Capítulo 11

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Se tinha algo que Katsuki não tinha era paciência, muito menos ouvindo Eijiro cantar e dançar em cima do banco do carona logo pela manhã. Seu marido estava nitidamente feliz e isso seria bom se não fosse logo cedo, não tivesse acabado de acordar e não tivesse que fazer algo que não queria. Entretanto lá estavam, ambos no carro, Katsuki dirigindo enquanto Eijiro se sentia ansioso pela oportunidade de ter um filho.
- Ainda não consigo entender, pra quê uma criança? Você tem a maturidade de uma e eu não tenho paciência pra uma, é por isso que brigamos, esqueceu?
  - Não, se escolher alguma então vai ser engraçado tu ter que se acalmar já que não pode sair explodindo a criança.
  - Eu escolho uma com a sua individualidade.
  - Katsuki, eu aguento suas explosões, por isso não reclamo quando usa elas em mim, mas não pode fazer isso com uma criança.
  - Eu sei, não sou tão impulsivo... Última chance pra desistir dessa loucura - Disse já parando o carro na frente do orfanato.
  - Vamos amor - O ruivo saiu do carro as pressas e Katsuki quis ir embora sem ele, entretanto suspirou.
  - Por favor Katsuki, se controle, são só crianças - Sussurrou para si próprio antes de sair atrás do marido.
  Logo Eijiro estava abraçando o marido pela lateral do corpo enquanto batiam na porta. Katsuki deitou a cabeça no ombro do ruivo e suspirou frustrado por não ter conseguido convencer o marido ir embora. Não demorou até que o casal fosse atendido. Escutaram com atenção a explicação da jovem mulher que os atendia e depois a seguiram até onde as crianças estavam.
Como Eijiro queria criar desde pequeno, foram até a ala das crianças entre dois e dez anos. Elas estavam brincando no cômodo mas logo pararam quando viram os dois entrarem, foi então que Katsuki quis ir embora pois todas as crianças os reconheceram e correram tentando pular neles.
Um toque e ele tensinou, dois e ele recuava para trás do marido, três e ele respirou fundo suportando a dor tau como fazia trabalhando, quatro, cinco, seis, finalmente Eijiro tomou a frente e chamou todas as crianças pra si. Suas mãos tremiam e ele sentia onde as crianças tocaram queimar mas ainda sim observou cada uma delas com atenção. Analisava com atenção e tentava notar algo que o agradava, instantaneamente procurou as características do marido, primeiro procurando alguém ruivo, quando não achou, procurou alguma que o sorriso fosse largo com ao menos as presas pontiagudas, mas uma vez falhou, então reparou como Eijiro  conversava com elas animadamente e procurou alguma que tivesse tau animação mas que não fosse por serem heróis, mais uma vez falhou. Quase desistindo, procurou alguém com as suas características e no final da sala, bem afastado de todos e com uma expressão irritada, encontrou um menino de cabelo negro e olhos da mesma cor, ele estava de braços cruzados olhando uma folha de papel. Imediatamente Katsuki soube que não saberia lidar com alguém como ele.
Apesar de tudo, ficaram muito tempo por ali, o loiro chegou a brincar (se exibir) para algumas crianças, entretanto o final foi o mesmo, eles saíram de lá sem sequer uma perspectiva de adotar alguma das crianças. Isso tornou o caminho para casa silencioso, tanto que Katsuki se sentiu mal pela falta de animação no companheiro.
  - Podemos tentar em outro na semana que vem - Disse se sentando ao lado do marido no sofá.
  - Tu não quer, não vou te forçar, vi como ficou com aquelas crianças te tocando, tá tudo bem - Suspirou frustrado, realmente queria um filho, isso era um plano desde que era jovem.
  - Eijiro... Eu vou procurar fichas de crianças, ok? Assim eu tenho uma ideia delas antes de arriscar contato, não vou ficar tão mal dessa forma.
  - Tem certeza?
  - Te quero feliz, isso é um preço pequeno a se pegar... Além do mais, estamos juntos a oito anos, certo? Um casal hétero já teria tido filho, acho que podemos fazer igual.
  - Obrigado amor.
  - Tudo por você - Sussurrou puxando o rosto do ruivo pra um beijo calmo.
  Quando se afastaram, o loiro deitou a cabeça no colo do ruivo, este por sua vez iniciou o cafuné já sabendo ser o que o marido queria. Eijiro sorriu com o o gemido de satisfação que Katsuki deu quando seus dedos deslizaram perto da nuca, local que o loiro mais gostava que ele tocasse.
Ambos agradeciam por aquele momento, depois das brigas e mágoas era bom ter aquela paz. Não que não fosse comum, com certeza era, porém não era comum brigas sérias como a que tiveram a quase um mês. Depois daquilo passaram a apreciar ainda mais aqueles pequenos momentos onde mesmo o silêncio carregava o som de lembranças passadas cheias de juras de amor.
  - Eu te amo, posso explodir sua cara e gritar que morra, mas eu te amo, sabe disso, não é? - A voz do loiro cortou o silêncio. Seus olhos observaram o marido mesmo quando vermelho se encontrou com vermelho.
  - Sei sim, mas por quê isso do nada?
  - Nós brigamos muito.
  - Não é um problema, uma briga de manhã, é praticamente matinal.
  - Se não é problema então podemos brigar assim com uma criança aqui?
  - ... Não
  - Temos uma vida estável, nossas brigas são bestas e não ligamos pra elas, tu não liga pras minhas explosões e eu as solto sem problemas já que tenho controle perfeito delas e posso escolher se são fortes ou não. Mas Kiri... - O apelido fez que o ruivo parasse a carícia e se concentrasse novamente no loiro - Não quero mais isso, geralmente quem inicia as brigas sou eu então eu prometo, não vou mais brigar pela manhã, nem puxar briga em outros momentos, também vou parar um pouco mais com os xingamentos.
  - Somos felizes como somos, não precisa mudar.
  - Preciso sim, soltar explosões e ficar gritando não é saudável, as pessoas me acham abusivo... Se soubessem que tu me tem nas mãos talvez não achassem isso, mas de todo modo, elas não estão erradas. E é por isso que preciso mudar, as coisas vão ser mais calmas assim.
  - Tudo bem, não tenho o que reclamar.
  - Amanhã temos trabalho, passamos o dia todo em um orfanato, vamos dormir.
  - Sua pele tá vermelha pelos toques, consegue dormir comigo?
  - Consigo sim... Mas, como estou sendo muito bonzinho em deixar que adote uma criança, quero que me leve pro quarto.
  - ... Não seria másculo negar esse pedido, mas sinto que não vai ser o único.
  Eijiro puxou o loiro para o seu colo, segurou firme nas cochas dele e se levantou o carregando, então foi para o quarto e se deitou com o marido por cima de si. Katsuki não reclamou e permaneceu ali sentindo a pele morna, contudo, sem sentir dor ou medo.
  - Se não melhorarmos nossas brigas será como duas crianças cuidando de outra e também já está na hora de parar de cuidar de mim, tu não é um saco de pancadas.
  - Eu não me importo com as explosões, nem com os gritos, mas já que pensa assim então eu prometo deixar de ser tão bonzinho e repreender quando tu ficar muito agressivo.
  - Nós dois vamos mudar um pouco... Acho que já estava na hora - Sussurrou fechando os olhos e em pouco tempo dormiu junto ao marido.

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