CAPÍTULO 40

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REBECA

Um dia você acorda e percebe que sua vida nunca mais será a mesma. Levam-se estúpidos segundos para que isso aconteça. Fecho os olhos e tento me concentrar, apenas no meu filho, à medida que luto para conter as lágrimas que ameaçam romper pela centésima vez dos meus olhos. A dor é quase insuportável e o desespero é a soma de todas as emoções que me tomam neste momento diante de mais um infortúnio. Já deveria estar pronta para lidar com esse tipo de ocorrência. Mas quem se acostuma com coisas ruins? Irremediavelmente, volto a experimentar o gosto amargo da decepção e o medo. O medo de estar sozinha num mundo cheio de perigo. A sensação de abandono é muito estranha. A dor atravessa meu peito como a ponta de uma espada afiada. Trêmula, mordo o lábio inferior, para sufocar o choro que teima em emergir da garganta, enquanto, olho para o portão fechado dos fundos da casa de Dante. Não consigo me mover, desesperada, paraliso a espera de um milagre, e sem conseguir mais me conter, desabo de joelhos em prantos. Antonella toca no meu ombro e me ergue do chão, dando-me um abraço reconfortante. Ela não diz uma só palavra, talvez experimente as mesmas emoções, mas seu olhar demostra compreensão. Me amparando, ela me encoraja a sair do lugar.

-- Vamos Rebeca, não podemos ficar paradas aqui. É perigoso. - Ela adverte, praticamente me arrastando, enquanto pendura a bolsa no ombro com nossos poucos pertences. Seguimos pela rua silenciosa do sofisticado bairro da Sicília, iluminada pelas lâmpadas fluorescentes. Não há um vivente nessa parte, porque provavelmente estão na festa de casamento. Ao chegarmos no ponto mais alto da rua, de uma certa distância avistamos um veículo com faróis ligados. Um homem baixinho e corpulento se aproxima de nós.

-- São as irmãs Basile? --pergunta, quando para em nossa frente.

-- Sim. - Confirmamos nossos novos sobrenomes. Para todos os efeitos, somos Maria e Carolina Basile.

Sem perder tempo ele pega a bolsa que Antonella carrega nos ombros e nos conduz ao seu veículo.
-- Logo, logo, chegaremos à estação. -Ele assegura com um sorriso aberto, ao abrir a porta.

--Obrigada. -Eu e Antonella agradecemos nos acomodando no banco traseiro do automóvel. Logo, o motorista contorna as ruas da cidade sem maiores complicações. E em vinte minutos descemos na estação.

-- Boa sorte, moças! -as palavras do motorista são proferidas com simpatia.

Prosseguimos ao terminal, sendo necessário que Antonella me ampare no curto trajeto. O cansaço me abate de modo esmagador e cada musculo do meu corpo reclama, dolorido. Chegando perto de uma fileira de banco, sento-me, deixando a tarefa de comprar as passagens para Antonella. Ela deixa a bolsa ao meu lado e vai ao guichê.

Mas em poucos minutos, está de volta com o semblante preocupado.

-- O que foi? - Pergunto, erguendo o rosto para olhá-la em pé em minha frente.

-- O próximo trem, só sai daqui há duas horas. -diz, desabando ao meu lado no banco.

-- Duas horas? Não podemos ficar aqui todo esse tempo aqui.

--Eu sei. E agora? -ela me olha de lado, desanimada.

--Acho que não será difícil contratar um motorista que aceite nos levar para Trento por um bom dinheiro. ---Conjecturo, ansiosa.

--São catorze horas de viagem, Rebeca! - ela menciona, segurando a cabeça com as mãos. Estamos fritas! -ela chia.

--Não seja pessimista! -tento encorajá-la. - Vamos encontrar um jeito...

--Boa noite senhoras! -- Um homem barbudo nos cumprimenta ao se aproximar. - Desculpem a intromissão, mas acabei ouvindo as senhoras. Querem ir para Trento?

UMA TRAMA DO DESTINO- RELEITURAWhere stories live. Discover now