SEVEN

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Era completamente utópico observar aqueles fios loiros se desvincularem da amarra frouxa de um coque desajeitado. Mas o garoto de bochechas coradas abaixou um pouco mais a cabeça, permitindo todo o ar ao nosso redor não passar de apenas uma barreira invisível que nos impedia de prosseguir. Talvez conseguisse dizer que houve uma vez que estive próximo àquela maneira com alguém, sereno e extasiado, porém estaria fabulando. Embora fosse rotulado como um adolescente sociável e atleticamente popular durante todo período escolar, não existia uma pessoa que conseguisse estagnar quaisquer sinais de palavras de minha boca e fazer os pulmões implorarem para expelir um punhado de ar para embriagar-nos unicamente. A palidez astuta tornava-se ainda mais avermelhada quando Jimin mordeu os lábios novamente, como se desejasse o toque árduo e doce tanto quanto eu. O garoto poderia ser considerado o exato significado de bipolaridade, ou melhor dizendo, dualidade. Ora rabugento, ora assemelhado a um anjo, talvez um anjo endiabrado?

Deixe disso, Jeon Jungkook!

Jazia a íris que se afundou perpetuamente em meio ao oceano negro de meus olhos, feito um ser hipnotizado. Jamais imaginei que as orbes que julguei serem ridículas, como cada centímetro do corpo, iriam refletir o brilho da pele alva de Jimin. Por um momento, os devaneios delicados se interromperam por causa de um longínquo grunhido que fora emitido do outro lado da vegetação, seguido por um baque mudo de algo o desfalecendo.

— O que pensa que está fazendo? — Empurrou-me com força para trás e senti uma leve formigação ao atingir alguma espécie de pedra minúscula, daquelas que pisamos quando estamos correndo pelo quintal e formamos uma careta por nos esquecermos de usar chinelos. A feição de Jimin foi de reprovação a preocupação em uma mínima fração de segundo, confundindo-me ainda mais.

— Como saiu? — indaguei, passando a mão por cima dos fios que tampavam a área dolorida, enquanto ajeitava-me, ao lado do rapaz, para alinhar a coluna que também sofria por dores.

— Sequer entrei. — O tom de Jimin era terrivelmente baixo e envergonhado. — Aliás, estou aqui graças a ti. Seu plano de tampar todo o meu corpo funcionou — disse, esboçando um riso sarcástico por ter realmente compreendido o plano. — Não vasculharam por completo o veículo. Talvez acreditasse que era apenas você na parte traseira ou são apenas incompetentes. — Disparou outro sorriso, mas desta vez, de maneira que seus lábios fossem vangloriados pelas filipetas da cintilação noturna. — Permaneci deitado por horas, quase entrei em pânico por não conseguir mover as pernas sem que parecessem fantoches adormecidos. — Alinhou o torso e, tentando se levantar, chocou as costas em meu abdômen. Pigarreou, abafando com as mãos o ruído quase alto. — Desculpe. — Respirou profundamente. — Encontrou alguém?

— Apenas Yoongi. — Apontei pela estreita passagem por onde atravessei, mesmo que fosse difícil enxergá-la no breu distante. — Está no porão. — Apoiei as mãos no tronco atrás de mim, para me levantar. — E você?

— O último a ser levado para dentro foi... — Franziu o cenho, repousando os dentes sobre o lábio inferior, como se desejasse esconder aquela informação.

Medo de dizer o nome de alguém que amo? Assustei-me com os pensamentos.

Jimin hesitou mais uma vez, fazendo a sensação de desespero reinar nos mais obscuros punhados de pensamentos. Um calafrio cortou-me a derme quando rememorei o ruído das tábuas sendo pontuadas após o som de um objeto afiado.

— Quem? — Olhei-o profundamente.
— Taehyung — respondeu, curto e ligeiro.

Eles não podem...

Escuro e angelical, o céu estava cintilante quando eu voltava do último treino da temporada de natação. Taehyung não se esquecera e fora ao meu encontro para que pudéssemos aproveitar a nova fase de minha vida: um período no qual não me mataria de tanto esforçar-me para encontrar a falsa felicidade de papai. Naquele dia, meu irmão comprou sorvetes para comemorarmos sua admissão como professor em um cursinho recém-aberto para adolescentes que queriam aperfeiçoar suas técnicas de desenho. Lembro-me de terminar o meu e roubar o restante que ainda tinha nas mãos de Taehyung, como penitência pela demora insuportável que fizera eu esperar, mesmo que a culpa não fosse sua. Ele deixou que eu o fizesse e sorriu satisfeito.

Alvorecer Mortal  »  JK + JMOnde as histórias ganham vida. Descobre agora