Ele Não Me Ama

capítulo 2: um pouco mais sobre Tamara Downey

Depois da aparição repentina de Caden, não consigo me divertir, incomodada com os olhares de aviso que ele lança em minha direção. Ele está do outro lado da pista, segurando um copo vermelho e com uma Tamara impaciente ao lado. É claro que eles sumiram por horas seguidas e justo agora Caden decidiu me vigiar como um falcão.

Respiro fundo e Connie me encara.

— Você podia mandá-lo parar. Credo! Parece seu segurança.

— Isso não funciona com Caden. Ele acha normal.

— Ele age com seu irmão mais velho hiper ciumento e isso é um porre desde que você é uma simples adolescente querendo se divertir.

Concordo com uma aceno de cabeça, ignorando o quanto fiquei incomodada a menção da palavra "irmão".

— Que tal procurarmos outro lugar?

— Longe dos olhos dele? — lança um olhar para a sala cheia de pessoas.

Encolho os ombros.

— É.

— Vem. Acho que ali tá bom. — ela aponta uma parte da sala que parece bem mais cheia de pessoas e provavelmente pode me esconder de certo olhar.

Ao chegarmos lá, ficamos parcialmente escondidas do olhar de Caden. Há um grupo de cerca de dez pessoas bem em nossa frente e eles se movimentam com a música, tornando impossível que ele me veja.

A voz de Selena Gomez se sobressai dos alto-falantes e sigo Connie em um passo de dança desajeitado. Conforme as horas passam, consigo me divertir.

A tentativa de me esconder se esgota assim que Caden me encontra horas depois. Ele tem um olhar mortal no rosto bonito e tento não me encantar demais pelo seu belo par de olhos castanhos. A sobrancelha ruiva está arqueada com cinismo, e percebo pelo seu olhar que já está na hora de ir para casa.

— Já são 03h30!

— 03h30?! — questiono, alarmada.

Droga, está muito tarde. Minha mãe deve está preocupada.

— É. — murmura cínico. — Está na hora de irmos.

— Pensei que fôssemos ficar um pouco mais, lindinho. Ainda está cedo. — Tamara desliza a mão pelo abdômen dele e eu desvio o olhar.

— Nora precisa ir pra casa. Prometi levá-la, lembra?

— Sim, mas eu estava me divertindo tanto.

Connie me lança um olhar de "estamos sobrando aqui", e eu sorrio, pensando o mesmo.

— Relaxa, amor. Depois podemos voltar. — eles trocam um selinho demorado, e o embrulho no meu estômago denuncia o quanto estou incomodada.

— Okay. — ela sorri quando se afastam, e Caden volta a me encarar.

— Como eu disse, está na hora.

— Já entendi. — bufo antes de envolver Connie em um abraço. — Eu vou indo. Depois a gente se fala.

— Claro, Nora. Eu vou procurar Trudy para irmos embora também. Está mesmo tarde.

— Quer que eu procure com você?

— Não precisa. Vá pra casa. Depois a gente se vê na escola.

— Tudo bem. — sorrio, vendo Caden e Tamara me darem as costas.

Eu os sigo por entre a multidão e logo estamos do lado de fora da casa, em frente ao Honda Civic de Caden. O automóvel é preto, muito atraente. Ele o ganhou do pai em seu aniversário de dezesseis anos e ama desfilar com ele por aí.

Caden abre a porta de trás para mim, e eu me aconchego no banco macio, apreciando a semiescuridão dentro do veículo. Ele espera Tamara sentar no banco da frente e logo está sentado em frente ao volante, enfiando a chave na ignição.

Suspiro, observando a paisagem pela janela entreaberta, conforme ele arranca com o carro. Ignoro a voz de Tamara e só aproveito a brisa suave contra meu rosto.

Acabo lançando um olhar para a frente, tendo o vislumbre da mão de Tamara sobre a perna de Caden. Ele sorri para ela, divertindo-se com algo que ela sussurra e isso só me faz perceber o quanto mudamos. Desde crianças, sempre fomos muitos unidos; vizinhos desde sempre e melhores amigos. Nossa amizade só se consolidou com o tempo. Nem tudo era perfeito, mas ainda éramos amigos. De uma criança franzina, Caden se tornou um garoto atlético, inteligente e popular. Achei estranho o fato de eu já não me sentir muito confortável perto dele, como se a qualquer momento meu coração fosse explodir dentro do peito. Eu não devia sentir isso, afinal éramos amigos, mas não conseguia evitar. E ainda não consigo.

Meus sentimentos confusos só pioraram com a chegada de Tamara na escola, ano passado. A garota de cabelos escuros era linda e percebi que Caden se interessou. Eu tive que escutar seus comentários, como: Tamara é linda; Será que eu tenho chance? Tamara é inteligente e blábláblá.

Era uma tortura e posso dizer que já não somos mais os mesmos. Ele tem se distanciado, vive com Tamara, e só faz suas aparições quando é para me vigiar como um irmão mais velho super protetor.

Ele me lança um olhar pelo retrovisor interno.

— Se divertiu? — noto ironia em sua voz.

Franzo o cenho, irritada.

— Claro que sim.

— Não consigo imaginar alguém se divertindo sem tocar em um pingo de álcool. — Tamara observa, sarcástica.

Aborrecida, eu a ignoro.

— Discordo. — Caden me defende. — Nora é diferente das outras garotas. Não curte beber.

— Que interessante. — ela sorri, mordaz.

Garota irritante!

— Prefiro assim, afinal eu odiaria ter que carregar uma Nora bêbada para casa. — ele ri.

Eu me irrito com seu tom de voz.

— Você não precisaria carregar. Conheço pessoas que fariam isso por mim em um estalar de dedos. — acabo sendo irônica.

Vejo-o fechar a cara.

— É mesmo? E posso saber quem?

— Acho que Arthur se disponibilizaria. — decido entrar em seu joguinho.

Percebo que fica extremamente irritado.

— Arthur? Ele...?

Tamara o interrompe.

— Ela só quer te irritar, amorzinho. Concentre-se na estrada, senão vai acabar batendo com o carro.

Caden resmunga alguma coisa que não consigo entender, mas decide seguir o conselho da namorada.

Eu os ignoro pelo restante da viagem e, assim que Caden estaciona o carro em frente a minha casa, desço sem esperar por ninguém.

— Como vai entrar? Acho que sua mãe está dormindo. — comenta, observando a porta fechada. Ele continua dentro do carro.

— Chave reserva. — puxo o objeto da bolsa e o ergo para seu olhar. Depois sigo até a porta e a destranco. — Tchau pra vocês.

— Tchau. Se cuida. — Caden me observa atentamente. Tamara apenas me ignora.

— Vou me cuidar. — entro na casa.

Em breve tem mais!