha me acostumado com minha viagem grudenta uma vez por semana.

— Oi, querida — meu pai me cumprimenta quando chego, surpreendentemente cedo comparado ao que ele costuma voltar para casa.

— Tudo certo por aqui?

— Sim, claro.

— E por que está em casa a essa hora?

— Sem muito serviço — ele dá de ombros. — Vou aproveitar e ir buscar sua mãe. Ela ainda nem aprontou as malas.

É quando me lembro que meus pais passarão o fim de semana fora para comemorar o aniversário de casamento. Eu tinha visto fotos da pousada, e mamãe garantiu que economizaríamos para que todos nós fôssemos da próxima vez. Eles tinham ganhado cortesia dos proprietários, que eram amigos da família ou algo assim.

Mais tarde, quando mamãe chega, eu a ajudo com as malas e ouço todas as recomendações de como me comportar e informar imediatamente se acontecer alguma coisa. Eu a tranquilizo e desejo que ambos aproveitem o passeio e relaxem.

Depois do jantar, Kai me lança seu olhar mais inocente enquanto me implora para que eu a libere para que ela possa ir ficar com o namorado.

— Eu te odeio — disparo, jogando uma almofada na cara dela.

— Você pode ficar com a Flora. Ou com Antony — ela sugere, sorrindo maliciosa.

Uma hora mais tarde, Tyler passa para buscá-la e mando mensagem para Flora, perguntando se posso ficar lá, ou se ela pode vir aqui.

Nada feito.

Ela e Austin iam sair e conversar. O que eu achei maravilhoso, e torci para que se acertassem.

Pondero sobre passar a noite sozinha. Eu poderia tentar, apesar de no fundo saber que provavelmente eu não iria conseguir dormir nem um pouco.

Então, como é tudo referente a Antony, ajo por impulso. Seleciono o número dele e tento não pensar muito enquanto chama.

— Oi — ele diz quando atende, música soando ao fundo. — Mudou de ideia sobre a festa?

— Não. — Mordisco a ponta da unha nervosa. — Numa escala de 1 a 10 quão empolgado você está para essa festa?

— Sem você aqui? Zero. Mas Theo me arrastou.

— Okay... E se eu disser que estou sozinha em casa-

— Tô indo agora.

Rio diante de sua urgência.

— Não precisa ser agora — me apresso em dizer, antes que ele desligue na minha cara e corra para cá. — Pode aproveitar sua festa aí.

— Nah. Não quero gastar minha noite aqui enquanto posso aproveitar ela com você. Eu não sou louco, mulher!

— Tudo bem — concordo entre outra risada.

Desligo em seguida e desabo no sofá. Essa é uma situação diferente e começo a ficar nervosa. Quando Antony passou a noite aqui, eu estava no meio de um surto e não tínhamos nenhum envolvimento amoroso.

Agora, bem, nós dois numa casa vazia... Céus, e se ele tiver interpretado meu convite de outra forma? Eu estaria disposta a passar a noite dessa maneira com ele?

Minha mente gira em círculos e perco a noção do tempo. Meu coração salta quando ouço a batida na porta.

Respiro fundo e saio do sofá para atender.

Cada Vez MaisWhere stories live. Discover now