— Por que você quase pulou do sofá? — volto a falar para fugir do assunto.

— Ah, bem, só estava pensando no Henri. Por um minuto imaginei ele chateado em ver a foto. Mas deve ser besteira. Quer dizer, ele está com a Ana, afinal.

Flora dá de ombros e volta a se recostar no sofá. Me apoio nela mais uma vez.

Faço uma careta enquanto visto minha camiseta

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Faço uma careta enquanto visto minha camiseta. Eu imaginei que a essa altura o machucado já teria aliviado. Mas, ao invés disso, a vermelhidão deu lugar a manchas roxeadas. Tento não encarar. Era um lembrete constante de Henri me encurralando naquele corredor.

Pego a camisa de botões verde escura que trouxe comigo para o banheiro. As mangas iam até meus cotovelos. Me olho no espelho. A camiseta por baixo é preta, sem estampas, e combina com meus jeans escuros. Eu poderia deixar os botões da camisa abertos... Mas aí lembro que ela pode escorregar dos meus ombros (pode realmente acontecer!), então todos veriam meu braço. Melhor não. Fecho metade dos botões e saio de casa.

Antony me manda mensagem quando estou no ônibus.

Tony:
Você podia ter deixado eu ir te buscar.

Eu:
É o inverso do seu caminho. E você tem treino mais cedo do que minha primeira aula. Eu não estou indo acordar cedo por você haha

É uma tentativa de fazer graça, mas ele não capta, ou não está com bom humor. Apenas pergunta se estou bem. Eu digo que sim, e Antony não me manda mais nada.

Chego à Cesare dez minutos depois. Iza me para assim que me vê no corredor.

— Theodoro ou Antony? — pergunta maliciosa.

— Não entendi.

Ela praticam bufa, fazendo careta.

— Quem é melhor? Você não está ficando com os dois?

Meu estômago embrulha. Inspiro fundo enquanto ajusto minha bolsa no ombro.

— Pela última vez: eu não fiquei com o Theo. Ele só me deu uma carona para a festa.

O sinal toca e começo a seguir para a sala. Infelizmente temos aula juntas agora, e ela me acompanha.

— Você é tão chata, Lia. Talvez eu pergunte a Isabel Moss. Ela ficou com os dois ano passado.

— Faça isso — resmungo. E me deixe em paz.

Isabel Moss é da equipe de torcida. Linda, alta e loira. Existia o boato de que ela tinha ficado com Antony e Theo na mesma noite, mas eu não acreditava muito. O pessoal tendia a aumentar os fatos demais. Se tinha ficado com eles? Provavelmente. Já na mesma noite me parecia um tanto exagerado.

Passo pelas primeiras aulas ignorando meus colegas. Em uma delas, a professora me coloca como dupla de Analu. Fico tensa, receando que ela diga alguma coisa sobre o que aconteceu na sexta, mas ela sequer olha para mim. Uma parte de mim fica agradecida por isso.

Sou uma das últimas a deixar a sala quando o sinal do intervalo soa. Quase dou meia volta ao ver Henri apoiado no meu armário. O que ele quer? Me ofender de novo? Há poucas pessoas no corredor, mas fico mais tranquila por não estar sozinha com ele.

Henri ergue o rosto e me nota. Ele se afasta do armário, esperando. Eu vou até lá em passos lentos. Ele não diz nada por um tempo, na espera de que eu guarde meu material. Não sei se consigo olhar para ele. Senti-lo perto de mim está me deixando nervosa.

— Lia — Henri começa a falar, mas a voz dele falha.

Eu me viro e finalmente o encaro. Ele não parece nada bem. Suas feições demonstram cansaço. Henri olha para mim parecendo desesperado.

— Eu... — tenta outra vez —, quero pedir desculpas. E eu sei que não mereço — ele ressalta apressado —, mas juro que estou muito arrependido. Não sei o que deu em mim, Lia. Só... Me desculpa.

O encaro em silêncio por um minuto. Esse é o Henri que conheço. Bem aqui. O primeiro garoto que cheguei a amar. É quase difícil associá-lo ao cara bêbado que me ofendeu. Mas essa nova versão dele tinha me marcado. Literalmente. E talvez eu não o conhecesse de verdade como achava que conhecia.

— Você me disse coisas horríveis, Henri — consigo dizer, minha voz soando fraca e triste. — Você me machucou.

Ele passa um mão pelo rosto e olha para o chão.

— Eu sei — engole em seco. — Também sei que nada do que eu disser vai apagar o que fiz, mas estou arrependido de verdade. Não queria ter dito, nem feito nada daquilo.

— Quis, sim. A bebida só deu coragem para dizer o que você estava pensando.

— Não, Lia-

— Você me tratou como uma vadia, Henri — eu o interrompo. Ele fecha os olhos com a palavra. — Como acha que me senti com você jogando na minha cara que foi um sacrifício estar em um relacionamento comigo?

— Eu não disse nada disso!

— Chamou nosso relacionamento de "dois malditos anos de espera". Se não estava satisfeito, poderia ter terminado comigo de forma decente. Não transado com uma das minhas melhores amigas.

— Estou tentando me desculpar. Esse assunto não tem nada a ver com o que aconteceu — ele retruca irritado.

— Não terá assunto nenhum. Eu desculpo você, mas a partir de agora você vai me deixar em paz. Passar bem.

Eu dou um passo para longe, mas Henri segura meu braço. A mão dele vai exatamente em cima do machucado me fazendo soltar um grito de dor. Henri me larga como se tivesse levado um choque. Ele me encara com olhos arregalados enquanto seguro meu braço esquerdo, uma mão protetora sobre o local latejante. Henri abre a boca para falar algo, porém um punho vai direto em seu maxilar e ele se desequilibra, batendo nos armários com um barulho estridente.

Com horror, vejo Antony segurando Henri pelo pescoço, e desferindo outro soco na cara dele, em seguida o pressiona contra os armários, segurando-o com as duas mãos a gola de sua camisa.

— Que merda você acha que tá fazendo? — Antony pergunta com fúria.

— Tire as mãos de mim! — Há sangue na boca de Henri. Um corte fino abriu em sua bochecha.

— Encoste nela de novo e juro que acabo com você — Antony diz, jogando Henri no chão.

Mas ele não para por aí. Ele o chuta nas costelas e Henri geme, se contorcendo de dor. O pessoal em volta não faz nada. Apenas assistem a cena se desenrolar. Antony chuta mais um vez e me esforço para encontrar minha voz.

— Tony, pare com isso! — eu grito. Mas ele não para. Se curva e desfere outra sequência de socos no rosto de Henri.

Sinto minhas pernas fraquejarem. Então Theodoro e Colin vêm correndo pelo corredor e tiram Antony de cima de Henri.

Henri é uma confusão de rosto inchado e sujo de sangue. Mais um grito se forma em minha garganta, e tampo a boca com as mãos em terror. Henri tenta se levantar, mas as pernas dele falham. Colin se aproxima e o ajuda a ficar de pé.

Me volto para Theodoro, que segura Antony com força e grita com ele. Não entendo nada do que ele diz. As palavras perdidas em meus ouvidos zumbindo. A confusão reuniu mais pessoas, e, de algum modo, Ivana soube e chegou junto com Gordon. A enfermeira se encaminha até Henri para ver como ele está. Ivana fala com todos nós, mas tampouco consigo prestar atenção.

Eu olho para Antony aturdia. Ele respira acelerado, sua mão um punho sangrento. Acho que ouço meu nome e isso o faz olhar para mim. Antony dá um passo em minha direção e eu recuo. Ele estanca no lugar.

— Lia... — Antony me chama, parecendo implorar.

Não fico para ouvi-lo. Eu dou as costas para todo mundo e saio correndo.

Cada Vez MaisWhere stories live. Discover now