No entanto ele fez primeiro, e mesmo sabendo que estávamos fadados a nos separar, a forma que chegamos ao fim foi uma das piores.

No entanto ele fez primeiro, e mesmo sabendo que estávamos fadados a nos separar, a forma que chegamos ao fim foi uma das piores

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O

nervosismo me acompanha no caminho para a escola. Esperava que Antony não tivesse comentado nada sobre mim para os amigos dele, principalmente para Theodoro que não era conhecido pela discrição. Eu não havia contado para Flora. Não tinha como contar para ela que Antony dormira comigo sem explicar o porquê.

Então eu guardaria isso para mim e ia rezar para que Antony fizesse o mesmo.

O sinal toca assim que entro no prédio. Passo rápido pelo meu armário e vou para a primeira aula. Há teste surpresa de biologia que o professor anuncia com um sorriso gigantesco no rosto. Ele nos manda formar duplas e permite consultar o livro. Fico com Kaliu. Ele sorri para mim enquanto juntamos nossas mesas.

Pelos minutos seguintes mantenho minha mente focada nas questões. Kaliu é pragmático, não tenta puxar assuntos aleatórios e agradeço porque não sinto a menor vontade de papear.

Minha próxima aula é com Antony, mas ele não está na sala quando entro. Nem surge atrasado depois do professor. Não sei se isso me deixa mais desapontada ou aliviada. Percebo a falta de mais alguns rapazes da equipe de natação e deduzo que estejam nos treinos.

No refeitório, entro na fila e olho ao redor em busca de Flora e Austin, entretanto não os encontro aqui.
O olhar de algumas pessoas me acompanha e finjo não me incomodar. Não sei dizer se ainda estão ligados na fofoca sobre a briga com Analu, ou se é por outro motivo. Torço para que seja a primeira opção.

A fila está longa e levo vários minutos para dar um pequeno passo. Giro a bandeja de plástico nas mãos enquanto espero, ponderando se desisto da comida de vez e vou atrás de Austin para mais bolinhos.

- Você é péssima nisso. - A voz soa próxima a minha orelha.

Dou um pulinho com o susto e minhas mãos param. Me recuso a olhar para trás.

- Péssima em quê? - Eu não deveria me importar, mas fico curiosa.

- Passamos um tempo juntos, daí quando a gente se afasta, você não parece saber muito bem como voltar.

Encaro Antony por cima do ombro intrigada. Ele me dá um piscadela e toca minhas costas, me impulsionando a andar. Aparentemente a fila continuou sem que eu percebesse. Apresso o passo para alcançar a garota na minha frente.

- Claro - Antony continua -, isso deduzindo que você queira voltar. Evito pensar na outra opção.

Eu não devia sorrir, mas meus lábios são um bando de traidores e falho miseravelmente.

- Essa é a parte em que você pergunta qual a outra opção. Só para avisar.

Exalo para manter meus nervos controlados, então viro-me para ele, decidida. Ele está sorrindo para mim, os olhos verdes brilhando pela brincadeira. Usa camiseta preta e seus jeans habituais. Cabelo úmido - vindo do treino, como imaginei. Mãos nos bolsos da frente, os músculos dos braços saltados. Nem ao menos segura uma bandeja.

Balanço a cabeça para voltar a conversa.

- E qual é a outra opção, Antony?

- Você não querer.

O olhar dele foca no meu. Quero desviar para qualquer lugar que não seja ele, mas não consigo. É como uma disputa de "não piscar". Na fila do refeitório lotado. Diante do meu silêncio, Antony arqueia a sobrancelha. Então alguém pede irritado para a fila continuar e eu rio. Antony mesmo reprime uma risada.

Dou um passo para fora da fila ainda olhando para ele.

- Tudo bem - eu digo. - Vamos conversar.

Caminhar com Antony pela escola é como ter um holofote sobre mim. Todo mundo encara. Minha sorte é que estamos no intervalo, então não encontramos muita gente nos corredores. Apenas algumas garotas lançam olhos famintos na direção dele, que parece não perceber, ou percebe e não se importa.

Antony abre uma das salas vazias e entra. Eu o acompanho receosa. A parca iluminação vem das janelas de vidro na parede de frente à porta.

- Não podemos ficar aqui. Se algum professor nos ver...

- Relaxa, Lia - ele diz, fechando a porta atrás de mim. - A sala está sem energia, ninguém vai entrar aqui.

- Mas poderiam - retruco, indo me apoiar na mesa. - Para consertar e tudo mais.

- Você tem um ponto. Então sugiro agilizar a conversa.

Ele se apoia na porta e espera. Puxo uma respiração e cruzo os braços. Não preciso fazer disso um acontecimento. É só agradecer e pronto.

- Bom, eu queria agradecer pela ajuda na outra noite. Você não precisava-

- Eu quis - ele me interrompe.

- Foi muito gentil. Principalmente depois de eu ter gritado com você por causa da festa do Colin. Desculpa por isso também.

- Não, não precisa se desculpar. Você estava no seu direito. Mas, de verdade, eu não fiz para te prejudicar. Realmente pensei apenas em ajudar.

- Eu entendo agora. Se não fosse por você nem teríamos os ônibus, eu só... Estava irritada por ter que trabalhar com Henri na feira.

- Deve ser ruim mesmo - Antony concorda. - Mas você dá conta.

Ele deixa a porta e se põe de frente para mim. Miro a gola de sua camisa, os sinais em seu maxilar forte. Antony toca meu queixo de leve. Não, meu queixo não formiga por causa do toque dele. Não é real.

Ele é uns bons centímetros mais alto que eu, então preciso levantar a cabeça para encarar seu rosto.

- Eu sei que você não quer falar sobre o que aconteceu. E eu vou respeitar isso, apesar de ter me assustado pra caralho, mas eu quero que você saiba que pode me contar qualquer coisa se quiser, se se sentir confortável.

Engulo em seco e tento não ofegar. Odeio que ele me deixe tão instável. Que de repente seja tão... gentil. Não era para isso acontecer.

- Foi um caso isolado, não vai se repetir. - Soa falso até para mim, mas ele finge acreditar.

Ele abaixa a mão, porém continua próximo de mim.

- Esperei você me ligar. Ou mandar mensagem.

- Er... Eu ia, mas não sabia o que dizer - admito meio sem graça.

- "Oi, Tony?" - graceja. Empurro o ombro dele, rindo também.

- Não seja chato. Ainda é esquisito conviver civilizadamente com você.

- É só questão de tempo para se acostumar com a ideia - Antony ri.

Ele estende a mão e eu a seguro num cumprimento amigável. Porque é o que somos agora; amigos. Não adianta viver em negação sobre isso.

Eu não detesto mais Antony Ramone. Algumas coisas temos apenas que aceitar. E, quando ele olha para mim, todo gentil e brincalhão, não parece ser tão difícil assim.

Cada Vez MaisWhere stories live. Discover now