NINETEEN

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Enquanto Nam se encarregava de cuidar do rapaz que, embora por pouquíssimos instantes, acordou há uma hora, ainda cercado pelos delírios, Yoongi e eu circulávamos por entre os arredores. Para nossa surpresa, ela possuía um longo corredor que conectava uma simples loja de conveniência a uma sequência de depósitos, uns fechados, outros com frestas que estavam prestes a se abrir.
   O lugar era seguro e bem conservado, o chão de cimento estava bem varrido e algumas prateleiras bem organizadas, essas que possuíam condimentos vencidos e caixinhas cujos nomes estavam presentes em um pedaço de papel colocados em silver tape.

— Ei. — Yoongi pontuou as marcas de pneu que ainda fediam a borracha queimada e indicavam um fim em uma das portas metálicas entreabertas. — Quer checar?

O garoto mais do que nunca sabia minha resposta para tal pergunta. Ergui a faca há pouco devolvida por Namjoon junto a uma lanterna minúscula, e fiz um sinal apontando o dedo indicador para porta e para cima depois, sinalizando para que ele abrisse.
   O som seco do metal enferrujado pontuou-se quando a porta atingiu seu pico e se prendeu automaticamente no gancho no teto corroído pelo acúmulo de gotículas de chuva devido ao espaço aberto, sem uma claraboia de qualidade o mais razoável possível.
   Um morto-vivo bateu as mandíbulas do outro lado do depósito, um homem gordo de cinquenta e poucos anos mostrou os dentes amarelados enquanto caminhava lentamente em nossa direção, similar a uma lesma. Minha faca atingiu o desalmado que desabou, emitindo um ecoar desastroso considerando o peso que carregava em uma mochila presa a suas costas. Provavelmente, aquela fora a forma mais segura de manter-se vivo. Tolo, pensei fitando o morto encharcar o chão com sua massa encefálica cheirando a algo como um alimento fora da validade há semanas, quiçá anos. De onde estava, examinei o que parecia ser a lanterna de um veículo estacionado e coberto por uma lona fina, mas, grossa o suficiente para que a poeira não se acumulasse na lataria bem lustrada.

— Puta que pariu. — Yoongi, de pé no cimento frio, chocou-se com a belezinha preta estacionada bem no meio do ambiente.
   Sem contar duas vezes, o garoto correu para chamar Namjoon como se tivesse acabado de receber um prêmio, o que naquele momento, realmente poderia ser um.

Retirei completamente as lonas. Era um Ford Maverick V8 em excelente estado, este que brilhava em contato com os fios solares que conseguiam penetrar o local mal iluminado por algo que parecia um lampião, o que me fez perguntar: por quanto tempo aquele homem permaneceu vivo? Observei o espelhado bem ilustrado, arrastando os dedos pela lataria fria. Um sorrir animalesco no canto direito de meus lábios poderia ser visto ou percebido em um raio de dez metros.

— Por Deus, Jungkook! — Papai cruzou os braços, notoriamente irritado com os repetidos pedidos. — Se continuar enchendo minha paciência, não darei nada. — Engoliu um pouco do líquido preto.

— Então isso significa que eu ganharei mesmo um Maverick? — Dei um salto, como se aquilo fosse a melhor coisa do mundo e, para mim, realmente era.

De longe, aquele era o modelo de automóvel que mais me atraiu em toda a minha vida, consequência das revistas automobilísticas que era obrigado a folhear durante os quarenta minutos até ser atendido pelo doutor Echo, meu dentista.

— Talvez. — Papai revirou os olhos, embora escondesse um sorriso misterioso, o que me deixou com uma pulga atrás da orelha por meses.

— E quanto a mim? — Taehyung berrou, enquanto mantinha os olhos fixos em seu filme favorito: Sociedade dos poetas mortos, um longa-metragem que foi lançado no ano de 1990. Meu irmão não perdia a oportunidade de repetir uma dose do drama que parecia repor todas as suas energias, como uma pessoa revigorada após um demorado banho aquecido depois de um dia exaustivo.

Alvorecer Mortal  »  JK + JMOnde as histórias ganham vida. Descobre agora