THREE

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A dor que aflorou algum tempo após ser atingido era tênue e pontuava-se em picos, similar a um martelo, encontrando repetidas vezes um prego. Engoli a seco, enquanto levantei a cabeça que pareceu tremer quando a virei para os lados tentando visualizar o local com precisão. A solidão então me abraçou. Franzi o cenho ao ouvir a série de passadas desniveladas que rompiam o silêncio do ambiente. Sentei-me, permitindo aos papéis, folhetos da campanha para o novo presidente Joseph Kim, um mauricinho que jurou trazer a paz, mas que se tornou um grande inútil como todos os outros, tendo como primeiro ato a compra de uma mansão no valor de quinhentos milhões, serem pisoteados. Pensei nas possibilidades de para onde aquele homem havia sido levado, possivelmente teria uma área protegida, não é? Cerrei os lábios pouco escuros devido ao coágulo sanguíneo, causado pela maneira brusca que caíra segundos depois. Entretanto, jamais estaria pior do que a situação devastadora dos filetes de sangue seco sobre a testa pela qual eu passara.

— Taehyung? — sussurrei.

O odor forte de carne podre competia contra a fumaça, de mais algum foco de incêndio, que atravessava a janela quebrada. Se eu pudesse descrever a sensação que aquele lugar me passava, voltaria a uma série que acompanhei desde seu início em 2010, The Walking Dead, e afirmaria sentir que estava preso na prisão, sem qualquer rastro de alma para ajudar-me, como meu personagem favorito da trama. Glenn, nunca pensei que viveria a mesma cena que você, suspirei profundamente. Levei minha mão à cabeça no momento em que esta pareceu querer zarpar. Respirei, contentando-me com a força trêmula.

  Existia apenas uma porta para a profundidade daquele lugar, fitei todo o ambiente. Não há erros. Com a pistola apontada para frente, mirada para o destino pelo qual o passadiço atrás do metal enferrujado poderia levar-me. Onde você está, Taehyung? Novamente soltei um suspiro para controlar o desespero de minhas narinas ao serem enxurradas pelo cheiro insuportável da morte. O coturno deslizou sobre o líquido espesso, fazendo o piso de cimento queimado tornar-se ainda mais pegajoso quando dei outro passo. Aquele odor podre mostrou-se cada vez mais forte, confrontando diretamente meu nariz. Caçando apenas o necessário para me guiar ao final daquela cena, abaixei-me e, com a ponta do dedo indicador, toquei o conteúdo viscoso e vermelho diante à pegada lamacenta de mesmo tom logo à frente.

Sangue?

Taehyung?

O pior transbordou em minha mente feito fotografias de momentos da nossas vidas quando um feixe minúsculo e lesto de luz semelhante a um flash de celular transpassou minhas pupilas que se cegaram pela branquitude. As sombras do outro lado vagavam feito um fogo de sobrevivência. O estrépito sagaz de uma lâmina afiada penetrando a carne em um headshot perfeito, amolecida pela decomposição e, por fim, o corpo desfalecido sobre o piso acinzentado que se estendia até a sala à minha frente. Uma interrupção no caminhar silencioso aflorou um calafrio na espinha e a quietude ensurdecedora regressou. Fitei a fulgência do sangue arterial seguindo por baixo da porta. Abri-a desesperado e me atentei às mãos quando o calibre 38 foi apontado para a minha cabeça.

— Porra, Jungkook. — Abaixou a pistola, finalmente voltando a encher os pulmões eufóricos. — Não me assuste desse jeito.

— Não me assuste você, seu imbecil! — A palma da minha mão atingiu seu braço. — Por que me deixou sozinho?

— Achei que você se virava sozinho. — Sorriu com um ar maléfico, como se fosse divertido me ver daquele jeito. — Vim buscar suprimentos. — Apontou para os enlatados sobre o balcão. — O que está esperando para me ajudar?

Alvorecer Mortal  »  JK + JMOnde as histórias ganham vida. Descobre agora