Capítulo 1

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Uma semana e três dias. Era apenas isso que eu precisava aguentar até voltar para casa. Seis meses longe da minha família era uma situação em que eu estava obrigada a suportar por 5 anos. Maldita faculdade.

Depois que o sinal indicando o fim das aulas tocou, corri para a biblioteca pegar os livros necessários para o restante das provas daquela semana.

Esse período era definitivamente o mais insuportável que existia: muitas provas, muitas matérias, muitos trabalhos, pouco tempo e pouca paciência.

Todos os alunos estavam afoitos. O estresse e a pressão acabavam por transformar o aluno mais dedicado em alguém totalmente desesperado. E não existia a opção de deixar de se dedicar em uma matéria para pegá-la na recuperação caso não alcance a média desejada, porque a recuperação pode ser o próprio inferno acumulado de 5 meses de conteúdo.

Por isso, depois de um suspiro cansado, eu liguei o carro determinada a estudar e revisar tudo. Não quero perder mais dias das minhas férias aqui. Eu só quero poder dar um abraço de urso no meu irmão.

Se passaram dois anos desde que me mudei do interior de Goiás para estudar medicina no Paraguai. Uma mudança tão radical que ainda me pergunto se eu, Manu, tive mesmo a coragem de largar tudo e enfrentar o mundo sozinha, literalmente sem ninguém.

Ainda lembro do dia em que meus pais me deixaram no aeroporto. Aquela despedida foi o fim de uma fase, ao mesmo tempo em que estava focada e determinada em dar um passe a frente na minha vida - mesmo sabendo que fui forçada a isso - estava com medo. Medo é eufemismo. Apavorada, talvez.

Ainda guardo o chaveiro do Homem de Ferro que meu irmão me deu naquele dia. Para sempre lembrar de que sou forte e inteligente, palavras dele. Na época, com apenas 10 anos, Tutu conseguia me animar melhor do que minha mãe e meu pai.

A lembrança me faz sorrir no exato momento em que chego em casa. Isso me fez distrair de toda a tensão da minha cabeça.

Subindo até o andar do apartamento, percebi que destrancar a porta vai ser uma missão impossível. Só comprovo isso quando todos os livros caem no chão fazendo a maior bagunça.

Destranco a porta e depois de juntar os livros e entrar em casa, vou direto tomar um banho. O dia foi longo e eu estava precisando.

Depois de cozinhar uma coisa leve, vou editar um vídeo para mandar para minha família. Criei esse hábito desde que comecei a morar aqui. Como não dá para ficar gastando com ligações e não tenho tempo de fazer chamadas de vídeo quando quero, encontrei a solução em gravar pequenas partes dos meus dias, minha rotina e pequenos lugares quando eu raramente vou passear, juntar em um vídeo e mandar para todo mundo que eu amo.

Para ninguém esquecer de mim.

Escolhi a música de fundo: Wave - Ateez. Gosto da música e gosto de kpop também. Lembro que no ensino médio, minhas amigas e eu ficávamos dançando em todo intervalo músicas das nossas bandas favoritas e sempre nos preocupávamos em ficar atualizando as playlist ou os novos álbuns que saíam. Essa já não é uma coisa que eu faço atualmente.

Na verdade, eu não acompanho ninguém mais com tanta devoção. Não tenho tempo e muita disposição, porém nem por isso deixo de atualizar minha playlist ou novas coreografias para aprender na zumba, então penso que isso seja consequência da vida adulta.

Deixar de fazer coisas que eram tão importantes na adolescência e hoje não são mais tão importantes, é mais uma daquelas coisas que você coloca na lista de que sim, você realmente é um adulto.

Eu sou uma adulta estragada, como diria mamãe. Mais infantil do que criança as vezes, e eu penso que é por isso que elas gostam tanto de mim. E eu amo crianças também. Já faz muito tempo que concluí, sou uma adulta legal (ou uma adolescente responsável?).

Depois de editar o vídeo e de estudar o suficiente para saber que vou me dar na prova, finalmente deito no cama mais exausta do que qualquer coisa. Pego o celular e me deparo de cara com a mensagem da minha prima mais nova, Gabi.

Vou passar um tempo com você, chego em três dias.



***

Capítulo super sem graça, curto e sem nexo nenhum, mas isso é apenas pra vocês conhecerem um pouco da Manu e de como ela parou ali. Vão ser importantes lá na frente.

<3

TEN DAYS WITH USWhere stories live. Discover now