Acordo sem ar. A escuridão do quarto aumenta a pressão no meu peito. Levanto-me aos tropeços indo até o interruptor e ligando a luz. A cama de Kaila está vazia, a não ser pelos cobertores bagunçados. Será que ela foi ao banheiro?

Deixo o quarto, a casa inteira está um breu. Ligo as luzes da cozinha e da sala na tentativa de acalmar meus nervos. Tomo um pouco de água para aliviar a garganta seca. Para aonde será que Kaila foi?

Volto rápido para o quarto só para pegar meu celular. São 01h15. Há uma mensagem de texto da minha irmã:

Kaila:
NÃO SURTE! O gatinho do Tyler me chamou pra uma festa e não pude dizer não. Volto antes de você acordar. Te amo ❤

A mensagem é de meia hora atrás. O histórico de Kai de festas é de voltar só no dia seguinte. Vou passar o resto da noite sozinha. É um fato. Algum cachorro na rua late e tomo um susto. Verifico a fechadura da porta da frente e volto para a cama. Tranco a porta do quarto também. Mantenho as luzes acesas. Fecho os olhos. O que é inútil. Sinto a pressão no meu corpo todo.

Pego o celular e ligo para minha irmã. Talvez ela volte se eu pedir. Afinal, ela tinha prometido não me deixar sozinha. Mas ela não atende. Nenhuma das cinco vezes. Meu nervosismo piora e fica cada vez mais difícil respirar. Eu afasto as cobertas do corpo e me sento na cama. Um suor frio gruda na pele do meu pescoço e meus olhos lacrimejam.

E se alguém invadir a casa? É possível, não é?! Nunca se sabe quando algo do tipo pode acontecer. Coisas ruins acontecem o tempo todo! Olho aturdida ao redor, meus olhos fora de foco. Como vou me defender se alguém entrar aqui? Ai, meu Deus, eu deveria ligar para a polícia.

Quer dizer, não. Não. Balanço a cabeça para afastar a ideia. Eu não posso ligar para a polícia. Vou dizer o quê? Que estou com medo da possibilidade de um maníaco invadir a casa?

Limpo as lágrimas dos olhos e faço um esforço para encarar a tela do celular. Está tarde, mas preciso de ajuda, tenho que chamar alguém. Quem? Passo os olhos pela lista de contatos e tento Austin. Vai direto para a caixa postal. O celular de Flora chama, mas ela não atende.

Levo uma das mão ao pescoço e a sensação grudenta me deixa enjoada. Acho que vou vomitar. Ou desmaiar. Tusso, sentindo a garganta apertada.

Não consigo respirar. Não consigo respirar.

Meu peito dói. Meu coração está a um passo de pular para fora. É isso, vou morrer, penso, escorregando da cama para o chão.

Então, de modo automático, seleciono um contato e levo o celular à orelha. Nem penso no que estou fazendo. Eu só preciso... fazer alguma coisa. Falar com alguém.

Antony atende no segundo toque.

- Ei - ele fala, a voz meio grogue. Acho que o acordei.

Não consigo responder. Tento respirar. Mas parece não haver ar o suficiente.

- Emilia? - Antony chama. - Você está bem?

- Não - falo em meio a tosse. - Não consigo...

A frase se perde quando meu corpo se impulsiona para frente. A garganta retraída por um vômito que não vem.

- O que aconteceu? Está tudo bem?

- Não tem ar.

Puxo a respiração pela boca, mas isso só me deixa mais nervosa e começo a chorar de verdade.

- Certo - A voz dele soa agitada agora. - Eu preciso que você me diga aonde está.

- Em casa.

- Está sozinha?

- Aham - respondo em um fio de voz. Acho que ele escuta.

- Okay. Ótimo. Agora quero que você vá ao banheiro, ou a cozinha, onde for mais perto para você.

- Não consigo me levantar - digo, entre soluços. Levo a mão ao peito, sentido as batidas. Fecho os olhos com força.

- Consegue sim. Apenas tente.

- Acho que morrer, Antony. Meu coração... Vou infartar.

- Você não vai. Só precisa se acalmar. O ar ainda está aí. Se você puder molhar o rosto, vai melhorar. Eu estou indo para aí, tudo bem? Respira fundo e solta devagar.

Faço o que ele diz. No começo é ruim, ainda me sinto engasgar. Mas aos poucos o ar começa a voltar. Saio do chão meio tonta e caminho até o banheiro.

Abro a torneira e jogo água fria no rosto e no pescoço. Antony pede que eu vá para sala, onde o espaço é maior. Eu me sento encostada na porta, com receio de alguém tentar entrar.

Antony passa o tempo todo me instruindo a respirar. As lágrimas complicam um pouco, porque não paro de chorar, porém, continuo a respirar fundo. Sinto meu coração desacelerar, as batidas ficando mais estáveis.

- Eu... não queria dar trabalho para você. Desculpa - peço, limpando as lágrimas do rosto.

- Não é trabalho nenhum - ele garante. - Não peça desculpas por isso.

- Estou com medo. De alguém entrar aqui - admito.

- Seu bairro tem histórico de invasão?

- Não.

- Então não se preocupe. Não vão começar justo pela sua casa. Você está segura aí. Só continue respirando, tudo bem? Estou quase chegando.

Assinto, mesmo que ele não possa ver. Eu encosto a cabeça na porta e espero.

Cada Vez MaisWhere stories live. Discover now