É isso. A solução surge na minha mente como nos desenhos animados quando o personagem tem uma boa ideia e uma lâmpada se acende sobre a sua cabeça. Eu vou participar das sessões de terapia em grupo que são oferecidas aqui no colégio, talvez isso me seja até útil caso eu realmente resolva me aplicar para Psicologia, o que é praticamente certo que não, porém nunca se sabe. Mas esse dia não é hoje, ainda preciso me afogar na minha dor, não me parece justo me livrar dela tão rápido sabendo que, em parte, ela também é por minha culpa.

Quando finalmente chego em casa no final da tarde, jogo minhas coisas de qualquer jeito em cima da cama e me esparramo sobre ela. Estou tão cansado psicologicamente que não estou com o menor saco de continuar estudando mais um pouco, mesmo sabendo que ainda faltam algumas matérias para terminar de recuperar, no entanto, mesmo se eu quisesse, seria em vão pois realmente não estou com cabeça para isso.

Meu pai não vai voltar para casa esta noite – para variar – e Anneliese vai dormir na casa de uma de suas amigas porque elas vão ficar trabalhando até tarde num projeto do decatlo acadêmico, então eu estou completamente sozinho neste casarão hoje e, ao me dar conta disso, sinto um vazio profundo e irrevogável me preenchendo por completo. Há muito tempo eu não me sentia assim, tão... solitário. É uma sensação tão intensa que chega a ser sufocante, quase que palpável. Sinto meu peito se contrair como se estivesse consumindo a si mesmo e o oxigênio parece faltar nos meus pulmões. É literalmente agonizante e eu não estou em um bom lugar, mentalmente falando, para saber lidar com isso de uma forma saudável, então vou tentar aliviar essa sensação da única forma que sou capaz no momento: bebendo.

Levanto-me da cama e desço para o andar de baixo, caminhando até o final do corredor em uma das salas que meu pai usa para beber, onde ficam expostos inúmeras variações de destilados, diversos tipos de uísque – tradicional, Bourbon, scotch, irlandês, japonês –, assim como conhaques, runs, gins, vodcas, tequilas, licores, entre outros. Meu pai é um forte apreciador de bebidas alcoólicas, fora a adega no andar de baixo que contém bebidas mais refinadas como vinhos, champanhes, espumantes e cidras, mas os destilados daqui são mais apropriados para mim neste momento.

Pego uma garrafa qualquer de uísque e despejo um pouco do líquido em um copo, dando um gole longo e lento no mesmo, sentindo a bebida passear pela minha boca, em seguida pela garganta e depois o esôfago. Bebo o restante do copo vagarosamente, continuando a degustar o líquido marrom de gosto forte.

Encho mais um copo, porém bebo mais rapidamente desta vez. Meu organismo está pedindo por mais álcool e depressa, então viro mais um copo, e mais outro e mais outro. Então decido que devo dar uma animada nesse baixo astral, portanto tiro meu celular do bolso, abro a biblioteca de música e coloco "Enjoy The Silence" do Anberlin para tocar. Tiro o moletom e a camiseta que estou vestido, ficando sem camisa. Pego a garrafa de uísque e decido terminar de tomá-la na boca mesmo.

Mesmo sozinho, eu danço ao redor do cômodo entornando a garrafa na minha boca a cada poucos segundos. Nunca gostei muito de dançar, na verdade, sou um péssimo dançarino e sempre tive vergonha de mostrar a minha falta de habilidade com isso, porém, agora, eu estou sozinho, de coração partido e me embebedando, portanto não poderia me importar menos, apenas me parece certo neste instante, então danço imaginando que sou o cara mais sexy do mundo, mas a verdade é que simplesmente não tenho a quem seduzir.

Assim que a música acaba, a próxima que vem no aleatório é uma antiga e dos meus dias de emo, mas que é cem por cento apropriada para o momento atual: "Automatic" do Tokio Hotel. Por conta disso, não posso deixar de cantar a plenos pulmões, principalmente no refrão que diz "There's no real love in you, there's no real love in you, there's no real love in you, why do I keep loving you? Automatic." Tais versos tão simples que representam exatamente o status do meu coração.

Crumble to Ashes | Phoenix Love #2Onde histórias criam vida. Descubra agora