TWENTY FIVE

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No ápice vasto e tempestuoso fragmentado pelas sensações explodindo não somente em meu subconsciente como percorrendo e perfurando cada parte de meu corpo gradativamente, jamais saberia distinguir o que sentia com exatidão, pois nada parecia aceitável. Amor? Saudades? Ódio? Ou apenas frustração? Indaguei-me, como se precisasse de uma resposta imediata para a tempestade que formava acima de mim. Por mais que tentasse buscar explicações profundas em meu peito, não conseguia descrever nada durante aqueles longos infinitos segundos, talvez minutos. Dúvidas surgiam com uma frequência cada vez mais desesperada.

— Papai? — sussurrei para mim mesmo, enquanto segurava-me para conter as lágrimas criadas momentaneamente. Todavia, meu esforço foi inútil, já que elas rolaram calorosas e sem algum sentido. — Não pode ser real. Ele estava...

— Do que está falando, Jungkook? — Taehyung me observou confuso o suficiente para olhar de soslaio o carro parado há alguns metros, cerrou os olhos que tremulavam mediante à constatação. — É o... papai?

— Sei o que está pensando — disse, evidenciando a vontade controlada por uma segurada no pulso de meu irmão. Taehyung estava tentado a correr em direção ao papai e eu compreendia suas motivações, mas era perigoso. — Mas, por hora, é melhor nos mantermos vivos — proferi, levando em consideração uma nova horda de desalmados perambulando em nossa direção.

— Se não estou enganado, podemos seguir por aqui — Junmyeon disse, convicto de que aquela poderia ser uma boa opção ao manter seus olhos aprisionados em uma passagem entreaberta, próxima à vegetação, algo similar a um pequeno armazém esquecido.

Troquei olhares com Jimin, ao passo que corria dos gemidos enferrujados como uma manada que parecia sair direto do solo, assistindo aos cadáveres cobertos por uma fina camada de terra se arrastarem por entre a pequena vegetação por onde caminhávamos, seguindo o guia que realmente conhecia os pontos, pois sequer precisou de mapa para atingirmos a portinhola de madeira com uma maçaneta vista de longe. Dentro dela, pude visualizar o balcão revestido por uma pedra barata o suficiente para se manchar com as marcas dos copos que um dia foram colocados sobre ela. Esta pontuava um armário de carvalho bem polido com bebidas acessíveis alinhadas de uma ponta a outra. Por outro lado, as cadeiras de tecido felpudo e as toalhas bordadas pareciam custar mais do que o lugar poderia pagar. Um bar, esbocei um sorriso curto quando fechamos a porta atrás de nós. Para garantir que nenhum ser morto cogitasse entrar, empilhamos os assentos antes espalhados pelo local, na passagem, junto a qualquer outro objeto pesado para manter os alvoroçados do lado de fora. Espero que aguente, todos jogaram-se no chão, cansados. Não os julgava, aquele parecia um típico dia onde começávamos uma nova rotina mesmo tendo a certeza que seria deveras exaustiva.

Jimin recostou próximo à janela, preso ao horizonte lindo e, ao mesmo tempo, endiabrado. — Você está bem, amor? — Abracei-o por trás, verificando alguns arranhões na lateral esquerda de seu pálido rosto e marcas roxas no pescoço.

— Sim, não precisa se preocupar, vida. —  Delineou um sorriso exausto, porém belo como de costume. Seus olhos amontoavam-se de olheiras e os fios umedeciam com o suor brotando em minúsculas gotas em sua testa. O loiro virou-se e colou nossos lábios. O gosto de seu beijo parecia mais doce e intenso. — Não quero perdê-lo, Jeon. — Afastou-se e aprisionou suas orbes às minhas.


— Não irá. — Depositei um selar em suas bochechas rosadamente empoeiradas. — Eu prometo.

— Vocês são um casal muito meloso — Yoongi disse, entregando-me uma garrafa de água mineral.

— E você deveria ser assim, Sr. Min — Hobi repreendeu o namorado, dando-lhe um tabefe no braço.

Do lado de fora os grunhidos mantiveram-se por pelo menos trinta minutos até começarem a se dissipar vagarosamente, mas ainda rodeando completamente o armazém, tendo uma consciência, embora morta, que haviam pessoas vivas ali. Certa vez li em um texto com informação que jamais esqueci durante uma prova cansativa. Os rostos são objetos oníricos, ou seja, fazem-nos sonhar. Agora me perguntava se o significado poderia permanecer ao julgar os olhares como bolas de gude esbranquiçadas. Poderia eu decifrá-las mesmo sem vida?

Alvorecer Mortal  »  JK + JMOnde as histórias ganham vida. Descobre agora