FIVE

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Ao contrário do que esperávamos, o sol não nasceu enviesado, sequer recaía nas coníferas, antes tão congeladas que mal se mexiam com a brisa. Observei a noite permanecer instaurada, intensificando ainda mais a ventania por entre o som dos passos desordenados não tão longe dali. A neve, por outro lado, continuava atingindo o asfalto e tornando-o um longo, porém estreito, mar escorregadio.

Há poucos minutos uma mensagem ecoou do walkie-talkie, apitando repetidas vezes durante específicos minutos, anunciando uma espécie de código Morse. Mesmo que somente uma parte tenha sido desvendada por Jeongyeon, agora sabíamos que a experiência naquele lugar havia ultrapassado o inumano.

Cuidado, os mortos começaram a se adaptar”, arrepiei-me quando as palavras saíram secas dos lábios da jovem, pontuando meu subconsciente. Atentei-me ao morto-vivo que saiu dos arbustos rasteiros próximo a estrada, um adolescente de estatura média e olhos leitosos fincados em mim, arrastando-se feito uma lesma.

Por favor, vingue-nos”, o latejar na minha cabeça pareceu causar um tremor desesperador e sufocante. Observando aqueles orbes, senti uma brisa fria e desenfreada passar centímetros do meu rosto quando a lâmina nas mãos de Jimin atravessou o crânio do desalmado.

O impacto fez um baque enxuto e alto, como um tambor desafinado. O rosto antes consumido pela podridão, agora se escondia na neve, dando fim ao nosso contato visual. Embora o ser tenha sido abatido, a angústia continuava me assolando de modo a parecer uma perda próxima.

— Estamos perto — Yoongi disse, segurando o mapa local. Engoli o terror, esboçando um sorriso costumeiro àquele tipo de situação. — Falta apenas um quilômetro para Celestial Anchor.

— “Apenas” um quilômetro — Hoseok ironizou, fazendo aspas com os dedos indicadores ao pronunciar a primeira palavra lentamente. — Estamos na porra do Polo Norte do Paraguai, caralho! Estou congelando! — revirou os olhos, esfregando as mãos uma na outra.

— Na verdade, se considerássemos realmente sua suposição… — Sehun pausou os passos por alguns segundos e colocou o dedo indicador sobre o queixo, parecendo buscar o discurso perfeito para refutar o médico. — Pela época, estaríamos presos na noite ininterrupta dos longos seis meses conhecido como sol da meia-noite, ou simplesmente situados metros abaixo da neve, congelados — finalizou, convicto que seu argumento soou melhor do que havia planejado.

— Céus! — O médico revirou os olhos. — Não sabe o significado de ironia, pigmeu? — Bufou.

— Derrotado por um adolescente — Sehun olhou-o de soslaio, enquanto afinava a voz para se aproximar ao timbre da personagem que usou para fazer a piada.

— O que é um peido para quem está na merda? — Taehyung se materializou atrás dos rapazes, buscando evitar que o médico prolongasse a discussão sem sentido. Fitou-me enquanto escondia a risadinha deferida após a frase.

Boa” gesticulei com os lábios mudos.

— Como está se sentindo? — Jimin sussurrou, entrelaçando os dedos nos meus.

— Acredito que bem — respondi, esquivando-me do olhar preocupado dele.

Na verdade, tudo estava confuso e desmoronando gradativamente.

— Poderia estar pior, não concorda? — Tentei ser otimista, mesmo que meu tom me entregasse. Honestamente, eu me sentia estranho, como se minha alma não estivesse mais alinhada ao meu corpo. Outrossim, poderia assemelhar aquela sensação de calmaria antes da tempestade. Era estranho, mas conseguia senti-la.

— Fique despreocupado comigo, meu amor. — Virei-me para Jimin e selei sua testa avermelhada e estranhamente quente.

— Vocês parecem almas gêmeas — Sehun disse, antes de pular como uma criança atrás de Hoseok para um novo debate.

Alvorecer Mortal  »  JK + JMOnde as histórias ganham vida. Descobre agora