Capítulo 2

1K 64 7
                                    

Fui buscar Gabi no aeroporto, e depois de muitos abraços e beijos fomos finalmente almoçar. Não era a primeira vez que eu recebia visita da minha família, mas era a primeira vez que a Gabi, uma adolescente de 15 anos, fazia isso sozinha, e para ela, foi a melhor experiência do mundo.

- Então, quanto tempo vai ficar? Eu volto pro Brasil daqui uns sete dias ainda. - Pergunto com a boca cheia de batata frita.

- Então eu vou ficar aqui por sete dias. Tudo bem por você? - Ela diz, olhando para o telefone. Adolescentes.

- Sabe que eu não me importo. Mas eu estou em época de provas, não vai ter toda atenção dessa vez.

- Tudo bem. - Diz rindo e depois com um pouco de receio pergunta. - Posso gravar você por esses dias?

- Para que?

- É um trabalho de escola das férias. Gravar a rotina de alguém.

Ponderei. Não fiquei surpresa com o pedido, afinal Gabi era super ativa nas redes sociais e tinha um número considerável de seguidores por causa de uns vídeos de challenges que ela postava. Até já arrisquei a gravar alguns com ela, então não me importei em concordar, era trabalho de escola. Ela ficou super animada e achei graça do jeitinho dela.

- Quase ia me esquecendo. Toma, presentes de aniversário adiantados. - Diz entregando dois pacotes embrulhados.

- Super adiantados. Nem chegamos em julho!

Abri os dois e olhei as duas camisetas. Uma branca com uma frase bonita em inglês e a outra cinza com o logotipo BTS cercado por um arco de flores. Lindas e largas. Abri um sorriso e Gabi pareceu estar satisfeita por ter acertado meu gosto.

- Ótimo, quero você usando isso nos meus vídeos. - Disse, olhando de novo para o telefone.

- Será um prazer. Posso comer suas batatas? - Já pegando.

- Não! Tira a mão daí. - Deu um leve tapa na minha mão e comecei a rir.

Depois do almoço voltamos para casa, com a playlist da Gabi soando no som do carro. Gabi amava kpop, e acabei cantando algumas músicas que eu sabia da minha época de fã. Eu amava quando fazíamos isso.

Nos aproximamos muito nos últimos anos. Quando ela era criança, nenhum dos quatro primos gostava de ficar perto ou de cuidar dela. Eram bem mais velhos e ela uma criança de personalidade forte (para não dizer chata), então enquanto ela queria brincar, nós queríamos apenas ver filmes e jogar videogame.

Não era fácil para ela, e sabendo disso eu decidi que quando ela queria brincar, eu brincaria. Se ela quisesse ver filme, eu veria. E a partir daí seu comportamento foi completamente outro, se tornou mais calma e mais amorosa (não deixando de ser totalmente chata). No fim ela só precisava de uma amiga.

- Vai ficar filmando só eu? - Perguntei olhando o cardápio do restaurante que fomos jantar.

- Sim, igual nos últimos 4 dias. - Me diz revirando os olhos, como se fosse a coisa mais óbvia do mundo.

Nos últimos dias ela me grava fazendo absolutamente tudo. Estudando, comendo, dirigindo, cozinhando e até caminhando. E nem fala quando faz isso, ou seja, eu apareço de cara amassada, de pijama, cansada, suada, dando minha risada estranha, distraída, sem nenhum direito de fazer pose e mostrar meu melhor lado.

- Pelo que eu saiba, quando uma pessoa viaja ela aproveita a viagem e não fica apenas com a câmera ligada filmando as pessoas. - Digo num suspiro, tentando tirar ela de traz da tela. - Ou uma pessoa.

- Mas tem que ficar perfeito, entende?

- Então você deveria ter pedido outra pessoa. Eu não faço nada demais, seu vídeo vai ficar chato. - Peguei a câmera lentamente da mão dela e coloquei do meu lado.

- Acho que não. E eu não quero filmar mais ninguém sem ser você. - Agora ela me pegou.

- Olha, que tal amanhã a gente ir no Marco das Três Fronteiras?• Mas você não pode filmar nada durante essa noite. - Eu digo comendo um pedaço de pizza soltando a condição.

Seus olhos brilharam e assentiu num simples balanço de cabeça. Bom, pelo menos agora eu saí vitoriosa.

O dia estava frio por causa das chuvas. Luvas, casaco e touca faziam parte do look que escolhi para nosso passeio de hoje. Ainda não tinha vindo aqui, então toda expressão que eu fazia de encantamento era real e verdadeira, e todas sendo capturadas pela câmera da Gabi.

Dessa vez fizemos alguns vídeos juntas. Tomando chocolate quente que me deixou com um bigode de espuma, ou quando caminhamos pelas ruazinhas da cidade, onde eu traduzia tudo do espanhol pro português para a menor entender.

Apesar de parecidos, português e espanhol não são iguais, e como minha faculdade é toda ministrada em espanhol, fui obrigada a aprender.

No fim do dia eu só queria descansar debaixo das cobertas. Coloquei meu pijama do tecido mais leve, uma regata e short com estampa verde de oncinha. Me deixava bonita e confortável ao mesmo tempo.

- Lembra daquelas coreografias que aprendemos nas férias passadas? - Gabi fala e deita a cabeça no meu colo esticando o corpo no sofá.

- Correção, você aprendeu. Eu já sabia. - Rio provocando.

- Ah tá, fala sério! Você não lembrava de nada, e ainda dizia que eram suas preferidas no ensino médio.

- Mas elas eram! Toda a minha rodinha de amigas amava o Blackpink, até fizemos uma apresentação de dança com uma música delas. - Falar disso me lembrou desse dia. Meu Deus, que saudade.

- Você já aprendeu alguma do BTS?

- Na verdade não. - Digo envergonhada, porque foi um pedido dela eu aprender para gravarmos um vídeo juntas. Ela me olha um pouco decepcionada e tento me redimir.

- Mas eu sei algumas partes de algumas músicas, não todas e apenas algumas partes. As danças são muito difíceis!

Lembro muito vagamente das danças de algumas músicas que faziam sucesso naquela época, pelo amor de Deus! Fazia quase 3 anos desde que me formei, como iria lembrar!?

- Então dança agora para mim, quero ver. E eu vou gravar. - Já levantou e pegou a maldita câmera.

- O que? Mas eu tô de pijama! Não vou trocar de roupa para isso.

- Faz de pijama mesmo, não tem problema. Ninguém vai ver.

Céus! Que menina chata!

Fiz uma listinha das músicas que as danças ainda estavam na minha mente. Gabi sabia dançar todas elas, e morria de rir atrás da câmera das minhas tentativas, o que me levava a rir também porque eu sei que apesar de não dançar tão ruim assim, eu estava longe de ser ótima.

Ela repassava alguns passos e me ensinava alguns novos, e umas músicas quase saíram inteiras. Boy with luv e Dope foram as únicas em que realmente saiu alguma coisa.

Chegou uma hora que o frio bateu e tive que trocar de pijama. Meu preferido era um moletom em que a calça era rosa bebê cheia de gatinhos e a blusa de frio era cinza com um gatinho agasalhado estampado.

Continuamos filmando as danças, agora Gabi dançava comigo. Algumas eu sozinha, outras só ela, até que a bateria descarregou e fomos dormir.

Dormir feliz era uma coisa rara na minha rotina. Geralmente eu vou dormir com cansaço, ansiedade e outras coisas. Mas felicidade era o que eu sentia naquele momento, momentos assim me faziam muita falta. Mas tudo bem, logo logo eu estavam voltando e ninguém iria estragar meus dois meses de férias na minha casa, com a minha família.


***

Marco das Três Fronteiras é um lugar turístico onde o Brasil, Paraguai e Argentina se encontram.

Capítulo um pouco maior agora. Eu sei que agora a história está extremamente chata, mas as coisas estão começando a fluir hehe.

<3


TEN DAYS WITH USDonde viven las historias. Descúbrelo ahora